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Conjuntura Internacional

- Publicada em 15 de Novembro de 2016 às 17:47

Vitória de Trump reacende debate sobre desigualdades

Há cerca de 10 anos, mais ricos concentravam 12% da renda dos EUA

Há cerca de 10 anos, mais ricos concentravam 12% da renda dos EUA


STAN HONDA/AFP/JC
A globalização foi a vilã apontada pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para atrair a classe média de regiões que já foram potências industriais. A vitória de Trump, amparada nesse discurso, intensificou o debate sobre os efeitos da ampla abertura comercial a partir dos anos 1990 sobre a vida dos cidadãos em diferentes partes do planeta. No mundo, as nações pobres e ricas se aproximaram com a globalização e a desigualdade diminuiu. Mas, dentro de cada país, a renda ficou mais concentrada, dizem especialistas. E esse fenômeno afetou não só os EUA, como também a China - alvo preferencial do discurso protecionista de Trump.
A globalização foi a vilã apontada pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, para atrair a classe média de regiões que já foram potências industriais. A vitória de Trump, amparada nesse discurso, intensificou o debate sobre os efeitos da ampla abertura comercial a partir dos anos 1990 sobre a vida dos cidadãos em diferentes partes do planeta. No mundo, as nações pobres e ricas se aproximaram com a globalização e a desigualdade diminuiu. Mas, dentro de cada país, a renda ficou mais concentrada, dizem especialistas. E esse fenômeno afetou não só os EUA, como também a China - alvo preferencial do discurso protecionista de Trump.
E os que menos ganharam com a globalização foram os 20% mais ricos no mundo, ou seja, a classe média e média baixa das economias avançadas, afirma a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Petersen Institute e professora da Universidade Johns Hopkins, em Washington. "Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) e a eleição de Trump têm vários matizes, além da distribuição de renda. Essas pessoas se sentiram deixadas para trás. Outros melhoraram muito mais do que eles", afirma Monica.
O que importa, diz a professora, é sua posição relativa, o que é explicado pela economia comportamental. As pessoas preferem ganhar R$ 50,00 enquanto todo mundo ganha R$ 20,00, do que ganhar R$ 100,00 se todo mundo estiver ganhando R$ 200,00. O sentimento de estar acima dos outros é preponderante."
A mudança da estrutura produtiva, o avanço tecnológico e até os valores culturais de cada canto do planeta são a outra parte da história para entender os motivos de parte da população na Europa e nos EUA querer fechar seus mercados e suas fronteiras. Nessa equação, a desigualdade é uma explicação comum. No caso dos EUA, o país, que já era o mais desigual entre seus pares de economia avançada, a disparidade de renda hoje já é tão grande como no Brasil.
Entre os norte-americanos, o 1% mais rico da população concentra 22% da renda, parcela semelhante à apropriada no Brasil pelo topo da pirâmide. Há menos de uma década, os mais ricos americanos concentravam cerca 12% dos ganhos do país.
Marcelo Medeiros, sociólogo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Universidade de Brasília (UnB), especialista em desigualdade e pobreza, diz que a classe média fabril norte-americana viu a renda estagnar e perdeu a estabilidade com a transferência da produção para a Ásia. Contra esses efeitos, nada foi feito.
Ao contrário, políticas públicas aprofundaram a crise. "A estrutura sindical foi destruída, as regras trabalhistas foram flexibilizadas, tornando o trabalho mais inseguro, e não se preparou esses trabalhadores para a economia 3.0", afirma. Além disso, argumenta Medeiros, o topo da distribuição de renda, os trabalhadores qualificados, a economia digital e, principalmente, o setor financeiro aumentaram sua renda. "Não se mudou a estrutura tributária para redistribuir os ganhos gigantescos dessa parte da população", sentencia.
Segundo Medeiros, o processo de globalização transformou a China numa potência industrial. "A produção industrial menos sofisticada da Europa, dos EUA e até da América Latina migrou para a China. Não dá para atribuir todas as mudanças à globalização. Mas a Ásia virar a grande potência industrial só foi possível no mundo globalizado", afirma Medeiros.
A globalização beneficiou os pobres dos países subdesenvolvidos e prejudicou os pobres dos países desenvolvidos, afirma José Márcio Camargo, professor da PUC Rio. "Se, por um lado, houve o empobrecimento dessas pessoas no mundo ocidental, este processo de globalização reduziu a pobreza no mundo de forma espetacular. Desde 1995, o preço internacional da TV caiu 96%, o do brinquedo, 67%, o que significou um aumento de renda real das pessoas monumental."
Tudo ia bem enquanto o mundo crescia 6%, 7% ao ano, lembra Camargo. Com a crise de 2008, a insatisfação com a desigualdade aflorou, porque "quando se chega perto da estagnação, acaba a expectativa de melhora e a única solução é se revoltar", diz o economista. "A crise torna pior o quadro preexistente, com estagnação de renda, desemprego. Os que mais sofreram com a crise foram os mesmos que já estavam sofrendo com a globalização. Os trabalhadores de Pensilvânia, Ohio, Michigan, da indústria tradicional, que antes tinham bom salário. Hoje não conseguem mesmo nível nem de perto, porque a indústria tradicional acabou, e não foi só pela globalização. Toda a transformação tecnológica e a mudança da estrutura produtiva acabaram com o emprego desses pessoas."
Sergei Soares, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que atualmente é pesquisador visitante do Centro Global de Desenvolvimento, em Washington, diz que saída dos trabalhadores da indústria para o setor s serviços se estreitou. "O caminho seria se deslocar para os serviços, mas neles há uma concorrência forte dos imigrantes. Estão presos, sem saída. E as políticas sociais foram esvaziadas, até mesmo por pressão dessa mesma população. Hoje, só contam com food stamps."
Os especialistas temem uma onda protecionista, mesmo achando improvável estabelecer tarifas de importação muito altas, pois as grandes empresas americanas trabalham em cadeias globais de produção. A Apple é um exemplo. Uma sobretaxa de 20% sobre os produtos chineses pode abalar a maior empresa de valor de mercado do mundo. O último movimento protecionista desse tipo aconteceu na grande depressão dos anos 1930.

