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Energia

- Publicada em 22 de Janeiro de 2017 às 21:47

A dura missão de recuperar a Eletrobras

Apesar da valorização, que fez da estatal uma holding de R$ 30 bilhões, mas ainda distante dos R$ 44 bilhões de 2010

Apesar da valorização, que fez da estatal uma holding de R$ 30 bilhões, mas ainda distante dos R$ 44 bilhões de 2010


FABIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR/JC
A ideia era cumprir os últimos dias na presidência da CPFL Energia e seguir carreira de conselheiro de empresas. Mas uma proposta desafiadora mudou os planos do então presidente da empresa paulista, Wilson Ferreira Júnior. Pouco antes de completar o processo de sucessão na companhia, ele foi convidado para comandar a estatal Eletrobras, uma das maiores empresas de energia elétrica da América Latina e que estava praticamente quebrada.
A ideia era cumprir os últimos dias na presidência da CPFL Energia e seguir carreira de conselheiro de empresas. Mas uma proposta desafiadora mudou os planos do então presidente da empresa paulista, Wilson Ferreira Júnior. Pouco antes de completar o processo de sucessão na companhia, ele foi convidado para comandar a estatal Eletrobras, uma das maiores empresas de energia elétrica da América Latina e que estava praticamente quebrada.
Com experiência de mais de 18 anos à frente da CPFL, a primeira reação foi olhar o balanço da estatal. Os números eram péssimos e o cenário, caótico. Envolvida na Lava Jato, a empresa, com uma dívida gigantesca, estava com as ações suspensas na Bolsa de Nova Iorque. Mas, mesmo com esse amontoado de problemas, o executivo resolveu enfrentar o desafio.
Menos de um mês depois, ele já ocupava a ampla sala do 13º andar do edifício Herm Stoltz, no Centro do Rio de Janeiro, com a missão de colocar a casa em ordem. Ali, de frente para a igreja da Candelária, se deparou com a real situação da empresa - aquela que não aparece nos números do balanço, como o excesso de burocracia, a exagerada ineficiência e a estrutura inchada.
"Era difícil saber por onde começar", lembra Ferreira Júnior, que completa, nesta semana, seis meses à frente da estatal. Nesse período, as ações da empresa voltaram a ser negociadas na bolsa americana e o valor de mercado da estatal começou a reagir. Quando foi anunciado presidente da holding, a Eletrobras valia cerca de R$ 12 bilhões. Hoje esse valor está na casa de R$ 30 bilhões, uma valorização de 150%, mas ainda distante dos R$ 44 bilhões de 2010.
Apesar da trégua do mercado financeiro com a empresa, os indicadores ainda são muito ruins - resultado de décadas de desmandos políticos. O grau de alavancagem, medido pela relação entre dívida líquida e Ebtida (geração de caixa), é de 8,9 vezes e a dívida, de R$ 45 bilhões. "Na CPFL, esses indicadores eram de três vezes e
R$ 15 bilhões (respectivamente). A CPFL tinha os maiores índices de produtividade. A Eletrobras, um dos menores", compara o executivo, que nos últimos meses tem trabalhado em ritmo chinês. Começa às 8h, almoça no prédio da estatal e sai às 21h. Isso quando não está viajando entre as sedes das subsidiárias da Eletrobras, como Pernambuco e Rio Grande do Sul.
A carga horária insana se justifica. A situação exige celeridade - e medidas impopulares. Cercado por especialistas renomados no setor, ele costurou amplo plano de reestruturação que tem incomodado muita gente, em especial nas controladas. Até hoje, as subsidiárias (Furnas, Chesf, Eletronorte e Eletronuclear) tinham vida independente e pouco reportavam à holding.
Com a reestruturação, as empresas do grupo terão de seguir um rito de corte de custos e enxugamento da estrutura ditados pela controladora. Para começar, haverá a redução das chamadas funções gratificadas - funcionários que são designados em caráter transitório para desempenhar atividades de assessoria e de gerência. Por causa disso, recebem uma gratificação que pode variar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por mês. Depois de um período, essa gratificação começa a ser incorporada ao salário.
Só na holding havia 228 posições gratificadas na área de gerência. De novembro para cá, esse número foi reduzido para 99. "Tínhamos quatro níveis hierárquicos. Decidimos ficar com três." No grupo todo, são 2.220 pessoas que agora estão sob a mira do executivo. Ainda neste primeiro trimestre, 30% dessas funções devem ser cortadas.
Junto a isso, haverá um Programa de Demissão Voluntária (PDV), que pode resultar no corte de 2,4 mil pessoas, e um plano de aposentadoria incentivada. Pelos estudos feitos até agora, cerca de 35% do pessoal da estatal teria idade para se aposentar. No total, espera-se reduzir de 23 mil para 12 mil o número de funcionários - isso inclui a privatização das distribuidoras da empresa, que têm 6 mil funcionários. Se conseguir implementar o plano, em 2018 a empresa teria uma economia de
R$ 1,7 bilhão.
A reestruturação também alcançou os desperdícios das subsidiárias na capital federal. Eletronuclear, Eletrosul, Furnas, Chesf e Eletronorte tinham escritórios em locais diferentes. "Reunimos todas num único prédio e vamos pagar um terço do que gastávamos", diz Ferreira Júnior. Segundo fontes em Brasília, as medidas têm provocado uma enorme choradeira pelos corredores do Congresso Nacional e do Planalto. Por ora, as medidas têm o aval do presidente da República, afirmam fontes do governo. "Hoje, somos o maior grupo de energia elétrica da América Latina. Agora, temos de ser o melhor", afirma Ferreira Júnior.
 

