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Segurança

- Publicada em 13 de Novembro de 2016 às 22:37

Sem perspectivas para o Presídio Central

Cerca de 4,8 mil presos estão encarcerados na maior penitenciária do Estado, mas a capacidade é de 1,8 mil

Cerca de 4,8 mil presos estão encarcerados na maior penitenciária do Estado, mas a capacidade é de 1,8 mil


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Cerca de dois anos depois da intervenção que pretendia varrer o Presídio Central de Porto Alegre do mapa prisional gaúcho, o complexo segue ativo - e mais superlotado do que nunca. Sem as vagas do antigo Pavilhão C, demolido no segundo semestre de 2014, uma população carcerária de 4,8 mil pessoas se espreme nas galerias restantes do Central, a maior lotação da história do local. Hoje, uma intervenção judicial faz com que novos detentos entrem no presídio a conta-gotas, na medida em que presos condenados são removidos da casa prisional. E a margem de engenharia de presos, há muito estourada, impede o esvaziamento fundamental para uma reforma.
Cerca de dois anos depois da intervenção que pretendia varrer o Presídio Central de Porto Alegre do mapa prisional gaúcho, o complexo segue ativo - e mais superlotado do que nunca. Sem as vagas do antigo Pavilhão C, demolido no segundo semestre de 2014, uma população carcerária de 4,8 mil pessoas se espreme nas galerias restantes do Central, a maior lotação da história do local. Hoje, uma intervenção judicial faz com que novos detentos entrem no presídio a conta-gotas, na medida em que presos condenados são removidos da casa prisional. E a margem de engenharia de presos, há muito estourada, impede o esvaziamento fundamental para uma reforma.
Quando da demolição, o Pavilhão C era formado por três galerias, duas delas em uso. A terceira delas passava por uma reforma, que estava próxima de conclusão. Somadas, elas abrigavam cerca de 10% da capacidade do presídio. A demolição veio acompanhada de uma promessa do governo estadual, então a cargo de Tarso Genro (PT), de que todo o Presídio Central seria esvaziado e desativado.
O juiz Sidinei Brzuska, da 2ª Vara de Execuções Penais de Porto Alegre, explica que a ideia original era usar o presídio de Canoas, então em construção, para abrigar parte da massa carcerária do Central, diminuindo a ocupação para menos de 2 mil detentos. Então, esses presos seriam deslocados temporariamente de uma galeria para a outra, enquanto os pavilhões eram derrubados e, depois, reconstruídos. "Como se fosse uma reforma em um apartamento de vários quartos", brinca.
O plano fracassou. Os presos que habitavam o Pavilhão C foram deslocados temporariamente para Montenegro e Charqueadas, já que as penitenciárias de Canoas e Guaíba ainda não estavam prontas. Acabaram trazidos de volta para o Central cerca de um ano depois do começo da demolição. O presídio de Canoas, com capacidade para algo em torno de 2,8 mil presos, abriga hoje cerca de 400. E o Central voltou a ter a mesma quantidade de presos de antes da intervenção - agora, em um espaço consideravelmente menor.
De acordo com Brzuska, boa parte da atual estrutura do Presídio Central ainda está em condições adequadas. É o caso, por exemplo, do pavilhão administrativo e do edifício que abriga salas de recepção, revista e acolhimento de visitantes. Outro prédio, onde estão instaladas capela, enfermaria, refeitório e salas de aula, recebeu reforma recente, com verbas oriundas de penas alternativas, e também não requer demolição. Os quatro pavilhões mais recentes, que abrigam as minorias dentro dos presídios (como pessoas trans e travestis, religiosos e condenados por crimes sexuais) estão igualmente em boas condições. Como foram construídos com material mais frágil, não podem receber presos além da capacidade, pelo risco de fugas e danos estruturais.
Todo o drama do Central, portanto, se concentra na faixa dos pavilhões antigos (A, B, D e F). "Esses não têm salvação. Só botando abaixo", reforça Brzuska. O problema: somados, eles abrigam quase 4 mil dos 4,8 mil detentos hoje aglomerados no Central. "Dá para dizer que 80% dos presos do Central estão em espaços inadequados e sem possibilidade de reforma", acentua.
De dezembro de 2014 até outubro deste ano, o número de presos no sistema gaúcho saltou de 29,2 mil para 35 mil pessoas - um aumento de 19,8% em menos de dois anos. Uma consequência desse ritmo acelerado de encarceramento é que novas vagas surgidas para desafogar o sistema, como as do complexo de Canoas, não são mais suficientes para dar conta da demanda.
"É incontornável falar em abertura de novas vagas no sistema prisional gaúcho", frisa o promotor de Justiça Luciano Vaccaro, coordenador do Centro de Apoio Criminal do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Segundo ele, as péssimas condições criadas pela superlotação transformam espaços como o Central em "escolas do crime", já que as facções acabam comandando as galerias e a execução penal não consegue preparar o apenado para a vida posterior ao cárcere.
 

Unidades de Canoas e Guaíba seguem como opções, diz SSP

Conforme a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP), é necessário pensar em um plano de reconstrução de estrutura do Central, sem perspectiva de desativar a unidade. Em resposta escrita à reportagem do Jornal do Comércio, a pasta afirma que uma simples reforma não atenderia às necessidades do local, mesmo que algumas galerias mais novas apresentem condições estruturais mais adequadas. Para viabilizar isso, o plano segue basicamente o mesmo de dois anos atrás: deslocar presos do Central para as unidades de Canoas e Guaíba e, a partir daí, fazer com que o Central sofra reparos e volte a receber apenas presos provisórios.
Tratada como prioritária pelo atual governo estadual, a abertura definitiva do complexo prisional de Canoas depende, segundo a assessoria da SSP, de uma série de "soluções a curto e médio prazo", que envolvem a colaboração com outras secretarias e com a prefeitura local. Entre elas, estão a construção de uma subestação de energia e obras estruturais internas e externas, que incluem o bombeamento de água e esgoto. Não há previsão para a conclusão dessas intervenções. Ainda de acordo com a SSP, as obras na unidade de Guaíba já estão 75% concluídas.
A pasta reforça ações que estão sendo tomadas para tentar diminuir o déficit no sistema prisional do Rio Grande do Sul, que hoje oscila entre 9 e 11 mil vagas. Entre elas, cita planos de investimento em presídios regionais, mais adequados à realidade dos municípios do interior do Estado e que também permitiriam separar presos pelo grau de periculosidade. Também entra na lista o plano de permuta da atual sede da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), que seria trocada por instalações prisionais e poderia gerar, segundo o órgão, até mil novas vagas.
Na semana passada, o secretário Cezar Schirmer declarou que está sendo cogitado o uso de contêineres como centro de triagem para recém-ingressos no sistema prisional. A medida seria uma forma de desafogar as celas de delegacias e até viaturas policiais, usadas de forma emergencial como carceragem temporária para presos aguardando transferência.