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- Publicada em 10 de Novembro de 2016 às 22:22

A cleptocracia no futuro próximo

Detalhe da capa de 2038

Detalhe da capa de 2038


Divulgação/JC
O volume 2038 (Chiado, 270 páginas), romance de estreia do advogado Max Telesca, que nasceu em Porto Alegre em 1974 e passou a infância no pampa gaúcho, em Canguçu, é uma narrativa inquietante e não trata apenas do ficcional país Lisarb no ano de 2038, período de sua pós-redemocratização.
O volume 2038 (Chiado, 270 páginas), romance de estreia do advogado Max Telesca, que nasceu em Porto Alegre em 1974 e passou a infância no pampa gaúcho, em Canguçu, é uma narrativa inquietante e não trata apenas do ficcional país Lisarb no ano de 2038, período de sua pós-redemocratização.
Telesca formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pelotas em 1997 e logo depois foi para Brasília, passou a advogar e militar na OAB, onde exerceu cargos relevantes. É vice-presidente do Sindicato dos Advogados do Distrito Federal, especialista em Tribunais Superiores e atuou como advogado em favor de uma das rés do mensalão, absolvendo-a. Telesca fundou o Instituto de Popularização do Direito e criou a Telesca e Advogados Associados.
Não por acaso, o romance tem epígrafe de Maquiavel e o primeiro capítulo se inicia com as seguintes frases: "A corrupção é algo natural, nasceu com o homem e vai morrer com ele, uma característica humana. A ética é cultural e, como tal, pode ser construída, destruída, cair em desuso ou ser transformada, e o homem, naturalmente corrupto, tenta, muito lentamente, um progresso civilizatório no rumo da justiça social, da igualdade e da construção do que chama de Estado Democrático de Direito".
A narrativa caudalosa e ágil gira em torno de Alex, funcionário do governo, e de Lisa. Se encontram e desenvolvem relacionamento num momento de incertezas pessoais. Ele progressivamente desencantado com as manipulações e projetos mirabolantes do governo, empenhado em vender as soluções da tecnologia como progresso social. Ela cada vez mais preocupada com as coisas da política e interessada em seguir o caminho da esquerda militante. Ele, com o mundo do dinheiro, do poder; ela, com o mundo popular. Uísque, amor, encruzilhadas e um torvelhinho de surpresas vai aparecendo, revelando a alma e a vida humana.
O jornalista Leandro Fortes escreveu, na apresentação: "Ao prever a dissolução dos costumes em um estágio de elevação da corrupção como bem imaterial da sociedade, Max Telesca nos apresenta uma obra onde a degradação moral está formalmente associada à ética e à política. Em 2038, o nefasto não é apenas aceitável, é natural. Um lugar onde a reversão de valores deu sentido ético a um novo pacto social: a Doutrina da Aceitação, a corrupção como variável da economia, da política e da própria estrutura do tecido social. No mundo bizarro pós-redemocratização de Lisarb - Brasil ao avesso, não ao contrário - esquerda e direita se amalgamaram em torno dos mesmos símbolos".
A ficção poderosa de Telesca, estreia madura no romance, talvez premonitória e com certo tom de advertência, além do prazer na leitura, faz pensar. E muito.

lançamentos

Um passeio no jardim da vingança (Novo Século, 302 páginas), romance de estreia do magistrado e professor Daniel Nonohay, narra a saga de um advogado rico e drogado que, depois de uma crise, retoma a vida e acaba se transformando em caça. Alto suspense em meio a drogas e muito mais.
Qorpo Santo - diabos e fúrias (Artes e Ofícios, 136 páginas), do premiado escritor e jornalista Luís Dill, autor de 50 livros, é baseado na noite de 26 de agosto de 1966, quando três peças de Qorpo Santo foram encenadas em Porto Alegre. O autor faz um link com as manifestações de 2013.
2016 Sombras & Luzes - Crônicas sobre um ano inquietante (Mecenas, Besourobox, 136 páginas), do publicitário, poeta e cronista Luiz Coronel apresenta textos literários sobre os fatos políticos de 2016. Apresentações de Pedro Simon, José Fogaça, Bruno Zaffari e Luciana Genro.