Brexit afeta plano de investimento de 45% das empresas do Reino Unido, diz BoE

Mark Carney, Governor of the Bank of England and Chair of the Financial Stability Board, speaks during a CNN Debate on the Global Economy at the 2016 Annual Meetings of the International Monetary Fund and the World Bank Group at the IMF Headquarters in Washington, DC, October 6, 2016. / AFP PHOTO / SAUL LOEB

Mark Carney, Governor of the Bank of England and Chair of the Financial Stability Board, speaks during a CNN Debate on the Global Economy at the 2016 Annual Meetings of the International Monetary Fund and the World Bank Group at the IMF Headquarters in Washington, DC, October 6, 2016. / AFP PHOTO / SAUL LOEB


AFP/JC
O presidente do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Mark Carney, afirmou nesta terça-feira que o processo de separação do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, afeta os planos de investimento de cerca de 45% das empresas do país. Carney disse ainda que não desejava especular sobre se as conversas do Brexit podem levar mais de dois anos, mas ressaltou que não tem planos para ampliar a duração de seu mandato.
Carney pretende deixar o comando do BC britânico em meados de 2019, independentemente do estágio em que estejam as conversas do Reino Unido com a UE. Ele planejava antes sair em 2018, após cinco anos, mas concordou no mês passado em ficar mais um ano, após o plebiscito de junho que foi vencido pelos partidários da saída do país da UE. Carney disse, durante depoimento no Parlamento em Londres, que essa decisão de ficar mais tempo foi motivada por um "senso de responsabilidade" de monitorar a economia nessa retirada do bloco.
A premiê do Reino Unido, Theresa May, diz que pretende iniciar o processo de retirada do país da UE até o fim de março. Alguns analistas disseram, porém, que um acordo tão complexo poderia levar mais tempo. Os tratados da UE permitem um período de negociações mais longo, caso os países concordem com isso.
Carney disse que críticas recentes de May a políticas do BoE não tinham relação com a decisão dele de ficar um ano a mais, porém menos que o mandato completo de oito anos para o cargo. A premiê disse recentemente que as políticas de dinheiro barato do banco central pioram a desigualdade. Carney avaliou que culpar apenas a política monetária pelo aumento da desigualdade é tirar a culpa de outros fatores, já que outras políticas também contribuem para essa tendência.
O presidente do BoE também afirmou que o setor financeiro britânico seria beneficiado por um período de transição entre a saída formal do Reino Unido da União Europeia e a adoção de uma nova relação comercial com o bloco. Carney lembrou que as empresas do setor financeiro elaboram planos de contingência, mas na maioria dos casos estão esperando antes de implementá-los em busca de sinais mais claros sobre a trajetória do Reino Unido para sair da UE.