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Teatro

- Publicada em 07 de Dezembro de 2016 às 12:23

Apesar do descalabro,a criatividade nos salva

Porto Alegre vive, sem dúvida, seu pior período quanto ao apoio da prefeitura municipal ao desenvolvimento das artes cênicas: os espaços da Usina do Gasômetro estão caindo aos pedaços e não se vislumbra possibilidades de recuperação. O Teatro de Câmara está fechado há muito tempo: banheiros de uso impossível, forro arrebentado e caído no chão etc. Salvam-se razoavelmente as salas Alvaro Moreyra e Teatro Renascença, no Centro Municipal de Cultura, mas não sei durante quanto tempo. Se não há dinheiro nem para o 13º salário do pessoal concursado, o que dizer dos terceirizados? A Secretaria Municipal de Cultura deve, há mais de ano, algum dinheiro para atores que participaram ainda da edição de 2015 do Porto Alegre em Cena - imagine-se os débitos da edição deste ano...
Porto Alegre vive, sem dúvida, seu pior período quanto ao apoio da prefeitura municipal ao desenvolvimento das artes cênicas: os espaços da Usina do Gasômetro estão caindo aos pedaços e não se vislumbra possibilidades de recuperação. O Teatro de Câmara está fechado há muito tempo: banheiros de uso impossível, forro arrebentado e caído no chão etc. Salvam-se razoavelmente as salas Alvaro Moreyra e Teatro Renascença, no Centro Municipal de Cultura, mas não sei durante quanto tempo. Se não há dinheiro nem para o 13º salário do pessoal concursado, o que dizer dos terceirizados? A Secretaria Municipal de Cultura deve, há mais de ano, algum dinheiro para atores que participaram ainda da edição de 2015 do Porto Alegre em Cena - imagine-se os débitos da edição deste ano...
Por tudo isso, foi surpreendentemente criativa a iniciativa da Companhia In.Co.Mo.De-Te ao propor a montagem de Movimentos sobre rodas paradas no espaço do estacionamento do Teatro de Câmara, com o que a administração da casa felizmente concordou de imediato, porque era a oportunidade de utilizar, por mínimo que fosse, aquele simpático ambiente.
Venho do tempo da inauguração do Teatro de Câmara na administração Frederico Lamachia. Um antigo garajão fora transformado naquele simpático teatrinho, aí pelo ano de 1972. O então titular da Secretaria de Educação - Divisão de Cultura, que era tocada pela Rosa Maria Malheiros, dizia: se o teatro durar 20 anos, mais do que se pagou. O teatro tem durado mais de 40, portanto, está mais do que pago! Mas isso não autoriza que a atual administração municipal permita sua destruição...
Pois fui assistir, curioso, a este espetáculo eminentemente experimental. A assinatura do diretor Carlos Ramiro Fensterseifer antecipava curiosidade provocativa; a dramaturgia de Nelson Diniz prometia roteiro inteligente; e o elenco formado por Álvaro Rosacosta, Liane Venturella e o próprio Nelson Diniz dizia que teríamos um bom espetáculo pela frente.
Cheguei cedo: o pessoal da técnica anda afinava a luz. Foi bom acompanhar estes detalhes finais. Quando escureceu, de fato, o espetáculo começou. No espaço do estacionamento, placas de trânsito. Fitas amarelas e pretas interditavam certos movimentos. Dois automóveis estavam estacionados no espaço da encenação, um outro estava guardado na lateral do teatro. Eles logo se tornaram também espaço das representações. Cinco quadros foram, então, apresentados, aparentemente sem qualquer relação uns com os outros. Num primeiro, uma guia turística antecipa aos futuros viajantes - nós, espectadores - as delícias de um passeio a um lugar que refere indiretamente a cidade de Gramado. Tudo vai bem, até que o motorista da van que levará os viajantes, que é apaixonado por ela, resolve revelar a verdade aos ansiosos turistas, acabando com o passeio.
Numa transição quase imperceptível, teremos, sucessivamente - e daí os automóveis se tornam espaços das representações -, um homem que pretende matar a esposa mas é impedido pelo porteiro do prédio; um sujeito que é obrigado a dramatizar suas relações sexuais com a esposa; um motorista que odeia o patrão e chega a imaginar seu assassinato, mas é covarde quando se vê diante do homem etc. As cenas se sucedem e a gente não consegue ver como os atores se deslocam de um espaço para o outro, trocando de figurinos e já envolvidos com a nova situação.
Um pequeno e brilhante - especialmente bem afinado elenco - dá vida aos esquetes e envolve completamente o público, que se desloca de um espaço para o outro e sempre é surpreendido com o movimento dos automóveis que se tornam motivo, espaço e meio do desenrolar das ações.
Eis um belo espetáculo, divertido, simples, inteligente e que quebra padrões de dramaturgia e de encenação. Ainda bem que nossos artistas são criativos, porque nossas autoridades têm sido um desastre, ao menos, quando se trata de apoiar a cultura, no que não fariam mais que a obrigação! Mas nem a isso chegam...
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