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Opinião

- Publicada em 09 de Dezembro de 2016 às 17:15

Fidel, o indestrutível

A morte de Fidel deu-nos, ineditamente, o que seja a recuperação de um cânon no imaginário político do nosso tempo. Desfrutamos, neste último quinquênio, da convivência com o jogo feito, nada à lembrança, mas ao melhor cotidiano em um dado recado. A imagem icônica tornava-se intemporal na vigília da idade, do corte da figura, na moldura de uma definitiva contemporaneidade. A Cuba de Fidel viveu de uma saturação carismática em que os lances iam mais ao brio do gesto, do que, efetivamente, a contabilização de seus resultados.
A morte de Fidel deu-nos, ineditamente, o que seja a recuperação de um cânon no imaginário político do nosso tempo. Desfrutamos, neste último quinquênio, da convivência com o jogo feito, nada à lembrança, mas ao melhor cotidiano em um dado recado. A imagem icônica tornava-se intemporal na vigília da idade, do corte da figura, na moldura de uma definitiva contemporaneidade. A Cuba de Fidel viveu de uma saturação carismática em que os lances iam mais ao brio do gesto, do que, efetivamente, a contabilização de seus resultados.
Fidel pôde nos dar a resistência contra o mais violento dos capitalismos contemporâneos, no escarmento antológico do entreguismo-limite de Fulgencio Batista. Não lhe faltou a marca das tentativas e frustrações, a mostrar que, afinal, a chegada ao poder nada teve de um quadro de transações com o regime dominante, num refino da dependência. É o imaginário do confronto que não se entrega, acompanhado dos quadros vivos da luta, e no cenário da Sierra Maestra, em todo o simbólico do protesto, saído à força do interior da nação, e a se distinguir, por inteiro, de entreveros periféricos, num aguerrido da hora, e da sua possível e inócua repetição.
O que se deve, sem volta, a Fidel é o mais rigoroso liturgismo dessa revolução, em que, acima de tudo, é o gesto que conta e sacramenta o desfecho. Não se avalia o seu resultado pelas efetivas melhorias sociais e pelo avanço logrado na educação ou na saúde, mas por essa assunção, pelo povo, da coisa pública, e seu aparelho como o comunismo, já trabalhado pela História do século XX. Mas aqui Fidel emprestou o cânon da revolução, no que, hoje, a cidadania abriga no seu inconsciente coletivo. É nesse desempenho intransitivo e implacável que se acumularão as execuções ou os atentados à liberdade ou à informação. Mas esse terrível passivo não atingia o desfecho e o desenho da mudança. Estes brotaram, todos, da figura de Fidel e de seus apóstolos, no descampado do novo, ocupado pelo uniforme e o discurso, infindável a parada, e nunca a sua dispersão.
Membro da Academia Brasileira de Letras
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