O inferno astral da Triunfo Participações e Investimentos (TPI) vai além do vencimento de dívidas de curto prazo. Ela é sócia de uma das empresas envolvidas na Operação Lava Jato (a UTC), entrou na mira do Ministério Público Federal (MPF) por causa de uma obra e tem uma importante concessão de rodovia que vence em 2017. No meio disso tudo, ainda tem de conviver com a crise econômica, que afeta a movimentação nas estradas e nos aeroportos.
"Nossa margem de manobra é limitada. Não posso deixar o nível de serviço piorar por causa da crise (sob pena de ser punido pela agência reguladora)", afirma o presidente da TPI, Carlo Bottarelli. Mas, segundo ele, com ganho de escala, a empresa conseguiu fazer sinergias em algumas concessões, o que permitiu reduzir o quadro de funcionários.
Segundo o executivo, o objetivo hoje é "desalavancar" a empresa, ou seja, reduzir o nível de endividamento. Esse processo foi iniciado em 2015 com a venda de duas hidrelétricas para a China Three Gorges Energia Brasil (CTG), por cerca de R$ 2 bilhões. "A empresa tem uma capacidade de solvência grande, porque tem patrimônio e ativos bons, que podem ser vendidos", diz o analista da Eleven Financial Research, Adeodato Netto.
Na avaliação de Botarelli, como a capitalização não parece razoável no atual cenário, a venda de ativos deve ser prioritária. Na lista de empreendimentos está a participação do grupo na empresa de energia Tijoá e até em Viracopos. Há ainda um terreno de 1 milhão de m2 em Santos. O executivo garante que, por ora, não há nenhuma venda em curso ou em estágio avançado.
Além das renegociações de dívidas, a Triunfo tem outra preocupação imediata. No mês passado, o MPF entrou na Justiça com uma ação de improbidade administrativa por causa de supostas irregularidades cometidas em obras da nova subida da serra na BR-040, entre as cidades de Juiz de Fora (MG) e Petrópolis (RJ).
Por causa desse pedido, a Concer - empresa do grupo que administra um trecho da rodovia BR-040 - teve bens bloqueados judicialmente por suspeita de superfaturamento nas obras. "Mas os únicos bens que a concessionária tem são 2 ambulâncias, 1 guincho e veículos leves", destaca Bottarrelli, explicando que o governo está inadimplente com a empresa por causa dessa obra. Em 2013, a empresa assinou um aditivo com o governo para tocar a construção.
"Pegamos uma dívida e tínhamos de pagar com o dinheiro que receberíamos do governo, mas os pagamentos foram suspensos no ano passado. Em maio deste ano, desmobilizamos uma obra de 2.500 pessoas num eixo importante para o País." Hoje, a empresa renegocia a dívida da Concer. A companhia já havia feito quatro de cinco túneis previstos no projeto. "Em algum momento, terão de nos pagar por esse serviço, seja por meio de tarifa, prazo ou dinheiro."