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Viaduto Otávio Rocha

- Publicada em 12 de Dezembro de 2016 às 22:41

Remoção forçada revolta moradores de rua

Doralice, Oliveira, Raquel e Luís Fernando foram os únicos que permaneceram no viaduto

Doralice, Oliveira, Raquel e Luís Fernando foram os únicos que permaneceram no viaduto


JC
Dois dias depois da remoção dos pertences das pessoas em situação de rua que viviam sob os arcos do viaduto Otávio Rocha, na avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, apenas quatro delas arriscavam permanecer no local. Os objetos das cerca de 80 pessoas foram levados por caminhões da prefeitura, com supervisão da Brigada Militar. Durante a semana passada, os moradores receberam um aviso de que haveria uma comemoração em alusão aos 84 anos do viaduto e que, por isso, eles seriam transferidos para um abrigo.
Dois dias depois da remoção dos pertences das pessoas em situação de rua que viviam sob os arcos do viaduto Otávio Rocha, na avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, apenas quatro delas arriscavam permanecer no local. Os objetos das cerca de 80 pessoas foram levados por caminhões da prefeitura, com supervisão da Brigada Militar. Durante a semana passada, os moradores receberam um aviso de que haveria uma comemoração em alusão aos 84 anos do viaduto e que, por isso, eles seriam transferidos para um abrigo.
Nas duas noites que se seguiram, as habituais doações de comida não foram entregues. "Só trouxeram a sopa do Alemão, que mal dá pra encher a barriga", conta a guardadora de carros Raquel Naibert, que vive no viaduto há sete anos. "Quebraram tudo que tínhamos, acho que levaram para o lixão. Eles chegaram carregando tudo. Foi uma estupidez", explica. Tampouco receberam instruções a respeito de um local para onde poderiam se deslocar. "Estão por aí", resumiu Raquel, referindo-se às demais pessoas que ocupavam o viaduto.
O guardador de carros Jorge Oliveira, atualmente, possui um lugar para morar, junto com a esposa Doralice Coelho Silva, mas já viveu no viaduto e, por isso, está mobilizado. "Foi um roubo. A gente não tem nada, e ainda nos roubam. Levaram até um cachorro, que estava com um dos moradores há oito anos", lamenta. Oliveira explica que a pressão para que eles se retirassem vinha principalmente de associações de moradores e comerciantes da região. "Querem o viaduto para eles. Um dos comerciantes já falou que, se pudesse, tocaria fogo na gente."
Os vendedores reclamam que, devido à presença dos moradores de rua, as vendas caíram, uma vez que pedestres evitam caminhar pelo local. "Alguns vêm para cá para roubar. Daí, quem paga o pato é a gente. Hoje, não tinha ninguém aqui, e vimos dois assaltos", relata Raquel.
Na quinta-feira, os moradores de rua realizarão uma reunião na Praça da Matriz. Em seguida, caminharão até a Borges, com intenção de bloquear o tráfego em um protesto pacífico. Para os guardadores de carro, a promessa de uma vaga em abrigo não serve. "Queremos moradia ou aluguel, que não é pago há mais de um ano e meio. Em abrigo não dá, tem horário, tem regras, e deixam ficar no máximo três meses", justifica Oliveira. "Somos responsáveis pelo patrimônio dos outros. Se não fosse a nossa presença, tinha carro roubado aqui todos os dias", argumenta Luís Fernando Gonçalves, que estava há seis meses no viaduto e agora vive na Praça da Matriz.

Assistência social da prefeitura não participou de ação

A remoção foi coordenada pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), e a Fundação de Assistência Social (Fasc) não acompanhou a retirada das pessoas. O diretor da Divisão de Limpeza e Coleta do DMLU, Felipe Kowal, explica que a ação estava agendada desde o dia 2 de novembro, devido à realização do evento, e que não foi "pautada pela mídia". Kowal também garantiu que "não há interesse algum" em levar cachorros. "A pessoa disse que não o queria mais, e o fiscal colocou o animal no próprio carro pessoal", conta. "As pessoas têm o direito de ir e vir, mas não podem deixar pertences, elas precisam utilizar as políticas públicas oferecidas, como os albergues."
"A Política de Assistência Social trabalha com o estabelecimento de vínculos com as pessoas em situação de rua e não participa de nenhuma ação de retirada dessas pessoas como forma de higienização. A Fasc foi comunicada do evento, as ações das equipes de abordagem foram intensificadas durante a semana, na busca da sensibilização para que as pessoas viessem a acessar os serviços de assistência social", diz nota emitida pela Fasc. A fundação não se manifestou sobre o que será feito com relação a esses moradores.