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consumo

- Publicada em 12 de Dezembro de 2016 às 16:31

Temporada pré-Natal é de ganhos (e gastos) generalizados

Rotinas financeiras são alteradas com confraternizações, transporte e estética

Rotinas financeiras são alteradas com confraternizações, transporte e estética


PEDRO BRAGA/JC
O mês de dezembro é completamente atípico, recheado de comemorações e troca de presentes, mas também propício para desorganizar as finanças. Na economia doméstica, a característica do período é registar muitas saídas de recursos, pulverizadas em gastos extras. Na hora de fechar a planilha, não são apenas os tradicionais presentes, ceia e viagens que pesam. É preciso apontar também outros itens que têm peso importante e que se acumulam ao longo do mês. São o transporte para correr de casa para o trabalho a tempo de se arrumar para um evento (ou para conseguir fazer as compras sem perder compromissos) e o maior número de idas ao cabeleireiro, por exemplo.
O mês de dezembro é completamente atípico, recheado de comemorações e troca de presentes, mas também propício para desorganizar as finanças. Na economia doméstica, a característica do período é registar muitas saídas de recursos, pulverizadas em gastos extras. Na hora de fechar a planilha, não são apenas os tradicionais presentes, ceia e viagens que pesam. É preciso apontar também outros itens que têm peso importante e que se acumulam ao longo do mês. São o transporte para correr de casa para o trabalho a tempo de se arrumar para um evento (ou para conseguir fazer as compras sem perder compromissos) e o maior número de idas ao cabeleireiro, por exemplo.
Também influenciam nesse fluxo os gastos nos encontros com amigos, colegas de academia, trabalho ou aula e aquelas ligações mais demoradas, afinal não são raros os casos de quem passa mais tempo no telefone e vê a conta aumentar, ou então precisa repor o crédito do celular pré-pago mais vezes do que o usual. "Apesar de ter um fluxo de entrada de recursos maior, os consumidores têm muitas despesas esparsas, pequenas. No somatório, porém, há uma quantia razoável", explica Alfredo Meneghetti, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE), ao destacar que, embora menores, essas despesas, quando somadas, podem desestabilizar um planejamento.
Nesse conta-gotas, o transporte privado contribui de forma significativa no resultado final. Ainda que muitos se controlem e mantenham o bolso fechado, quase fatalmente precisarão, uma hora ou outra, locomover-se entre a festa da empresa e a residência, ou levar as compras para casa. De acordo o gerente administrativo da Rádio Tele Táxi, Luís Fernando Gonçalves, apesar de o movimento reduzido em razão do Uber e da crise, em média, os taxistas registram ao menos entre três e quatro corridas a mais por dia em dezembro. Parte dessa demanda vem de celebrações fora de casa, bem antes do dia 24. O mesmo movimento de alta é registrado no sistema 99taxis, que tem crescimento de cerca de 10% neste mês, percentual que espera ampliar com uma promoção com bônus para novos clientes.
As festas de despedida de ano feitas já foram mais intensas, mas ainda ajudam a movimentar bares e restaurantes. Mesmo aqueles que ressaltam ter sobrevivido a um ano complicado, bares como o Boteco Imperial, no bairro Santana, na Capital, chegam a ter entre quatro e cinco reservas diárias para grupos ao longo do mês, especialmente a partir do dia 10 de dezembro, conta Ildo Bortoncello, um dos sócios da casa.
Na primeira quinzena de dezembro, o movimento de confraternizações no bar de Bortoncello vinha em número crescente. Uma das mesas já movimentadas e animadas era formada por oito colegas de profissão, todas da área de saúde. Do time, duas foram apontadas como as campeãs de encontros pré-Natal: Marília Müssnich, 33 anos, técnica de enfermagem e 10 eventos marcados para o mês; e, na liderança, Paula Zanette, enfermeira, 31 anos, com 12 agendamentos.
Paula venceu na quantidade de festas - do encerramento das atividades na escola da filha a colegas de aula e velhas amigas. Patrícia prefere nem saber quanto recurso vai demandar todo esse movimento. Já Marília tem uma boa estimativa. "Cada saída vai me custar entre R$ 60,00 e R$ 80,00. E não tenho custo com estacionamento, porque ando de moto", explica a técnica em enfermagem.

