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Entrevista Especial

- Publicada em 13 de Novembro de 2016 às 22:26

Jorge Pozzobom vai priorizar a saúde em Santa Maria

"Proponho reduzir de 22 para 12 as secretarias e economizar R$ 3 milhões"


FREDY VIEIRA/JC
O deputado estadual Jorge Pozzobom (PSDB) - prefeito eleito de Santa Maria - quer diminuir a máquina pública e o gasto com eventos municipais para realocar recursos para a "prioridade absoluta" da sua gestão: a saúde. Ao todo, o tucano estima economizar R$ 20 milhões em quatro anos, realocando parte desse valor para os hospitais da cidade, os postos de saúde e a contratação de médicos e enfermeiros.
O deputado estadual Jorge Pozzobom (PSDB) - prefeito eleito de Santa Maria - quer diminuir a máquina pública e o gasto com eventos municipais para realocar recursos para a "prioridade absoluta" da sua gestão: a saúde. Ao todo, o tucano estima economizar R$ 20 milhões em quatro anos, realocando parte desse valor para os hospitais da cidade, os postos de saúde e a contratação de médicos e enfermeiros.
O tucano quer reduzir de 22 para 10 as secretarias da prefeitura, o que, segundo seus cálculos, gerará uma economia de R$ 3 milhões ao ano. Também pretende extinguir um evento de balonismo existente na cidade, além de reduzir a verba do Carnaval e do Natal do Coração - o que resultaria em R$ 5 milhões a menos nas despesas da prefeitura.
Pozzobom se elegeu prefeito na disputa mais acirrada das eleições municipais de 2016: o tucano teve uma vantagem de apenas 226 votos no segundo turno contra o colega de Assembleia Legislativa Valdeci Oliveira (PT). Apesar disso, quer superar as diferenças para governar para todos os habitantes da cidade.
"Vamos governar para todos os santa-marienses, tanto os que votaram em mim, quanto os que votaram no meu adversário, quanto os que anularam o voto. Agora temos essa grande responsabilidade", avaliou o tucano.
Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, concedida no seu gabinete na Assembleia Legislativa, Pozzobom também analisou o crescimento do PSDB nas eleições municipais, falou da relação que pretende estabelecer com a Câmara de Vereadores de Santa Maria e elogiou a presidência do diretório estadual, atualmente comandado pelo prefeito eleito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB). Entre uma pergunta e outra, o parlamentar recebeu correligionários do interior do Estado, que lhe parabenizaram pela eleição.
Jornal do Comércio - Qual sua avaliação das eleições municipais de 2016, tendo em vista que o PSDB teve um aumento expressivo no número de prefeituras no País?
Jorge Pozzobom - No Brasil, o PSDB teve um aumento de quase 20%, vencendo em 813 cidades. Um aumento de mais de 10% no número de vereadores, somando 5.346 nas câmaras municipais de todo o País. Aqui no Rio Grande do Sul, também tivemos uma ascensão significativa: passamos de 18 para 28 prefeitos e de 252 para 269 vereadores em todo o Estado. Vamos governar para quase 3 milhões de gaúchos. Em uma entrevista do governador de São Paulo, Geraldo Alckimin (PSDB), ele disse uma coisa muito importante: "Austeridade dá voto". Essa é a concepção que vai nortear a administração do PSDB nos municípios: a austeridade e a responsabilidade, que estão no DNA do partido.
JC - Alguns cientistas políticos avaliam que o crescimento do PSDB aconteceu no vácuo do desgaste do PT...
Pozzobom - Nestas eleições, vimos o crescimento do PSDB e a derrocada do PT. Afinal, o Brasil e o Rio Grande do Sul, depois de serem administrados pelo PT, estão quebrados por conta da maneira irresponsável de governar. Durante a campanha em Santa Maria, por exemplo, o candidato do PT disse que não tinha nenhum problema em endividar o município, porque não queria ter um déficit social. É o mesmo modelo de administração do (ex-governador) Tarso Genro (PT, 2011-2014). O resultado disso é o parcelamento do salário dos servidores públicos estaduais, com professores e brigadianos tendo R$ 450,00 depositados na conta. Então, essa maneira de governar, endividando o Estado, não dá certo.
JC - Outra característica destas eleições municipais foi o aumento dos votos brancos e nulos. Na sua avaliação, por que esse tipo de votação bateu recordes?
Pozzobom - O que ocorreu no Brasil foi uma resposta do descrédito que se tem com a classe política, que contaminou muita gente que anulou o voto, além dos que não foram nem votar. Acho que essa é uma resposta que vai ocorrer no mundo inteiro. Inclusive, a eleição do Donald Trump, nos Estados Unidos, é um exemplo disso. Mas acho que o descrédito na política é errado. Tem que ter descrédito com os agentes políticos que fazem má política. A gente tem que acreditar, voltar a acreditar. Gostando ou não gostando, se elege um prefeito, vereadores, governador, presidente da República. Aí entra a minha responsabilidade como prefeito eleito de Santa Maria. Vamos governar para todos os santa-marienses, tanto os que votaram em mim, quanto os que votaram no meu adversário, quanto os que anularam o voto.
JC - Aliás, Santa Maria teve a eleição mais apertada do Brasil no segundo turno. Qual a avaliação disso?
Pozzobom - Vários fatores influenciaram. Depois de passarmos para o segundo turno praticamente empatados, todos os cargos de confiança do PT de Caxias do Sul, Porto Alegre, Pelotas, Canoas, Viamão foram para Santa Maria fazer campanha. Como a única possibilidade que os petistas tinham de ganhar uma eleição era em Santa Maria, o dinheiro da campanha em cidades onde perderam no primeiro turno - como Porto Alegre, Pelotas e Caxias - foi todo para o meu adversário. Além disso, o Valdeci foi prefeito por oito anos. Por isso, ele andava pela cidade dizendo que fez escolas, creches, asfalto... apesar de não ter concluído muitas obras e ter mal feito outras tantas. Tudo isso o tornou um candidato muito forte. Por outro lado, o nosso projeto, antagônico ao do PT, era o nosso forte. Enquanto o meu adversário dizia que não tinha problema em endividar o município, eu dizia que, em vez disso, ia extinguir secretarias, reduzir cargos, etc. Vencemos por 226 votos e agora temos a grande responsabilidade de fazer um governo para todos.
JC - A redução da máquina pública foi um tema bastante abordado nessas eleições. Qual a sua proposta de reforma administrativa em Santa Maria?
