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Estado

- Publicada em 07 de Novembro de 2016 às 04:19

Diversidade no sabor do vinho gaúcho

Variedade de regiões determina diversidade de sabores da bebida

Variedade de regiões determina diversidade de sabores da bebida


SILVIA TONON/DIVULGAÇÃO/JC
Casca, Dom Pedrito, Encruzilhada. Essa pode ser a procedência escrita no rótulo do seu próximo vinho gaúcho. De uma ponta a outra do Estado, despontam iniciativas dispostas a consolidar a vitivinicultura como uma atividade bem-sucedida além da Serra Gaúcha. Ainda que a conquista de novos territórios pelo setor não seja suficiente para desbancar a Serra como a maior produtora de vinhos do Rio Grande do Sul e do Brasil, já se nota uma alteração no mapa do setor.
Casca, Dom Pedrito, Encruzilhada. Essa pode ser a procedência escrita no rótulo do seu próximo vinho gaúcho. De uma ponta a outra do Estado, despontam iniciativas dispostas a consolidar a vitivinicultura como uma atividade bem-sucedida além da Serra Gaúcha. Ainda que a conquista de novos territórios pelo setor não seja suficiente para desbancar a Serra como a maior produtora de vinhos do Rio Grande do Sul e do Brasil, já se nota uma alteração no mapa do setor.
"Antigamente, a fotografia vitivinícola do Rio Grande do Sul era a Serra Gaúcha e um pontinho pequenininho, que era Jaguari, onde se produz vinho desde o início do século passado. Hoje, essa fotografia é a Serra Gaúcha, a Serra do Sudeste, a Campanha, os Campos de Cima da Serra e muitos pontinhos espalhados em vários municípios onde há uma ou algumas vinícolas", explica o pesquisador Celito Crivellaro Guerra, da Embrapa Uva e Vinho.
Em 2015, a microrregião de Caxias do Sul foi responsável por 73,51% do vinho produzido no Estado. O segundo lugar foi ocupado pela microrregião da Campanha Central, com 7,79%, seguido pela microrregião de Guaporé (7,55%) e pelas serras do Sudeste (5,63%), de acordo com o Cadastro Vitícola do Estado. O movimento de expansão da vitivinicultura para além da Serra começou nos anos 1970, quando teve início o cultivo de uvas europeias para a fabricação de vinho fino em várias partes do Estado. A produção era realizada por multinacionais como a Almadén, que se instalou em Santana do Livramento. Nos anos 1990, a expansão a novas regiões ganhou fôlego influenciada por um fenômeno internacional que também chegou ao Rio Grande do Sul: muitos produtores que tinham área ou recursos para investir começaram a sonhar em fabricar o seu próprio vinho fino. "Nessa época, vinícolas da Serra Gaúcha buscaram outras regiões nas quais fosse mais fácil produzir uvas em grande quantidade, e mais barato. Teve início um núcleo de produção da serra do Sudeste, nas cidades de Encruzilhada e Pinheiro Machado", afirma Guerra.
A partir dos anos 2000, começou-se a plantar uvas finas nos Campos de Cima da Serra. Cidades como Vacaria e Monte Alegre dos Campos já concentram cerca de 10 vinícolas, caracterizando uma região vitivinícola. Além disso, muitos produtores que começaram a produzir uvas finas para vinho de maneira isolada em cidades espalhadas por todo o Estado, como Casca, Erechim, Ijuí, Santo Ângelo, Ametista do Sul, Santa Maria e Getúlio Vargas. "Há um número grande de municípios com produções esparsas, que não formam uma região vitivinícola, mas nos quais existe produção, o que é algo novo, que começou nos anos 2000", afirma Guerra.
Para a sommelier do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) Silvia Mascella Rosa, a ampliação da produção a novas regiões demonstra o amadurecimento da vitivinicultura no Rio Grande do Sul. "O Estado está se reinventando. Saindo das áreas históricas, o que se vê no Estado é uma especialização da plantação. O produtor não vai mais fazer testes, não vai plantar 30 variedades de uva. Ele já vai sabendo o que plantar, com base nas pesquisas de solo e clima. Isso é uma evolução. Antigamente, o Vale dos Vinhedos tinha muitas variedades de uva, e hoje, não são mais de 10, porque já se sabe o que funciona ali. Isso mostra uma evolução da vitivinicultura que influencia todo o Estado", afirma a sommelier.
Silvia acredita que o Rio Grande do Sul está sabendo explorar todo o seu território. E, de acordo com Guerra, há potencial para que a fotografia vitivinícola do Estado ganhe novos pontinhos, ou seja, novas cidades produtoras de vinho. "Em todas as regiões, se plantar uva, vai dar. É diferente de plantar em qualquer lugar. Dentro de cada município, há alguns lugares em que a videira, se for plantada naquelas condições e com o investimento necessário, poderá dar bons frutos", diz Guerra.
E é justamente a variedade de regiões produtoras de vinho que determina a diversidade de sabores da bebida. Enquanto bebidas padronizadas, como refrigerantes ou cervejas, se esforçam para manter a mesma fórmula em diferentes locais, no mundo do vinho não há essa possibilidade. "Ainda que haja um produtor do meu lado, eu vou tentar fazer um vinho de tipo e estilo diferente do dele, o que se traduz especialmente pelo gosto e pelo aroma que mudam conforme o local e as técnicas de cultivo", afirma Guerra.

Características das regiões vitivinícolas do Estado

CAMPANHA
Já é a segunda região em volume de vinho produzido no Estado, após a Serra Gaúcha. A produção é realizada tanto por pessoas de fora quanto por fazendeiros locais. Por se tratar de uma região mais quente, as uvas desenvolvem mais tanino, o que dá mais corpo ao vinho e aumenta seu teor alcoólico.
SERRA DO SUDESTE
A região é explorada por produtores provenientes de diferentes locais. A região não tem vinícolas, apenas vinhedos, pois a uva é levada à Serra para ser vinificada. As características do vinho são semelhantes às dos vinhos da Campanha, encorpados e com elevado teor alcoólico.
CAMPOS DE CIMA DA SERRA
A fabricação de vinhos é realizada por produtores locais que se interessaram pela atividade nos últimos anos. A região é mais alta e mais fria que a Serra, o que resulta em vinhos com maior acidez, assim como a cor mais intensa.

Microrregiões do Rio Grande do Sul

Evolução da participação das microrregiões na produção de uvas Vitis Vinfera
  • Camaquã - 2008: 0,04% 2015: 0,09%
  • Campanha Central - 2008: 7,66% 2015: 7,79%
  • Campanha Meridional - 2008: 1,45% 2015: 1,17%
  • Campanha Ocidental - 2008: 0,32%  2015: 0,74%
  • Carazinho - 2008: 0,05%   2015: 0,05%
  • Caxias do Sul - 2008: 77,26%   2015: 73,51%
  • Erechim - 2008: 0,04%    2015: 0,08%
  • Frederico Westphalen - 2008: 0,69%   2015: 0,34%
  • Gramado-Canela - 2008: 0,06% 2015: 0,20%
  • Guaporé - 2008: 6,35% 2015: 7,55%
  • Lajeado-Estrela - 2008: 0,14% 2015: 0,12%
  • Montenegro - 2008: 0,30% 2015: 0,61%
  • Passo Fundo - 2008: 0,25%   2015: 0,35%
  • Porto Alegre - 2008: 0,01% 2015: 0,02%
Fonte: Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul