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Cinema

- Publicada em 29 de Dezembro de 2016 às 22:14

Perdas e danos

O diretor Marco Bellocchio depois de um período de obscuridade, pelo menos no mercado exibidor brasileiro, voltou a aparecer com destaque nos últimos anos. Ele havia se destacado na década de 1960 com dois títulos: De punhos cerrados e A China está próxima e, mais tarde, em 1986, alcançou repercussão com O diabo no corpo, baseado no romance Raymond Radiguet que Claude Autant Lara já havia filmado em 1947, em trabalho exibido no Brasil com o título de Adúltera. Em anos recentes, Bellocchio voltou a aparecer com Bom dia, noite, Vincere, A bela que dorme e agora com seus dois novos filmes, Sangue de meu sangue, exibido há poucos dias, e agora este Belos sonhos. Os dois foram exibidos na Mostra de São Paulo deste ano, à qual o próprio Bellocchio compareceu. O mais recente também esteve na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Há, portanto, um interesse renovado pela obra do cineasta. Mas é necessário ressaltar que, mesmo merecedor de atenção, o cineasta está muito longe de alcançar a estatura dos gigantes que transformaram, no pós-guerra e até o final do século XX, o cinema italiano num dos maiores do mundo e também uma influência decisiva em várias escolas que depois surgiriam. Ele tem procurado, a se julgar pelos filmes que aqui foram vistos, ligar destinos individuais a problemas relacionados à vida política italiana. E agora, em Belos sonhos, sua ambição é maior, pois procura a ênfase em conflitos emocionais e estabelecer relações com os antivalores impostos aos seres humanos no mundo contemporâneo.
O diretor Marco Bellocchio depois de um período de obscuridade, pelo menos no mercado exibidor brasileiro, voltou a aparecer com destaque nos últimos anos. Ele havia se destacado na década de 1960 com dois títulos: De punhos cerrados e A China está próxima e, mais tarde, em 1986, alcançou repercussão com O diabo no corpo, baseado no romance Raymond Radiguet que Claude Autant Lara já havia filmado em 1947, em trabalho exibido no Brasil com o título de Adúltera. Em anos recentes, Bellocchio voltou a aparecer com Bom dia, noite, Vincere, A bela que dorme e agora com seus dois novos filmes, Sangue de meu sangue, exibido há poucos dias, e agora este Belos sonhos. Os dois foram exibidos na Mostra de São Paulo deste ano, à qual o próprio Bellocchio compareceu. O mais recente também esteve na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Há, portanto, um interesse renovado pela obra do cineasta. Mas é necessário ressaltar que, mesmo merecedor de atenção, o cineasta está muito longe de alcançar a estatura dos gigantes que transformaram, no pós-guerra e até o final do século XX, o cinema italiano num dos maiores do mundo e também uma influência decisiva em várias escolas que depois surgiriam. Ele tem procurado, a se julgar pelos filmes que aqui foram vistos, ligar destinos individuais a problemas relacionados à vida política italiana. E agora, em Belos sonhos, sua ambição é maior, pois procura a ênfase em conflitos emocionais e estabelecer relações com os antivalores impostos aos seres humanos no mundo contemporâneo.
Bellocchio não é um Visconti, mas seu novo filme procura distanciamento das simplificações. Baseado num relato autobiográfico do jornalista Massimo Gramellini, que foi um dos principais editores do La Stampa e um profissional interessado em política internacional e futebol, o diretor acompanha a trajetória edipiana de um ser humano, desde a infância até o momento em que, por ocasião da venda da casa paterna, é obrigado a enfrentar situações passadas não devidamente elaboradas e assim causadoras de angústia e sofrimento. O filme não acentua o conflito, embora este não esteja ausente, preferindo centralizar o foco na sensação de perda e desamparo geradas pela morte da mãe. Um mundo desmorona e o menino procura amparo em uma ficção que pouco ameniza o sofrimento. Ao que parece, Bellocchio tentou mostrar que, para o indivíduo expulso do cenário onde reinava a harmonia só resta conviver com a desumanidade, algo sintetizado na sequência desenrolada em Sarajevo, também marcado pelo tema da mãe morta, quando um fotógrafo encena um quadro no qual um dos participantes está mais interessado num brinquedo eletrônico. No epílogo, o protagonista não consegue esquecer o passado e a memória o coloca novamente sob a que para ele é a mais segura das proteções.
Há, portanto, em Belos sonhos, menos do que um embate uma dor imensa. Ao reconstituir o amor do personagem pelo Torino, o relato reforça o tema. O supercampeão que era a base da seleção italiana, a mais poderosa da época, desapareceu no acidente aéreo, chamado de Tragédia de Superga, em 4 de maio de 1949, quando o avião que retornava de Lisboa chocou-se com aquela basílica. Bellocchio chega a reconstituir a cerimônia anualmente realizada em homenagem aos mortos. É neste cenário que ele encontra o pai, então iniciando novo relacionamento. Mas o diretor tangencia o conflito, preferindo um caminho paralelo. A figura materna não é desenvolvida com profundidade e pouco se sabe sobre esta mãe que sofre em silêncio. E há também, em atmosfera de quase sátira, a cena do magnata que, ao abrir a porta para agentes da polícia federal italiana, percebe que não terá outra saída a não ser aquela encontrada pelo milionário que pensa ser verdadeira a brincadeira de Vittorio Gassman em Telefones brancos, de Dino Risi, filme ambientado na época fascista e no qual uma falsa notícia indica que serão presos todos os envolvidos em falcatruas. O filme de Bellocchio é baseado em fatos reais, o que certamente faz de tal momento um motivo para meditação.
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