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Economia

- Publicada em 05 de Dezembro de 2016 às 22:47

Opinião econômica: Trump abala a propaganda

O publicitário Nizan Guanaes é dono do grupo de comunicação ABC

O publicitário Nizan Guanaes é dono do grupo de comunicação ABC


/JONATHAN HECKLER/ARQUIVO/JC
Os EUA têm a mais sofisticada indústria publicitária do mundo. Toda a revolução de dados e big dados nasceu no país. Mesmo assim, muitos especialistas erraram feio nessa eleição.
Os EUA têm a mais sofisticada indústria publicitária do mundo. Toda a revolução de dados e big dados nasceu no país. Mesmo assim, muitos especialistas erraram feio nessa eleição.
As campanhas democrata e republicana estavam montadas em máquinas publicitárias monumentais, que gastaram na casa do bilhão de dólares para promover seus candidatos. E, enquanto quase todos comeram bola, Trump acertou na mosca. O resultado foi uma surpresa enorme a não ser para os que, como Trump, estavam lendo para valer os dados.
Trump declarou que não duvidou nunca da vitória, pois, enquanto todos projetavam sua derrocada, suas redes sociais apontavam situação oposta, com novas adesões às centenas de milhares por dia na reta final. Trump dialogava diretamente com seus eleitores em canais proprietários como o Twitter e ainda ganhava cobertura intensiva da mídia com falas deliberadamente escandalosas que animavam e davam rumo à cobertura.
A eleição norte-americana provou, de uma vez por todas, que essa história de big data e só big data não fecha. É preciso ter inteligência e sensibilidade popular para ler os dados.
Essa ficha agora caiu, pesadamente. Publicitários e anunciantes confessaram ao "Wall Street Journal" que a vitória de Trump, entre tantas coisas, deve mudar a propaganda. Compreenderam que fica muita gente de fora da vida liberal e sofisticada estampada nas campanhas. Entre Nova Iorque e Los Angeles, há um mundo enorme que não estava sendo compreendido, que não estava sequer sendo lido.
Para essa enorme massa silenciosa (ou silenciada), o discurso politicamente correto e elitistamente inspirador de Hillary dizia muito menos às pessoas do que as aparentes "loucuras" de Trump, que de loucas nada tinham. Ele interpretou corretamente os dados sobre o eleitorado e fez campanha sofisticada. Suas barbaridades, que muitos viam como intempestivas e até suicidas, eram sempre bem calculadas.
Eu não estou endossando de forma nenhuma o que foi dito e defendido por Trump, muito pelo contrário. Minha preferência era outra. Só que é importante entender que sua estratégia teve, o tempo todo, mira clara. Ele sabia exatamente o que estava fazendo.
Enquanto os adversários perderam um tempo enorme atacando suas impropriedades em série (Hillary chegou a chamar seus eleitores de "deploráveis"), Trump calculou que seus seguidores relevavam coisas que ele reduzia a "conversas de vestiário".
Meu senhor e minha senhora, não estou endossando nada do que foi feito, mas é importante entender que não foi uma campanha mercurial e amalucada, mas inteligentemente calculada. O mundo de bom gosto sempre torceu o nariz para Trump e seus prédios dourados, horrorosos para arquitetos e clientes refinados. Só que esses são a minoria.
A grande mensagem (de comunicação) da eleição americana é que big data sozinho não resolve. É preciso razão e sensibilidade para compreender a alma humana do cidadão desglobalizado.
Depois da vitória de Trump, muito se falou dos evidentes erros da imprensa na cobertura eleitoral. Mas a propaganda também ficou em xeque. A propaganda que fala para si e não presta atenção às donas Marias e aos seus Josés foi questionada nessa eleição.
Encastelado no topo de sua torre em Manhattan, como um personagem de HQ da Marvel, Trump, o grande "entertainer", abala os pilares do mundo como o conhecíamos antes de sua eleição ao posto mais poderoso do mundo. Um desses pilares abalados é o da propaganda asséptica e cerebral, que fala consigo mesma, e não com boa parte das pessoas do mundo.
Publicitário e fundador do Grupo ABC
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