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Economia

- Publicada em 10 de Janeiro de 2017 às 20:10

Canto da sereia

Benjamin Steinbruch é diretor-presidente da CSN e presidente do conselho de administração da empresa

Benjamin Steinbruch é diretor-presidente da CSN e presidente do conselho de administração da empresa


Folhapress/Arquivo/JC
Nunca a frase célebre de Tom Jobim "O Brasil não é para principiantes" foi tão adequada para o país. A crise econômica atual não deixa espaço para amadorismos. Exige um combate feroz, profissional e técnico.
Nunca a frase célebre de Tom Jobim "O Brasil não é para principiantes" foi tão adequada para o país. A crise econômica atual não deixa espaço para amadorismos. Exige um combate feroz, profissional e técnico.
Os dados do desemprego são assustadores, não se pode brincar com eles. Saíram em meio às festas de fim de ano e não foram tratados com seriedade. O País perdeu, em 12 meses, até novembro, quase 2 milhões de vagas e tem 12,1 milhões de pessoas sem trabalho, sobrevivendo só Deus sabe como.
Chama a atenção um detalhe importantíssimo dessa estatística: do total das vagas perdidas, 1,026 milhão de empregos desapareceu na indústria.
Isso é reflexo da recessão e principalmente do processo acelerado de desindustrialização vivido pelo País, com o fechamento de empresas e redução de produção.
Costuma-se considerar essa tendência como natural, pela qual passaram todos os países desenvolvidos. A desindustrialização é uma espécie de etapa seguinte ao ápice do processo de industrialização, com a transferência de trabalhadores do setor industrial para o de serviços.
Uma excelente "Carta do Iedi", publicada no fim do ano, mostra o Brasil envolvido em um processo de "desindustrialização prematura", semelhante ao de outros países da América Latina, como Argentina, Chile e mesmo México.
Com base em dois trabalhos, da Cepal e da Unctad, a "Carta" observa que os países hoje desenvolvidos começaram a dar sinais de desindustrialização quando suas rendas per capita atingiram entre US$ 10 mil e US$ 15 mil, enquanto, no Brasil, isso se deu, nas últimas décadas, quando a renda atingiu pouco mais de US$ 5 mil. Ou seja, antes de a industrialização atingir o seu ápice.
Além disso, diferentemente do que ocorreu em países desenvolvidos, a mudança estrutural se dá para serviços de baixa produtividade, como as áreas de produtos naturais, e não para alta tecnologia. Isso explicaria o fraco crescimento do Brasil e de outros países latino-americanos nas últimas décadas.
Segundo a Unctad, desde a Revolução Industrial, nenhum país alcançou a transformação da pobreza rural em prosperidade industrial sem fazer uso de política industrial.
Não se pode, portanto, cair no canto da sereia de que o processo de desindustrialização vivido no País é natural. É ingênuo achar que o setor pode se recuperar sem apoio de políticas industriais. Mesmo em períodos recentes, constata a Unctad, quando se difundiu a ideia de que a política industrial era fonte de distorção do mercado, os países desenvolvidos continuaram usando políticas especiais para acelerar ou aprofundar suas trajetórias de industrialização.
Infelizmente, a indústria terminou 2016 muito mal. Houve um crescimento discreto de 0,2% em novembro sobre outubro, mas a queda de produção no ano atingiu 7,1%. Esse número, somado à queda de 8,3% de 2015, indica uma retração da ordem de 15% em dois anos.
A indústria brasileira precisa de socorro, sem preconceitos: apoio à acumulação de capital, acesso a crédito com juros civilizados, programas de compras governamentais, políticas macroeconômicas e fiscais estimuladoras de crescimento, taxas de câmbio que deem competitividade à produção e escolha de setores com prioridades e sob controle de desempenho.
Não há outro caminho. Entregue à própria sorte e sob a patrulha neoliberal, a indústria continuará com a sensação estampada em outra frase de Jobim, com Vinícius: "Tristeza não tem fim...".
Diretor-presidente da CSN e presidente do conselho de administração da empresa
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