Pelo segundo ano consecutivo, o mercado de trabalho de Porto Alegre e região metropolitana apresentou comportamento negativo. Os dados de 2016 - apresentados na Pesquisa de Emprego e Desemprego da Região Metropolitana de Porto Alegre (PED-RMPA) da Fundação de Economia e Estatística (FEE) nesta quarta-feira (25) - apontam que houve retração de 4,7% do nível ocupacional e uma diminuição de 83 mil ocupados, a mais intensa de toda a série histórica da pesquisa, desde 1993.
Assim como ocorreu em 2015, a taxa de desemprego total registrou acentuado crescimento, passando de 8,7% em 2015 para 10,7% em 2016, acrescentando 33 mil pessoas no contingente de desempregados (estimado em 202 mil indivíduos).
O rendimento médio real dos ocupados também apresentou forte redução em 2016, comportamento que havia se verificado também no ano anterior, com quedas de 8,0% para os ocupados e de 7,3% para os assalariados. Em 2016, o rendimento médio real passou a corresponder a R$ 1.945, e o salário médio real, a R$ 1.905, sendo o menor salário médio real desde o início da série em 1993.
De acordo com os dados, houve redução em todos os setores da atividade econômica: nos serviços (menos 52 mil, ou -5,2%), na indústria de transformação (menos 21 mil, ou -7,2%), no comércio; reparação de veículos automotores e motocicletas (menos 4 mil, ou -1,2%) e na construção (menos 1 mil, ou -0,8%). A retração do nível ocupacional deveu-se à diminuição do emprego assalariado (menos 83 mil, ou -6,6%), determinado pela redução no setor privado (menos 61 mil, ou -5,8%) e no setor público (menos 21 mil, ou -9,8%).
No âmbito do setor privado, ao contrário do verificado no ano anterior, houve retração do assalariamento com carteira assinada (menos 63 mil, ou -6,6%) e aumento no sem carteira assinada (mais 2 mil, ou 2,2%). Em relação aos demais contingentes, observou-se aumento dos empregados domésticos (mais 2 mil, ou 2,2%) e redução para o agregado outros (menos 2 mil, ou -1,1%), que inclui empregadores, donos de negócio familiar, trabalhadores familiares sem remuneração, profissionais liberais, etc. Já os trabalhadores autônomos, apresentaram estabilidade.
O desempenho negativo do mercado de trabalho se evidenciou em todos os aspectos que envolvem a pesquisa. De acordo com a economista da FEE Iracema Castelo Branco, esse resultado expressa a conjuntura recessiva da atividade econômica. "Caso não tivéssemos a diminuição da força de trabalho com a saída de 50 mil pessoas do mercado de trabalho, a taxa de desemprego teria sido ainda mais elevada".
Ela destaca que a População em Idade Ativa (PIA) — indivíduos com 10 anos ou mais — apresentou variação positiva de 0,4% em 2016, chegando a 3.556 mil indivíduos. Já a PEA, que corresponde à força de trabalho, ou seja, à parcela da PIA que se encontra ocupada ou desempregada, evidenciou redução (-2,6%), passando para 1.888 mil pessoas. Em decorrência desses comportamentos, a taxa de participação diminuiu de 54,7% em 2015 para 53,1% em 2016, situando-se no menor nível de toda a série histórica da Pesquisa”, explica.
De acordo com Iracema os dados revelam que os postos de trabalho que estão sendo eliminados são aqueles de maior qualidade, como o assalariado com carteira assinada, “indicativo de um processo de precarização do mercado de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre”.