"Seria um desastre", critica João Carlos Brum Torres, filósofo e ex-secretário de Planejamento em dois governos peemedebistas - de Antônio Britto (1995-1998) e Germano Rigotto (2003-2006), sobre a possibilidade de extinção da Fundação de Economia e Estatística (FEE). A opinião de Brum Torres ganha relevância porque cresce a convicção que a FEE estará no pacote de corte de gastos e reforma do governo, além de ser emitida por um dos principais mentores do plano de governo da campanha do então candidato José Ivo Sartori, em 2014.
"Falei com o Búrigo (Carlos Búrigo, secretário-geral de Governo), pois sabia que estava trabalhando nas medidas. E disse: Se tem uma coisa que deve preservar é a FEE, porque é a inteligência do Estado, é fonte de dados", comentou o ex-secretário de Planejamento em dois mandatos do PMDB. Brum Torres admite que está distante do atual governo e que não acompanha de perto a formulação do pacote, mas admite: "Que é possível é (a FEE estar na proposta), mas é alguma coisa indesejável".
O movimento de servidores, pesquisadores, personalidades do mundo da pesquisa e academia e ex-presidentes da fundação espera que a crítica de Brum Torres tenha peso. Ele encabeça um manifesto na internet que exalta as contribuições da fundação. A página no Facebook Em Defesa da FEE colheu mais de 2 mil curtidas desde sábado. "Se só se pensar no governo (considerando a dificuldade financeira), pode achar que tem pouca utilidade. Mas (a FEE) é do interesse do Rio Grande do Sul, tem um valor muito grande." O ex-secretário ainda previne: "O governo vive com muita escassez de recursos, mas não pode tomar uma decisão porque está apertado que atinja uma instituição que levou anos para ser construída. É uma decisão muito ruim."
Um detalhe que eleva a preocupação sobre o futuro da FEE é o fato de, desde julho quando o economista Igor Morais deixou a presidência, até agora não ter sido indicado um sucessor. Além da FEE, a Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), criada no governo de Tarso Genro (PT, 2011-2014), deve entrar no pacote. A AGDI já ganhou papel coadjuvante. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Fábio Branco, evitou falar da possibilidade de extinção, já que a agência está sob a sua pasta, que deve absorver as funções da agência.
"Extinguir a FEE e a AGDI destrói um núcleo de produção e interpretação de dados, tarefa da FEE, e um núcleo potencial de criação de estratégica na AGDI", reage o professor da Ufrgs e ex-presidente do BRDE Carlos Henrique Horn, que considera estas duas expertises decisivas na busca de soluções para a crise, novos setores de atividade, impasse da dívida com a União e Previdência.