Pozzobom - Estou propondo a redução de 22 para 12 secretarias. Se conseguir fazer esta reforma administrativa, embora não tenha isso fechado, vou economizar R$ 3 milhões por ano. E o corte de secretarias não significa o fim das políticas públicas que cada uma delas desenvolve. Ao extinguir as estruturas, estou reduzindo o número de secretários, secretários-adjunto, cargos de confiança (CC). Com extinção de secretarias, diferente do que o PT fala, nós não vamos extinguir a política. Em vez de ter uma pasta, vamos ter uma superintendência agregada a outra pasta, que vai desempenhar a mesma função com um custo menor.
JC - Tem outras áreas que podem ser reduzidas?
Pozzobom - Vamos rever grandes eventos de Santa Maria, como o balonismo, o Carnaval, o Natal no Coração. Vamos extinguir o tal do balonismo, porque não dá para gastar quase R$ 800 mil em balonismo, quando a gente não tem médico atendendo no posto de saúde. Quanto ao Carnaval, que custa R$ 450 mil por ano, ao Natal no Coração, que custa R$ 500 mil, e a Tertúlia, que custa R$ 400 mil, vamos rever os valores. Vamos manter os eventos que tenham relevância cultural para a cidade, mas queremos buscar parcerias público-privadas para colocar dinheiro lá. Só nesses exemplos que estou te dando, consigo uma economia de R$ 5 milhões por ano.
JC - Então, com o corte de secretarias, e redução de gastos com os eventos, pretende economizar ao todo...
Pozzobom - De todo o governo, só não sai nada da saúde e da educação. Até porque são verbas vinculadas. Mas se contar a economia com a redução da máquina pública e os eventos, teremos quase R$ 20 milhões em quatro anos.
JC - E esse dinheiro vai ser realocado para alguma outra área, como por exemplo a saúde, que foi o seu principal compromisso durante a campanha?
Pozzobom - Saúde vai ser prioridade absoluta. Até porque, se analisarmos o orçamento dessa área, temos R$ 89 milhões. Desse valor, R$ 54 milhões são gastos para pagar os servidores. Portanto, sobra R$ 35 milhões para o custeio dos serviços. Se dividir pelos 300 mil santa-marienses e por 365 dias, a prefeitura investe vergonhosamente R$ 0,31 por dia na saúde de cada cidadão. Pretendemos realocar R$ 5 milhões de eventos, do gabinete do prefeito, da Secretaria de Comunicação para o orçamento da saúde. Precisamos de R$ 1,5 milhão para contratar médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, para que eu execute o projeto Mutirão Fila Zero. É inaceitável que Santa Maria, a quinta maior cidade do Rio Grande do Sul, tenha 15 mil pessoas aguardando uma consulta ou um exame. Estipulamos o prazo de um ano para reduzir a espera na saúde. Aliás, todo o governo vai ser feito com prazos. Essa história de deixar tudo para o último ano, pensando na eleição, não vai ser parte do meu governo. E se algum secretário quiser boicotar algumas ações para fazer só no final do mandato, porque vai ser candidato a vereador ou qualquer outro cargo, vai ser degolado.
JC - Outro ponto que priorizou na campanha foi a geração de empregos...
Pozzobom - Por conta daquele evento triste que ninguém quer falar (incêndio na boate Kiss), passamos a ter o problema de demora na liberação dos alvarás e dos PPCIs (planos de prevenção ao incêndio) dos estabelecimentos comerciais. Para resolver isso, temos um projeto chamado Poupa Tempo Santa Maria. Trata-se de um espaço que vamos construir com recursos privados, onde a prefeitura e o corpo de bombeiros vão trabalhar juntos para dar agilidade às licenças. Hoje existem 700 estabelecimentos lacrados em Santa Maria, por culpa do alvará. Se conseguir abrir todos, já estou criando no mínimo 700 empregos. Quando (nós, deputados estaduais) votamos o projeto de lei que regulamentou a prevenção contra incêndios - chamam de Lei Kiss, não gosto desse nome - coloquei uma emenda que permite convênios entre a prefeitura e os bombeiros.
JC - Mencionou recursos privados para a execução desse projeto. Quem vai financiar?
Pozzobom - O Sinduscon (Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul), a Câmara de Indústria e Comércio, CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas de Santa Maria), Sindlojas (Sindicato dos Lojistas do Comércio de Santa Maria). No meu governo, não vai ter o privado fazendo o serviço do público, é o privado ajudando o serviço público.
JC - O senhor já tem maioria na Câmara de Vereadores, com 15 dos 21 parlamentares de Santa Maria. Isso dá tranquilidade para governar?
Pozzobom - No primeiro turno, nossa coligação elegeu sete vereadores. Quando passamos para o segundo turno, outros oito vereadores eleitos vieram nos procurar, sem pedir nenhum cargo. Não foi negociado CCs ou secretarias, nem mesmo com a nossa coligação. Assumi com os vereadores que nos procuraram no segundo turno o compromisso de permitir que façam emendas no orçamento. Assim, cria-se uma corresponsabilidade, porque vão me ajudar a colocar o dinheiro no que é necessário, além de fiscalizar a aplicação dos recursos
JC - Qual vai ser a primeira medida como prefeito?
Pozzobom - Na verdade, durante a campanha, já tomamos uma iniciativa. Temos a lei de diretrizes orçamentárias que prepara o orçamento. Apresentamos para todos os vereadores que faziam parte da composição uma emenda que permitia à coligação vencedora alterar o orçamento para começar a administração com suas próprias prioridades. A eleição foi dia 30 de outubro, dia 30 de novembro a gente vota todo o orçamento. Assim, não vou assumir no dia 1 de janeiro com a peça orçamentária do governo anterior, pois vou alterá-la, priorizando as medidas que eu entendo serem urgentes.
JC - O deputado federal e prefeito eleito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior (PSDB), assumiu o PSDB gaúcho através da intervenção do diretório nacional, o que gerou algumas divergências internas dentro do partido...
Pozzobom - Se tivéssemos 27 Marchezans no partido, estaríamos administrando as 27 capitais do Brasil. Evidente que cada um tem a sua posição, a sua maneira de agir. Marchezan é controverso? Pode ser, é a maneira dele. Falaram que apenas uma parte da bancada (de deputados estaduais do PSDB) estava apoiando ele. Isso não era verdade. Falaram todo o tempo que tínhamos divergências, mas não tínhamos. Devemos fazer as disputas internas e sair unidos depois. É o que o PSDB faz.