Segundo final de ano de crises e incertezas

Rotinas financeiras são alteradas com confraternizações, transporte e estética

Rotinas financeiras são alteradas com confraternizações, transporte e estética


PEDRO BRAGA/JC
O Natal de 2016 é uma prova de que o brasileiro, apesar de ter passado por anos de "fartura", não desaprendeu a lidar com as dificuldades econômicas. Os consumidores demonstraram, por diferentes estatísticas, terem até amadurecido no quesito administração das finanças pessoais. Isso em um período turbulento entre "dezembros". Enquanto entre 2010 e 2014 o cenário econômico e político não exigiu muitas adaptações, de 2015 para 2016 foi preciso driblar diferentes fatores que entraram em campo, deixando o orçamento em situação de risco.
De novembro do ano passado a novembro deste ano, foi por água abaixo a perspectiva de que a crise brasileira seria demovida no segundo semestre de 2016. No final de 2015, o Índice de Confiança do Consumidor registrado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) era de 66,9 pontos, abaixo do registrado em igual período deste ano, 79,1 pontos. A alta, no entanto, não indica otimismo: novembro apresentou a primeira queda depois de seis meses de crescimento do indicador neste ano.
Para a FGV, este é um movimento influenciado principalmente pelas baixas expectativas. "Na falta de notícias positivas no front econômico e dada a contínua deterioração do mercado de trabalho, uma parcela dos consumidores brasileiros reduziu a confiança em relação à perspectiva de melhora no horizonte de seis meses", afirma Viviane Seda Bittencourt, coordenadora da Sondagem do Consumidor.
Entre corredores de shoppings, centros de compras e lojas de rua, o que se encontra são pessoas que se adaptaram a Natais em busca de equilíbrio nos gastos. Apesar de toda a dificuldade que isso exige, não foram poucos os que conseguiram se adequar a reajustes de salários inferiores à inflação, ao desemprego ou conduzindo melhor suas dívidas e compras.
Pesquisa realizada pela Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado do Rio Grande do Sul (Fecomércio-RS) mostrou que o percentual de pessoas que usará o 13º salário prioritariamente para pagar contas é o maior já captado pelos estudos de final de ano da entidade (29,5%), e que a parcela de poupadores também tem evoluído. "O fato de mais consumidores priorizarem o pagamento de contas e não irem às compras demostra um avanço na gestão financeira dos recursos", destaca o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn. A parte boa para o comércio, aponta o dirigente, é que, embora sobre menos dinheiro para gastar, a medida reduz a inadimplência para o lojista.
A mesma avaliação faz o economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) Bruno Pereira Fernandes ao analisar indicadores da entidade referentes a novembro de 2015 e novembro de 2016. Neste período, caiu o número de famílias com dívidas entre cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro. O índice se reduziu de 61% em 2015 para 57,3% neste ano. "A inadimplência, que descapitaliza as empresas lá na frente, é reduzida, o que é positivo. Por outro lado, isso não se deu por aumento da renda, mas pela queda no consumo", explica Fernandes.
É esse consumo reduzido ao longo do ano que ajudou a dentista Rosangela Vieira, 50 anos, de Torres, a chegar ao final do ano equilibradamente. Questionada se havia feito as alterações nas compras de 2016 em razão da crise econômica e das incertas futuras, quem respondeu foi Isabela Rocha, 16 anos. "Sim, mudamos bastante. Um dos cortes foi deixar de viajar neste ano e evitar compras por impulso. Pensamos mais antes de comprar", explica a jovem, recém-aprovada na Faculdade de Veterinária e bastante consciente sobre a economia doméstica.
Uma das coisas mais difíceis de economizar no Natal, e que normalmente pais, avós e afins tentam preservar mesmo na crise - o presente das crianças -, teve adaptação na casa de Adriana Weg. Jovens, adultos e crianças entraram no amigo secreto. A economia foi significativa, diz a servidora pública, mas não sem protestos. "As crianças não gostaram. E são 13. Mas fizemos no ano passado e vamos repetir neste ano", conta.
O ato simbólico de reduzir os presentes infantis, diz Adriana, é a ponta do iceberg de outras ações que a família adotou para chegar "estável" neste final de ano. O pai e a mãe da servidora alugaram sua casa e foram morar em um apartamento. A manutenção da residência, o IPTU e o achatamento do poder de compra da aposentadoria foram tão determinantes na mudança quanto a insegurança. "Além de mais cara de manter, casa é mais perigosa", justifica Adriana.
A família não foi afetada diretamente pelo desemprego, mas pela inflação, sim. Jantares fora de casa foram reduzidos, entre outros motivos, porque a renda do marido teve correção bem abaixo da inflação. O mesmo temor sobre o futuro que tinha em 2015 ela mantém, o que levará Adriana a seguir praticando os hábitos que adotou ao longo do ano.

