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Teatro

- Publicada em 27 de Outubro de 2016 às 22:44

Luiz Paulo Vasconcelos recriado

Já é tradição do Porto Alegre em Cena publicar, anualmente, um livro que documente a carreira e a trajetória de uma figura de nosso teatro, como ator, atriz, diretor, cenógrafo etc. Neste ano, o homenageado foi Luiz Paulo Vasconcelos. No caso de Vasconcelos, coube ao ator Zeca Kiechaloski a tarefa. Já no título fica evidenciada a perspectiva de homenagem do trabalho, Ao mestre, com carinho.
Já é tradição do Porto Alegre em Cena publicar, anualmente, um livro que documente a carreira e a trajetória de uma figura de nosso teatro, como ator, atriz, diretor, cenógrafo etc. Neste ano, o homenageado foi Luiz Paulo Vasconcelos. No caso de Vasconcelos, coube ao ator Zeca Kiechaloski a tarefa. Já no título fica evidenciada a perspectiva de homenagem do trabalho, Ao mestre, com carinho.
Este sétimo volume está organizado em capítulos que fazem referência ao calendário escolar (já que, em seu título, fala-se a respeito do professor). Assim, temos a admissão, o primeiro período, a que se segue o intervalo, e depois uma série de outros períodos. O livro se encerra com os capítulos denominados "Pós-graduação", "Mestrado" e "Doutorado". O texto se organiza em duas primeiras pessoas, a de Zeca Kiechaloski, que faz uma simpática e emocionada introdução, e a do próprio personagem, que começa falando a respeito de sua família carioca. Apesar de carioca, a família de Vasconcelos tem raízes mineiras, ainda que relativamente pouco exploradas, segundo ele.
Nas recordações de Vasconcelos, estão Barbara Heliodora, recentemente falecida, o cenógrafo e diretor Gianni Ratto, também desaparecido há pouco, que foram seus examinadores de vestibular para o Conservatório de Teatro, na antiga capital federal.
Mas isso não significou que Vasconcelos começasse profissionalmente no teatro. Na verdade, ocupou-se de funções burocráticas, desenvolveu trabalhos na editora Delta (que inclusive publicava uma enciclopédia excelente, a Delta Larousse, de que tenho uma coleção). Foi neste meio tempo que, a convite de Gerd Bornheim, Vasconcelos acabou se transferindo para Porto Alegre.
Deste tempo, posso eu falar: a caça às bruxas que o Ato Institucional desencadeou, depois de 1968, atingiu em cheio ao Departamento de Arte Dramática da Ufrgs, assim como o curso de Letras, onde eu me encontrava. Na verdade, também cursava disciplinas no DAD, por isso meu trabalho esteve sempre vinculado ao teatro, inclusive esta coluna.
Vasconcelos chegou logo assinando a direção de um espetáculo, A ópera dos três vinténs, de Bertolt Brecht, no "palquinho de seis metros por quatro", como ele recorda. Aliás, espetáculo a que assisti e sobre o qual escrevi, ainda na época do Caderno de Sábado do Correio do Povo. Vasconcelos afirma: "nunca mais voltei ao Rio, só em férias. Porto Alegre passou a ser a minha terra, minha casa...". Eu diria que Porto Alegre adotou Vasconcelos como ele adotou a cidade.
Não aparece quase no livro, mas está lá, no final do volume, na relação de trabalhos que Vasconcelos assinou enquanto diretor: Agamenon, de Ésquilo. Era 1971. O jornalista Paulo Fontoura Gastal, entusiasmado com a ideia da montagem, resolveu dedicar toda uma edição do Caderno de Sábado à peça. Cuidei da sua organização e, na sexta de tardinha, comecei a revisão dos textos.
Gostei muito da peça, mas passei toda aquela tardinha e parte da noite amaldiçoando o homem da tipografia da Caldas Júnior: ele havia composto na sua linotipo, milhares de vezes, o nome "Esquilo", assim mesmo, sem o acento! Imagine o leitor eu corrigindo cada "Esquilo" para transformá-lo em "Ésquilo", inclusive atrasando a rodagem do jornal por causa disso...
Vasconcelos e eu já brigamos, por causa de política partidária. Mas nunca deixei de respeitá-lo enquanto artista, e acabamos reatando a amizade, tanto que neste último festival, ele, Sandra a Dani e eu nos encontramos em vários espetáculos e nos sentamos juntos.
É muito bom reencontrar amigos, sobretudo quando a gente gosta deles e os respeita. Vasconcelos conseguiu dar um ar de profissionalismo ao nosso teatro. Muitas gerações de nossos atuais diretores e atores/atrizes passaram por suas mãos. Ele aqui refez família, ele aqui, hoje em dia, vai ao super nos fins de semana, ele daqui sai para alguma temporada teatral fora... mas volta sempre. Por isso, a homenagem deste ano foi mais que merecida, e o livro foi sensivelmente idealizado. Por um ator... é claro.
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