PERFIL

Jorge Cladistone Pozzobom, 41 anos, nasceu em Santa Maria. Estudou em colégios públicos da cidade e começou, aos 12 anos, a ajudar em tarefas na firma do pai, distribuidor de bebidas. Aos 24 anos, iniciou o curso de Direito na Ufsm e concluiu a graduação em 2000. É especializado na área criminal. Começou a atuar na profissão como estagiário do advogado Carlos Edson Domingues, que o convidou a se filiar no PSDB em 1995. Foi sua primeira atividade política. Em 2000, concorreu a vereador e ficou como primeiro suplente. Assumiu o cargo três vezes entre 2001 e 2004, ano em que se elegeu pela primeira vez. No primeiro mandato na Câmara Municipal, liderou a oposição e presidiu a CCJ. Em 2006, candidatou-se a deputado federal, mas ficou na segunda suplência. Em 2008, atuou como secretário-geral de governo adjunto na gestão de Yeda Cruius (PSDB) e, em 2009, foi assessor especial da governadora. Também comandou as secretarias municipais de Assistência Social e a da Integração Regional do prefeito de Santa Maria, Cezar Shirmer (PMDB). Em 2010, elegeu-se deputado estadual. Em 2014, se reelegeu. Chegou a ser o líder da bancada do PSDB na Assembleia e o 2º vice-presidente estadual do partido.