Lugar de todo mundo é na cozinha

Não custa repetir que, se a gente cozinhasse uma vez por dia, talvez não precisasse fazer terapia ou tomar remédios para os males da alma. Mesmo para quem vive sozinho e não gosta de fogão e panelas isso é verdade. Todo mundo devia saber cozinhar. Comida saudável, de verdade, disse Rita Lobo, que trabalha há mais de vinte anos com culinária e pesquisas. Criatividade na cozinha, mão nas massas e não pensar em tantos problemas é bom.
Depois de pesquisas na USP sobre alimentação da população brasileira e de duas séries no Youtube Comida de Verdade e O que tem na geladeira?, enfatizando que as pessoas devem cozinhar para se alimentar melhor e que é bom usar receitas a partir de compras nas feiras livres, Rita lançou o livro O que tem na geladeira?
No Brasil, em torno de 60% das pessoas estão som sobrepeso e por volta de 20% são obesas por conta, principalmente, de mudança de hábitos. Mais ou menos isso: deixaram de comer arroz, feijão, bife com salada, frutas, comidas caseiras e passaram a consumir alimentos industrializados, refeições em lancherias, restaurantes e deu no que deu. A coisa está mudando, os mercados e restaurantes também, claro, as feiras livres, todos estão atentos e quem quiser curtir a comida de verdade que a vovó e a mamãe comia sabe que é possível.
Com um pouco de boa vontade, receitinhas e uns 30 minutos, as pessoas conseguem fazer um almoço ou jantar razoável, sem precisar comer só aquele peito de frango sem molho ou então aqueles pratos industrializados do comércio que trazem sódio e outras coisas que nem é bom falar. De mais a mais, a preparação da comida e a degustação pode e deve ser algo coletivo, na medida do possível, e aí a galera alimenta os relacionamentos diversos. Claro, durante a semana, especialmente, a gente sabe que família é um grupo que tem a mesma chave da casa e que, eventualmente, dorme debaixo do mesmo teto. Mesmo assim a ideia de que cozinhar deve ser como ler, escrever ou andar de bicicleta é algo a ser cultivado.
Nem falo em preços altos da comida fora de casa, segurança e outros problemas que pintam. Sei, muitos não gostam de lavar panelas, pratos e talheres, mas, paciência, tem sempre alguns que gostam e todo mundo ajudando um pouco a coisa vai.
Sei que esta crônica está meio arroz com feijão, mas qual o problema? Nem todo dia é hora de alta gastronomia e todo mundo sabe que os grandes chefs, no cotidiano, adoram comer arroz com feijão, pão com ovo, bife acebolado, galinha caipira assada e outras iguarias de verdade. As chamadas comidas da alma, da vovó, que têm aquele gosto de natureza, vida e infância que pratos refinados quase não têm.
Ir na feira pelo menos uma vez por semana sempre é bom. Tem gosto de interior, de chácara. Feira da Vasco, da Travessa do Carmo, da Redenção, da Ceará, tantas por aí, ecológicas, orgânicas ou simplesmente naturais e, agora, algumas em shoppings, deixam a gente feliz, encontrando os amigos e os feirantes, que se tornam amigos. Eu sei, estou falando abobrinhas, mas são da feira.

a propósito...

São mais de 30 anos de Feira do Livro, que chega à 62ª edição, e este ano topei uma ideia do site e da fotografia do JC. Estamos produzindo uma série com histórias que rolam pela praça. Já mostraram as crianças da Rede de Escolas São Francisco que lançaram livro o mundo dos balaios e vem mais: a árvore solar (tecnologia que foi plantada na praça), meus encontros com colegas como Luiz de Miranda e a madrinha Cíntia Moscovich, achados e barbadas de biografias e muita história no quiosque das editoras do Senado e Câmara dos Deputados. Veja no site e no Facebook do JC e assista! (Jaime Cimenti)