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- Publicada em 18 de Dezembro de 2016 às 20:12

Mudanças em cartões são vistas com ceticismo

Número de dias para administradora pagar lojista vai cair de 30 para 2

Número de dias para administradora pagar lojista vai cair de 30 para 2


VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Defendidas pelo varejo, as mudanças nos cartões de crédito e meios de pagamentos anunciadas como parte do pacote de estímulo do governo federal ainda são consideradas insuficientes para provocar o principal efeito desejado: o de redução dos juros ao consumidor final. Do lado das varejistas, a medida poderia abrir espaço para que redes consigam melhorar o caixa, reduzindo despesas financeiras.
Defendidas pelo varejo, as mudanças nos cartões de crédito e meios de pagamentos anunciadas como parte do pacote de estímulo do governo federal ainda são consideradas insuficientes para provocar o principal efeito desejado: o de redução dos juros ao consumidor final. Do lado das varejistas, a medida poderia abrir espaço para que redes consigam melhorar o caixa, reduzindo despesas financeiras.
De acordo com a apresentação feita na quinta-feira, dia 15, pela equipe econômica, o governo pretende reduzir o número de dias que as administradoras de cartão de crédito têm para pagar o lojista. Atualmente, o comerciante demora cerca de 30 dias para receber o dinheiro após a compra do cliente. A informação foi de que a mudança virá por medida provisória.
"Reduzir o prazo de repasse ao varejo vai diminuir o custo do dinheiro", analisa Honório Pinheiro, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Com o menor prazo, o varejo deixaria de ter a necessidade de utilizar o instrumento financeiro de antecipação de recebíveis, em que os lojistas pagam taxa aos bancos em troca de receber valores do cartão antecipadamente.
Por outro lado, há quem acredite que essa redução de despesa poderia não beneficiar o consumidor. "Tenho dúvidas se essa redução de preço chega na ponta, uma vez que os bancos podem ganhar de outras formas, seja nos juros, seja nas relações de empréstimo que fazem para o varejo", diz André Feltrin, da empresa especializada FFC Serviços Financeiros.
"É muito difícil avaliar como fica o efeito para o consumidor, afinal, não cabe ao governo interferir em taxas de juros", comenta o assessor econômico da Fecomércio-SP, Guilherme Dietze. "O lojista, em um cenário de crise, por mais que consiga reduzir seus gastos, talvez queira aumentar um pouco sua margem", conclui. A redução do prazo era uma antiga demanda do varejo, que vinha sendo levada ao governo por um conjunto de associações do setor, a União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs).
O desejo dos varejistas é que o prazo caísse para algo mais próximo do padrão de outros países do mundo: entre dois e três dias. A avaliação de especialistas, porém, é de que a efetividade da mudança ainda dependerá de um rearranjo nas relações comerciais entre varejo e bancos, o que leva tempo.
A necessidade de antecipação de recebíveis eleva despesas financeiras para o varejo, um gasto que se tornou representativo nos resultados das redes de comércio diante do patamar de taxa de juros no Brasil. Analistas consideram que grandes companhias poderiam usar de seu poder de negociação e posição de caixa estável para absorver essa vantagem de não ter que antecipar os recebíveis. Por outro lado, qualquer captura de ganho depende da relação com os bancos e de essa melhoria em despesas não ser compensada por aumentos de outras taxas de financiamento.
A mudança considerada mais certeira até aqui é a permissão da diferenciação de preços conforme o instrumento de pagamento. Com essa medida, o comércio poderá cobrar valores diferentes para clientes que pagam com dinheiro, boleto ou cartão. A queda de preços, porém, tende a não ser tão significativa em um ambiente em que o varejo sofre com alta de outros custos além da despesa financeira, como mão de obra e energia, por exemplo.
 

Alterações preocupam empresas menores, que ameaçam fechar as portas

Um dos emissores de cartão de crédito que mais cresce no País, o Nubank ameaça fechar as portas se o Banco Central confirmar, hoje, uma mudança drástica no prazo de pagamento das vendas aos lojistas. A cofundadora da empresa, Cristina Junqueira, afirma que reduzir de 30 para dois dias o prazo, como vem sendo ventilado em Brasília, vai representar o fim do negócio.
A intenção de mudar o prazo foi oficializada na quinta-feira pelo presidente Michel Temer e pelo Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, durante lançamento do pacote para impulsionar a economia. Atualmente, quando um consumidor paga algo com cartão, o lojista leva 30 dias para receber - prazo maior que o visto em outros países, como os EUA, onde a demora é de dois dias. Para o governo, o encurtamento do processo vai favorecer o varejista e contribuir para a retomada da atividade.
O problema, segundo Cristina, é que a mudança trará um custo adicional para todos os emissores de cartões de crédito, do Nubank aos bancos maiores, que dominam o mercado. A diferença é que o Nubank e os emissores menores não têm a mesma capacidade de financiamento de gigantes como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander.
"Atualmente, um cliente que usa o cartão pagará a fatura, em média, 26 dias depois. Assim, o Nubank, como emissor, receberá o dinheiro apenas após este prazo", explica Cristina. "Com o dinheiro, pagamos o adquirente (operador do cartão), que leva mais dois ou três dias para pagar o varejista. Isso dá o prazo de 30 dias", descreve.
A receita do Nubank, que já emitiu mais de 1 milhão de cartões desde 2014, vem de um percentual descontado do valor repassado ao lojista, de aproximadamente 5%. Cerca de 1,5% fica para o Nubank e o restante para a adquirente (como Cielo, Rede e GetNet) e para a bandeira (como Mastercard e Visa).
Se o prazo for encurtado para dois dias, alega Cristina, o Nubank terá de pagar o adquirente antes mesmo de receber o pagamento da fatura pelo cliente. Para isso, será preciso pegar recursos no mercado.
"Reduzir o prazo para dois dias seria apocalíptico para a gente", diz Cristina. Segundo ela, mesmo que o prazo fosse reduzido para 15 dias, e não dois, o Nubank não teria como sobreviver. "Nós já fizemos algumas simulações. Com dois dias é apagar a luz e fechar a porta. Com 15 dias, a gente precisaria de quase R$ 1 bilhão de capital adicional do dia para a noite."

Bancos lançam serviço igual ao das fintechs

A discussão sobre mudanças no setor de cartões no Brasil é mais uma disputa entre fintechs (startups da área financeira) e bancos. As fintechs vêm incomodando os grandes bancos com cartões de crédito sem anuidade. Com estruturas enxutas, elas conseguem oferecer produtos com custos baixos. Em reação, os bancos têm adotado modelos semelhantes. O Banco do Brasil e o Bradesco lançaram um sistema digital para venda de cartões, e o Santander anunciou a plataforma Santander Way, também para a área de cartões.