Dinheiro da venda de ativos será usado para reduzir dívida

Prioridade do novo presidente, Wilson Ferreira Júnior, é se desfazer das distribuidoras, cujas privatizações devem ocorrer no segundo semestre

Prioridade do novo presidente, Wilson Ferreira Júnior, é se desfazer das distribuidoras, cujas privatizações devem ocorrer no segundo semestre


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Desde que chegou ao comando da Eletrobras, em 26 de julho do ano passado, uma das principais metas de Wilson Ferreira Júnior é reduzir o endividamento e a alavancagem da empresa, de 8,9 vezes para quatro vezes a relação dívida líquida/Ebtida. Para alcançar esse número, uma série de ativos está à venda no mercado.
A prioridade é se desfazer das distribuidoras, cujas privatizações devem ocorrer no segundo semestre deste ano. Embora não espere arrecadar muito dinheiro com as vendas, a empresa teria uma folga de R$ 2 bilhões no balanço. Esse é o prejuízo que as concessionárias dão à holding todo ano.
As participações minoritárias que a Eletrobras tem em vários projetos Brasil afora também poderão ser vendidas, afirma Ferreira Júnior. Segundo ele, as controladas da Eletrobras têm participação minoritária em 178 Sociedades de Propósito Específico (SPEs), sendo 41 na área de transmissão e o restante em geração. E parte delas também será alvo de venda.
"A recomendação é que, em projetos que têm tag along (mecanismo de proteção ao minoritário), se o controlador de um projeto vender a participação, as subsidiárias também poderão se desfazer da participação", diz o presidente da Eletrobras. No caso dos parques eólicos, cujo volume de energia é menor, a estatal deverá reunir todos os projetos e fazer uma venda conjunta. "A ideia seria as subsidiárias entregarem esses projetos para abater dívida com a holding e a gente fazer a venda", diz o executivo.
Os ativos imobiliários do grupo também estão na lista de venda. A Eletrobras, por exemplo, tem um terreno que vale algo em torno de R$ 100 milhões, comprado no passado para fazer uma nova sede da holding. "Mas, nos dias atuais, isso não faz mais sentido. É muito mais vantajoso alugar um imóvel." Só no Rio de Janeiro, os ativos imobiliários poderiam render mais de R$ 200 milhões ao grupo. "Temos de nos focar em ser uma holding de geração e transmissão de energia."
O dinheiro das vendas será usado para abater dívida, especialmente os R$ 6 bilhões que a Eletrobras pegou nos últimos anos a taxas exorbitantes, entre 18% e 19% ao ano. É o que vai acontecer com o R$ 1,2 bilhão que a empresa receberá em fevereiro, referente à privatização da Celg, distribuidora de Goiás.
Para fazer frente aos investimentos, a empresa contará a partir de julho com os recursos da indenização pela renovação das concessões. São cerca R$ 17 bilhões que serão pagos durante oito anos. "A tarefa não é fácil. Temos de reduzir custo ao mesmo tempo que reduzimos dívida e fazemos os investimentos."