Setor de serviços se beneficia na data

Rotinas financeiras são alteradas com confraternizações, transporte e estética

Rotinas financeiras são alteradas com confraternizações, transporte e estética


PEDRO BRAGA/JC
Um bom exemplo do dinheiro que sai mais vezes da carteira é a ida ao cabeleireiro. No caso da designer Mariana Martini (foto), 29 anos, neste mês, serão três vezes no salão de beleza. "Não costumo ir ao salão mensalmente, então fica bem acima da minha média. Só aí devo gastar R$ 150,00. Mais cerca de R$ 50,00 com amigo secreto, três encontros de final de ano (orçado em cerca de R$ 60,00 cada), uma viagem para Uruguaiana (R$ 150,00), um vestido novo (R$ 150,00) e uns R$ 300,00 em presentes", lista a designer, que rapidamente somou cerca de R$ 900,00 em gastos extras, quase metade da renda mensal, o que a fez refletir sobre a necessidade de uma roupa nova.
Depois de verificar as contas e calcular melhor receitas e despesas (inclusive as extras, que não havia contabilizado), Mariana refez a programação. "Vou reduzir em cerca de R$ 100,00 esses gastos."

Para especialistas, é preciso acompanhar mudanças

O consumidor mudou de comportamento aceleradamente entre dezembro de 2015 e dezembro de 2016, e o comércio precisa se adaptar. Para quem não o fez, ainda dá tempo, assegura o vice-presidente de marketing da CDL Porto Alegre, José Resende. Da crise, diz ele, tem se originado compradores mais seletivos, menos propensos ao impulso e mais racionais (em que gastar, quanto gastar e como pagar).
"Do lado das empresas, o que mais marcou foi o fechamento de 95 mil lojas em 2015 e outras cerca de 100 mil neste ano, em todo o País. Como sempre, sobrevive quem tem melhor gestão", explica Resende, citando redução de custos, mudanças de processos e melhor administração do estoque como algumas prioridades.
Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo, lembra que o poder de compra do consumidor - que, em 2015, era de cerca de 11% para novas aquisições - caiu para 5% no trimestre passado. Se não fizer boas promoções e reduzir estoques, alerta Felisoni, o lojista terá ajustes ainda maiores para fazer após o Natal.
Supervisora da rede Del Turista, Beatriz Dias já enfrentou muita turbulência econômica atrás do balcão. Não só sobreviveu a todas como mantém sempre o entusiasmo e as lições. "Fui em busca de produtos similares aos que o consumidor procura, mas de marcas mais acessíveis. Aumentei o número de fornecedores para oferecer alternativas de preços. E dá certo", detalha. Outra receita de Beatriz é de longo prazo, mas igualmente importante, e que se sobressai nos momentos críticos: a fidelidade dos clientes. "Temos aqueles que sempre retornam, por isso a loja tem esse movimento", relata Beatriz.
Para o vice-presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de POA e Região (Sindha), Sandro Zanette, essa mudança de gestão foi marcante no setor da gastronomia. Pesquisa da entidade apontou que cerca de 70% dos empreendimentos tiveram que se adequar à demissão de funcionários e trocaram de fornecedores por outros mais baratos. "Como bares e restaurantes fazem compras de alimentos praticamente todos os dias, quem não passou a adotar medidas para melhorar as compras ainda tem tempo."