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AMÉRICA DO NORTE

- Publicada em 23 de Dezembro de 2016 às 11:06

Estados Unidos: A maior potência mundial nas mãos de Donald Trump

Embora o republicano tenha aliviado o tom depois da eleição, imigrantes ainda correm o risco de deportações em massa

Embora o republicano tenha aliviado o tom depois da eleição, imigrantes ainda correm o risco de deportações em massa


DESK/AFP/JC
Em novembro deste ano, o mundo acompanhou com assombro a eleição do bilionário republicano Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, derrotando a democrata Hillary Clinton. Durante a longa campanha eleitoral, Trump fez declarações sexistas, racistas e xenófobas, prometendo inclusive a construção de um muro na fronteira com o México.
Em novembro deste ano, o mundo acompanhou com assombro a eleição do bilionário republicano Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, derrotando a democrata Hillary Clinton. Durante a longa campanha eleitoral, Trump fez declarações sexistas, racistas e xenófobas, prometendo inclusive a construção de um muro na fronteira com o México.
Para Eduardo Svartman, professor da pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), tudo que envolve o presidente eleito faz parte de um fenômeno midiático e político que está por ser compreendido. "O discurso antipoliticamente correto ou 'descivilizatório' se mostrou eficiente para conquistar o eleitorado conservador."
Como consequências imediatas da vitória de Trump, Svartman cita, no plano doméstico, o reforço do preconceito e da discriminação e, no plano externo, um primarismo que deverá aumentar a contestação da posição ocupada pelos EUA no sistema internacional. "Esse grupo de norte-americanos brancos, das regiões mais conservadoras, e empobrecidos devido à crise de 2008, responsabiliza grupos minoritários pela situação. Esse discurso fez com que votasse no candidato que se livraria do problema", comenta o professor da ESPM-Sul e diretor da plataforma educacional Audiplo, Fabiano Mielniczuk.
Nos dias que se seguiram à eleição, a promessa do muro acabou sendo descartada. No entanto, o bilionário chegou a afirmar que até três milhões de imigrantes ilegais e com ficha criminal seriam deportados. Mielniczuk acredita que deportações em massa podem ocorrer, uma vez que as medidas relacionadas à proteção dos imigrantes ilegais durante o governo de Barack Obama foram de natureza administrativa, e não estatutária. "Algumas diretrizes de Obama indicavam a necessidade de deportar pessoas sem documentação que tivessem antecedentes criminais, e não filhos de imigrantes levados ilegalmente aos EUA. Trump se empenhará em deportar imigrantes com problemas com a polícia, mas não medirá esforços para deportar quem estiver em situação ilegal", explica. Para Svartman, o número de deportações deve aumentar, afetando as relações com países exportadores de mão de obra, especialmente da América Central e do Caribe, e também do Brasil.
A eleição ocorreu em meio a alegações de que a Rússia realizou ataques cibernéticos para tentar influenciar o pleito. Uma possível aproximação de Washington com Moscou tem aumentado a tensão política no país. Porém, tanto Mielniczuk como Svartman veem com ceticismo a construção de uma aliança. "Houve trocas de declarações entre Putin (Vladimir Putin, presidente da Rússia) e Trump que entendo como movimentos para criticar Obama e Hillary. Os EUA patrocinaram a expansão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) sobre a zona tradicional de influência da Rússia, então as tensões são inevitáveis", avalia o professor da Ufrgs. Mielniczuk acredita em uma possível normalização das relações, abandonadas a partir da crise da Ucrânia e do acirramento da guerra civil na Síria. "Isso depende de um rearranjo nas outras alianças dos EUA, com os países do Oriente Médio e com os membros da Otan", acrescenta.
Ao contrário de Hilary, que deixou claro que não haveria negociação com a Rússia sobre a Síria, o republicano sempre defendeu que os interesses russos sejam, pelo menos, levados em consideração. "Pode haver uma maior negociação com a Rússia sobre a Síria e o combate ao Estado Islâmico", arrisca Mielniczuk. O governo Trump, de acordo com Svartman, estará mais disposto a se envolver com tropas em conflitos que o governo Obama, de modo que a tendência é a retomada da abordagem dos anos de George W. Bush (2001-2009).

