Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cinema

- Publicada em 24 de Novembro de 2016 às 22:42

Cotidiano revelador

O cinema sempre esteve aberto a todas as propostas. Desde os seus primórdios ele tem sido uma mescla fascinante de realidade e fantasia. Se os Irmãos Lumière deram a partida registrando o cotidiano de uma estação de trem e flagrando a saída de operários de uma fábrica, George Méliès levou, impulsionado pela imaginação, sua câmera até a Lua. Desde aqueles primeiros anos, o cinema tem sido um caminho para que o cotidiano seja abordado de forma a revelar seus segredos e suas mensagens e também para que a imaginação, por caminho diverso, mas não oposto, nos coloque diante de sinais esclarecedores e pontos de partida indispensáveis ao processo destinado a decifrar os enigmas da realidade.
O cinema sempre esteve aberto a todas as propostas. Desde os seus primórdios ele tem sido uma mescla fascinante de realidade e fantasia. Se os Irmãos Lumière deram a partida registrando o cotidiano de uma estação de trem e flagrando a saída de operários de uma fábrica, George Méliès levou, impulsionado pela imaginação, sua câmera até a Lua. Desde aqueles primeiros anos, o cinema tem sido um caminho para que o cotidiano seja abordado de forma a revelar seus segredos e suas mensagens e também para que a imaginação, por caminho diverso, mas não oposto, nos coloque diante de sinais esclarecedores e pontos de partida indispensáveis ao processo destinado a decifrar os enigmas da realidade.
Filmar o real e dele extrair significados esclarecedores é tarefa essencial ao cinema, algo que os realizadores do grupo maior costumam praticar, até mesmo quando abrem espaço para a fantasia e para o espetáculo. O japonês Hirokazu Kore-Eda, o realizador de Depois da tempestade, é um cultor do cinema voltado para um realismo que procura a recriação da vida em seus mínimos detalhes. Ele é um cultor de um cinema cujas raízes estão no neorrealismo italiano, que provavelmente tem em Humberto D, de Vittorio De Sica, e Viagem à Itália, de Roberto Rossellini, seus exemplos maiores. E, também, é claro, em Era uma vez em Tóquio, de Yasujiro Ozu, filme que costuma frequentar lista dos dez melhores de todos os tempos e que tem admiradores que o colocam no ponto mais alto da História do Cinema.
Assim como Ozu, Kore-Eda coloca os seus personagens em primeiro lugar. O cinema está a serviço deles. O cineasta acredita que registrar o pulsar da vida é a tarefa mais importante de sua arte. Em toda a narrativa do filme não há um momento em que as figuras humanas filmadas sejam colocadas em segundo plano. Não há, no filme, momento algum que a direção apareça como elemento superior ao que está sendo filmado. Aliás, a cena final, não deixa de lembrar aquelas imagens registradas pelos operadores dos Lumière, que colocavam suas câmeras nas ruas e registravam o movimento. O cineasta parece dizer no epílogo que são infinitos os dramas à espera de uma câmera que os registre e dê vida cinematográfica a seus protagonistas.
Mas esta opção não significa uma rendição à simplicidade. Ao contrário: saber encontrar no cotidiano os signos que permitam definir e compreender um ser humano é tarefa ao mesmo tempo rica e necessária. Numa das primeiras cenas do filme, quando o filho se encaminha para a casa paterna, a visão da escultura o remete ao passado e também antecipa uma das mais belas cenas do filme, quando a família é recomposta durante a ameaça da tempestade. Naquele momento um sonho se concretiza através da fantasia, sem que a realidade, representada pela chuva e o cenário da infância, seja alterada. Vincente Minnelli, que sabia filmar como poucos as fantasias humanas, certamente apreciaria e muito esta cena, na qual a busca dos bilhetes de loteria reforça o tema central da obra.
O filme de Kore-Eda é um amplo painel sobre a busca do equilíbrio. O personagem do filme, sendo uma mescla de detetive e escritor, é ao mesmo tempo o homem que revela as imperfeições humanas e o que registra o empenho em decifrá-las e assim corrigi-las. E também uma figura que vivencia o grande drama de não recompor o perdido e de expressar em sua trajetória a extrema dificuldade em se transformar na criatura que sempre almejou ser. Eis um filme sobre o sonho de conseguir ser o protagonista de uma grande história e depois se transformar num coadjuvante do espetáculo. Numa cena a matriarca e algumas amigas ouvem um quarteto de Beethoven.
O tema da tempestade ameaçadora e a sobrevivência humana diante das adversidades da vida era um tema apreciado pelo autor alemão. Tal cena também aborda por outro ângulo o tema central do filme: a busca constante do cenário protetor, difícil de ser encontrado num mundo em que a harmonia permanece distante e no qual, passado o temporal, o anonimato impera e o sonho e a proteção se desfazem.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO