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Jornal da Lei

- Publicada em 25 de Novembro de 2016 às 17:08

Livro aponta treinamento violento como principal fator para formação de jovens infratores

Rolim afirma que a evasão das escolas leva jovens ao crime organizado

Rolim afirma que a evasão das escolas leva jovens ao crime organizado


DIVULGAÇÃO/JC
Laura Franco
Há mais ou menos 20 anos, Marcos Rolim estava em viagem de estudos nos Estados Unidos. Ao entrar em uma livraria em São Francisco, se deparou com uma obra do famoso criminólogo americano Lonnie Athens. Athens reproduziu uma pesquisa feita com apenados condenados de morte. O trabalho, pioneiro na época, inspirou Rolim, que, ao entrar no programa de doutorado, desenvolveu um estudo detalhado sobre a formação de jovens violentos. Hoje, o mestre e doutor em Sociologia vê sua tese se tornar livro.
Há mais ou menos 20 anos, Marcos Rolim estava em viagem de estudos nos Estados Unidos. Ao entrar em uma livraria em São Francisco, se deparou com uma obra do famoso criminólogo americano Lonnie Athens. Athens reproduziu uma pesquisa feita com apenados condenados de morte. O trabalho, pioneiro na época, inspirou Rolim, que, ao entrar no programa de doutorado, desenvolveu um estudo detalhado sobre a formação de jovens violentos. Hoje, o mestre e doutor em Sociologia vê sua tese se tornar livro.
Rolim sempre se interessou pelo tema da violência extrema, aquela que não há motivação aparente para acontecer. Durante os 20 anos que se dedicou às mais variadas leituras sobre o assunto, interessou-se pela teoria da violentização, desenvolvida por Athens, e também pela teoria do auto-controle, de Travis Hirschi. Essas foram as motivadoras do trabalho que, ao se somarem com outras referências, deu vida à tese "A formação de jovens violentos: para uma etiologia da disponibilidade violenta", defendida no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. "Para mim, não faz sentido deixar essa produção na academia. A tese está quase na íntegra no livro e quero disponibilizá-la a quem interessar", garante ele.
O estudo foi dividido em duas partes. Na primeira delas, o sociólogo montou um grupo com 17 jovens internos da Fundação Atendimento Socioeducativo (Fase). Quase todos haviam cometido homicídios. Assim, os entrevistou e aplicou questionário com mais de 100 perguntas sobre a vida desses jovens. "O que menos interessava eram os crimes. Eu queria saber o que vinha antes. O objeto era identificar o que havia os formado", explica.
A segunda parte foi um estudo quantitativo. A base era de cinco grupos, dentre eles os 17 entrevistados da fase, estudantes da periferia de Porto Alegre, presos do Presídio Central da Capital e presos por receptação, que totalizaram 111 jovens. "Cruzando os dados, busquei encontrar os principais fatores causais da violência extrema. Foram 26 os recorrentes, desses, quatro se destacaram: treinamento violento, envolvimento com pequenos crimes e drogas ilegais cedo, expulsão da escola e violência familiar", destaca.
Ele afirma que a grande surpresa foi o treinamento violento se tratar do principal fator, respondendo por mais da metade da disposição de violência. "Eu vinha muito influenciado pelo Athens, então sempre imaginei que a violência extrema estava ligada à violência paterna na infância. Esse é um dos fatores presentes e tem importância, mas de longe não explica o problema." Ele explica que o treinamento acontece após evasão escolar, assim que o jovem se une a um grupo criminoso que faz uma socialização perversa desse indivíduo. "Esses meninos, ao abandonarem a escola, são recrutados pelo crime organizado. O governo não se preocupa em saber quantos são ou o que fazer com eles", lamenta Rolim.
Para o pesquisador, a grande contribuição do estudo pode ser de escancarar o fracasso com relação à educação pública. "Em geral, quando falamos em educação, falamos em melhorar sua qualidade. O furo é mais em baixo, devemos manter o jovem na escola", sintetiza. Rolim garante que, resolvendo isso, melhora-se também a segurança no Brasil e essa deve ser uma das prioridades dos gestores públicos.
O sociólogo salienta que a leitura serve como apresentação de um panorama atualizado da criminologia contemporânea. "Os primeiros capítulos tratam de levantamentos do que se está produzindo no mundo nessa área. Só a pesquisa bibliográfica já é muito útil". Além disso, os relatos dos jovens são o grande diferencial do livro, que, segundo o autor, promete surpreender os leitores. "Nós que moramos em zonas mais privilegiadas, não sabemos da guerra dentro das periferias, só somos surpreendidos ao sermos vítimas dela. A guerra nos alcança, porque ela não está mais confinada na periferia e apavora a gente", reflete. Segundo Rolim, essa realidade é existente há décadas nas vilas do Estado e em poucos momentos transforma-se em escândalo público. "Não estou relativizando a situação ou desculpando alguém, mas precisamos compreender essa delicada e grave situação, e o estudo se propõe a iniciar isso". Para ele, esse estudo pode ser ampliado, realizando com grupos maiores e diversificados.
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