Avanços do governo Obama podem sofrer retrocesso

Outro avanço do presidente Obama que pode sofrer um retrocesso é a aproximação com Cuba. Eduardo Svartman observa que sempre houve um movimento conservador contrário à reabertura das embaixadas e ao fim do embargo. O discurso de Trump foi bastante crítico às medidas tomadas por Obama com relação ao país, mas, de acordo com o professor Fabiano Mielniczuk, a morte de Fidel Castro oferece uma oportunidade para que o republicano mantenha a reaproximação. "Não se trataria de uma mudança de postura ou de quebra de promessa, mas sim de uma mudança no contexto das relações entre as duas nações", opina o professor da ESPM-Sul.
Trump também prometeu que irá revogar o acordo internacional sobre o programa nuclear do Irã, firmado em Viena, em 2015. Para o diretor da Audiplo, a revisão do acordo - o qual evita que o país árabe obtenha armas atômicas, garante que o programa nuclear seja usado apenas para fins pacíficos e, em troca, retira as sanções internacionais contra Teerã - mergulharia o Oriente Médio em uma crise mais grave. "Afetaria as alianças regionais dos EUA e reforçaria a aproximação entre o Irã e os países que veem Trump como uma ameaça aos seus interesses", reflete. Para Svartman, ainda é difícil saber até onde vai a retórica de Trump, e onde o cálculo geopolítico e a estratégia começam a se impor na conduta do novo governo. "Se os EUA pressionarem demais o Irã, isso poderá forçar uma aproximação deste país com a Rússia, ou uma resposta assertiva, como a construção de armas nucleares", alerta.
Muito do que Trump falou e prometeu durante a campanha pode acabar não se concretizando. Outra posição polêmica é o ceticismo do republicano com relação às políticas de combate às mudanças climáticas, e, para Svartman, a sinalização do novo governo é a de uma abordagem menos disposta a arcar com os custos da transição para uma economia de "baixo carbono". "Ainda é cedo para fazer previsões, uma vez que há setores influentes na sociedade que defendem essa pauta", acredita. Depois da eleição, Trump reconheceu a existência de uma relação entre mudança climática e atividades humanas e prometeu manter a mente aberta. "Parte do discurso se deu porque a campanha foi voltada para trabalhadores desempregados de regiões de exploração de carvão, que foram sendo desativadas durante o período de ativismo ambiental de Obama", pondera o professor da Ufrgs.

O primeiro escalão do governo

Justiça e procurador-geral dos EUA: Jeff Sessions, senador conservador, se opõe à recepção de imigrantes
Estado: Rex Tillerson, empresário, CEO da petrolífera ExxonMobil, recebeu honrarias do presidente russo em 2013
Diretor da CIA: Mike Pompeo, deputado pelo Kansas, defende maior vigilância das comunicações no país
Chefe da Agência de Proteção Ambiental: Scott Pruitt, procurador-geral de Oklahoma, ataca as políticas de Obama para combater as mudanças climáticas
Defesa: James Mattis, general, aponta o "islã político" como maior ameaça aos EUA
Saúde: Tom Price, cirurgião ortopédico e deputado pela Geórgia, defende o fim do Obamacare
Tesouro: Steven Mnuchin, produtor de cinema em Hollywood, sem experiência política
Comércio: Wilbur Ross, ex-banqueiro, defensor do corte de impostos
Embaixadora da ONU: Nikki Haley, filha de imigrantes indianos e governadora da Carolina do Sul, com pouca experiência em política externa
Educação: Betsy Devos, filantropista bilionária, defende escolas privadas como alternativa para o sistema público
Conselheiro de Segurança Nacional: Michael Flynn, foi demitido do gabinete de Obama entre 2012 e 2014 por discordâncias sobre o combate ao terrorismo