Em crise, espanhola Isolux busca se desfazer de ativos no País

Empresa garante que negociações estão em fase avançada de análise

Empresa garante que negociações estão em fase avançada de análise


ISSOUF SANOGO/AFP/JC
Dona de uma série de obras de linhas de transmissão de energia com atraso de mais de um ano e mergulhada em um processo de recuperação extrajudicial, a companhia espanhola Isolux tenta fechar a venda de seus ativos no Brasil com uma grande companhia de infraestrutura da Espanha, o Grupo Ferrovial.
A Isolux garante que a negociação, que teve início no último trimestre do ano passado, está em fase avançada de análise financeira e operacional (due dilligence), mas a empresa não conseguiu convencer a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de que a transação realmente vai para a frente.
Depois de aguardar por meses uma solução concreta, a Aneel tem defendido o cancelamento do leilão vencido pela Isolux e a retomada dos projetos, para que sejam novamente licitados em um leilão de transmissão ao longo deste ano.
Em 2015, a Isolux assumiu o compromisso de construir 686 quilômetros de linhas de transmissão em cidades do Pará e Rondônia, além de sete subestações de energia. Nada foi feito e, até hoje, a empresa sequer apresentou as "garantias de fiel cumprimento" das obras, documento indispensável para que os contratos sejam assinados. Ao todo, os espanhóis têm cinco contratos com obras atrasadas em relação ao cronograma. Um deles, que prevê a construção de uma linha de transmissão entre Taubaté (SP) e Nova Iguaçu (RJ), acumula mais de 1.200 dias de atraso.
A Isolux e o Grupo Ferrovial não quiseram comentar o assunto. O estado apurou que as empresas seguem em negociação. No fim de dezembro, os grupos informaram à Aneel que buscam uma "solução de mercado" para os projetos de transmissão. Representantes da Ferrovial tiveram um encontro com agentes da agência para tratar do assunto, garantiram que já têm acordo com um agente financeiro e que estavam em contato com o Bndes para tentar preservar as condições de financiamento do contrato original.
Na Aneel, o entendimento é de que as empresas não apresentaram mais do que um pacote de promessas, sem nenhum sinal concreto de que a transação vai se concretizar. Em comunicado à agência, a Isolux afirmou que não há "motivo para a Aneel ignorar a iminência de medida passível de atender o interesse público", porque a venda dos contratos para outra companhia "se apresenta como a opção mais célere e menos custosa".
Quando a Isolux venceu o leilão de 2015, com investimentos estimados em R$ 1,5 bilhão, não houve outro interessado na oferta das linhas de transmissão, o que impede o governo de chamar o segundo colocado na licitação, obrigando a Aneel a fazer uma nova oferta dos projetos.
A espanhola Isolux recorreu à crise de uma concorrente de sua própria terra natal para tentar justificar os desarranjos de seus projetos no Brasil. Ao discorrer sobre as dificuldades que enfrenta no País para contratar os seguros de seus projetos, papéis que o governo pode executar caso termos do contrato não sejam cumpridos, a Isolux culpou o imbróglio financeiro vivido pela espanhola Abengoa no País.
"A Isolux enfrentou dificuldades em obter garantias de fiel cumprimento no mercado de seguros para o segmento de transmissão, face ao pedido de recuperação judicial do Grupo Abengoa", declarou a empresa à Aneel, acrescentando depois que essas dificuldades também se devem ao processo de recuperação extrajudicial da própria Isolux Engenharia, braço do Grupo Isolux. A Abengoa não comenta sua situação no País. A empresa canadense Brookfield é uma das companhias que já chegaram a avaliar a aquisição dos ativos da Isolux no Brasil, mas paralisou as negociações no fim do ano passado.
Os projetos espanhóis de transmissão se tornaram um pesadelo para o governo brasileiro, que tem procurado alternativas para driblar os atrasos nas obras, principalmente aqueles de grande porte, como as da Abengoa. A empresa tem hoje 15 contratos de concessão firmados com o governo. Todos eles estão em processo de caducidade e sem previsão de serem concluídos. Desses contratos, nove já acumulam mais de 1.000 dias de atraso.
Na carteira de projetos da Abengoa está o chamado "linhão pré-Belo Monte", projeto de 1.854 quilômetros de extensão, estimado em R$ 1,3 bilhão e que foi vencido no fim de 2012 pela empresa espanhola. A fiscalização da Aneel aponta que o projeto, que tinha de ser concluído em fevereiro deste ano, não tem mais uma data prevista para ser concluída. Já são mais de 1.100 dias de atraso em relação ao cronograma previsto em contrato.
Sem uma solução fácil para a situação, o governo também torce por uma "solução de mercado" para os projetos da Abengoa. Em novembro do ano passado, a empresa Equatorial Energia e o banco BTG Pactual se uniram para comprar os ativos da empresa. O valor global oferecido pelos ativos, a preços de 2015, era de pouco mais de R$ 1 bilhão. À época, a Equatorial declarou que "está sempre atenta às oportunidades de mercado" e o BTG Pactual não comentou o assunto. Os ativos seguem nas mãos da Abengoa.