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Cinema

- Publicada em 13 de Outubro de 2016 às 23:41

Poesia e corrupção

Susanna White, realizadora britânica com uma extensa filmografia restrita à televisão, tenta a tela grande do cinema com este Nosso fiel traidor, no qual revela de forma bem clara sua origem profissional. Tudo é filmado de forma apressada, o desenho de personagens se limita a traços pouco reveladores e os temas abordados não são tratados de forma a enriquecê-los através de variações elucidativas.
Susanna White, realizadora britânica com uma extensa filmografia restrita à televisão, tenta a tela grande do cinema com este Nosso fiel traidor, no qual revela de forma bem clara sua origem profissional. Tudo é filmado de forma apressada, o desenho de personagens se limita a traços pouco reveladores e os temas abordados não são tratados de forma a enriquecê-los através de variações elucidativas.
Há também a preocupação de fazer de cada plano uma região obscura, algo que coloca na imagem mais sombras do que luzes. Quando realizou Psicose, Alfred Hitchcock, que trabalhou para a televisão e admirava a rapidez com a qual seus técnicos organizavam uma narrativa, trocou seu fotógrafo preferido por outro que atuava na tevê, pois percebeu que o filme que pretendia necessitava de uma técnica que se afastasse da tradicional narrativa cinematográfica.
Só que o mestre soube utilizar as sugestões da então nova proposta, transformando-as e não se limitando a transferi-las para o espaço maior do cinema. Qualquer espectador perceberá que a diretora não está acostumada com o cinema. Suas tentativas de encobrir limitações são facilmente percebidas a todo o momento. A relativa repercussão que filme vem obtendo se deve ao fato de estar baseado num original de John Le Carré, que fez da Guerra Fria o tema maior de sua obra. O escritor, por sinal, é um dos produtores do filme, o que, de certa forma, revela que está de acordo com esta adaptação.
Assim como em O homem que sabia demais, outro clássico de Hitchcock, agora também a ação começa no Marrocos. Só que, naquele filme, a grande e antológica sequência desenrolada no Royal Albert Hall tinha tudo a ver com a narrativa, e agora, a que abre a ação, um espetáculo de dança, é um elemento que nada tem a ver com o que o filme a seguir irá mostrar. Terminado o conflito no qual as potências vencedoras da Segunda Guerra Mundial se transformariam em protagonistas de outro tipo de combate, aquele travado no campo da espionagem e das guerras geograficamente limitadas, sem falar na utilização da propaganda, surgiu um novo cenário mundial.
Ainda há os que falam como se estivessem no século XIX e parece que ainda não tomaram conhecimento da denúncia feita em 1956 pelo líder da antiga URSS, sobre os crimes praticados pelo stalinismo. Sem esquecer, é claro, os que do outro lado ainda combatem inimigos imaginários. Numa época em que Wall Street se abre para empresas de um país comandado pelo partido único e que interesses maiores transformam conflitos ideológicos em miniaturas inexpressivas, o tema da espionagem e dos embates políticos teria de ceder espaço para outros temas. Assim, o cinema, que também participou com suas armas da Guerra Fria não poderia estar ausente neste mundo novo, no qual a corrupção assume o papel de protagonista.
O filme de Susanna White, cujo roteiro foi escrito por Hossein Amini, procura focalizar esta realidade na qual todos os valores são submetidos à força maior da ambição e ao domínio do poder do dinheiro. Talvez seja esta a ideia que a cineasta pretendia com aquele prólogo: a arte sem significado num mundo regido por outro tipo de interesse. E como o personagem principal é um professor de literatura, escreve sobre poesia em jornais de Londres, tal proposta se completa, só que de maneira bastante superficial. Há outros elementos aproveitados de forma ligeira, como a do relacionamento do delator russo com a família e também a do professor com sua mulher. Mas não deixa de ser curioso que os vilões da Guerra Fria estão outra vez em cena, só que agora transformados em criminosos e corruptos. Não só eles. Ao mostrar para o público que mesmo entre agentes britânicos a corrupção age como força auxiliar da máfia russa, o filme, pelo menos, não se deixa levar pelo maniqueísmo e se afasta da ingenuidade. Mas a cena que parece ser a mais bem resolvida é aquela na qual o agente britânico, depois de atuar como um personagem que prepara o prato principal, toma conhecimento da lista definitiva. Eis um filme que, pelo tema que aborda, merecia melhor tratamento.
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