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recursos humanos

- Publicada em 03 de Outubro de 2016 às 18:35

Igualdade de gênero é desafio

Empresas começam, ainda de forma tímida, a buscar formas de encontrar equilíbrio no ambiente corporativo

Empresas começam, ainda de forma tímida, a buscar formas de encontrar equilíbrio no ambiente corporativo


VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
A busca pelo equilíbrio em um ambiente corporativo vai muito além de assinaturas e discursos. E pode chegar à mais básica das questões: a oferta de banheiros aos funcionários, como descobriu a Braskem. Como o setor petroquímico tem historicamente uma baixa participação das mulheres - hoje, essa presença na empresa ainda está em 22%-, o vice-presidente de comunicação, marketing e desenvolvimento sustentável da empresa, Marcelo Arantes, diz que algumas "lacunas" acabaram passando despercebidas ao longo do tempo.
A busca pelo equilíbrio em um ambiente corporativo vai muito além de assinaturas e discursos. E pode chegar à mais básica das questões: a oferta de banheiros aos funcionários, como descobriu a Braskem. Como o setor petroquímico tem historicamente uma baixa participação das mulheres - hoje, essa presença na empresa ainda está em 22%-, o vice-presidente de comunicação, marketing e desenvolvimento sustentável da empresa, Marcelo Arantes, diz que algumas "lacunas" acabaram passando despercebidas ao longo do tempo.
Uma delas: a quantidade limitada de banheiros femininos no setor industrial, o que obrigava as mulheres a ter de andar bem mais do que os homens quando precisavam ir ao toalete. Além disso, as unidades produtivas também não tinham vagas para grávidas. A partir do diálogo com as funcionárias, a Braskem converteu 73 banheiros, em todo o Brasil, de masculino (ou misto) para feminino. Também providenciou estacionamento adequado para gestantes.
Nas áreas administrativas, a presença das mulheres é maior. Ao valorizar a presença feminina, a empresa também se preocupa em demonstrar que as escolhas pessoais das funcionárias não sejam um impeditivo para seu desenvolvimento profissional. Para Fernanda Nascimento, doutoranda em Ciências Humanas, pesquisadora em gênero e autora do livro "Bicha (nem tão) má - LGBTs em novelas", esse dado demonstra que divisão que permanece entre atribuições, com homens na área petroquímica e mulheres no setor administrativo.
Marina Amore, 33 anos, que trabalha no departamento de marketing da Braskem, voltou há cerca de um mês de sua segunda licença-maternidade e, agora, trabalha junto com sua gestora para encontrar o equilíbrio entre suas tarefas familiares e as obrigações na empresa. Ela conta que, entre os temas que já debateu desde seu retorno ao trabalho, está a questão das viagens corporativas. "Eu e minha chefe combinamos que eu saberei claramente quando for essencial que eu faça uma viagem", exemplifica.
A igualdade entre gêneros é uma das principais bandeiras da presidente da Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), Deborah Vieitas. "As empresas precisam criar espaço para que elas evoluam na carreira enquanto constituem família e têm filhos. Assim, não vão perder profissionais preparadas, que optam por deixar a carreira para priorizar a família", diz. A presença de Deborah na presidência da Amcham, aliás, reforça a mudança - e também a lenta evolução - da questão do gênero no meio empresarial. Em 96 anos de história, esta é a primeira vez que a entidade é liderada por uma mulher.
A inserção justa e sem discriminações no mercado de trabalho ainda é uma grande dificuldade que as mulheres encontram em seu dia a dia. Dificuldades de alcançar cargos de chefia, passando pelo desafio de dividir responsabilidades com família e emprego, até diferenças de salário pesam no lugar de trabalho que a mulher ocupa. Para mudar essa realidade, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, criou o Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, uma iniciativa que identifica as empresas que prezam pela promoção de igualdade entre mulheres e homens no ambiente de trabalho.
Criado em 2005, o projeto que garante o Selo de Pró-Equidade de Raça e Gênero para empresas públicas e privadas chegou à sua sexta edição em abril deste ano, com 124 empresas participantes. Para isso, a empresa se inscreve e deve fazer o seu próprio plano de ação, identificando quais pontos da organização de trabalho podem melhorar para as mulheres.

Sexualidade começa a romper barreira do silêncio na vida corporativa

Letícia foi a namorada que Jonathan Tso inventou há cinco anos, ao ingressar na Ambev - a criação foi decorrência do receio de revelar sua orientação sexual aos colegas. Falava em "Letícia" toda vez que, na verdade, queria contar algo sobre o namorado, Leonardo. Meses depois, quando finalmente disse aos colegas que é gay, foi bem recebido. "No início, fiquei em dúvida, não sabia como seria aceito", disse ele. "Depois disso, passei a ser aberto. Não cometi o mesmo erro."
Histórias semelhantes à de Jonathan se repetem todos os dias nas empresas brasileiras - onde, em geral, ainda predomina a lei do silêncio ou as referências veladas. Para falar do assunto abertamente e incentivar os funcionários a serem autênticos na vida corporativa, gastando sua energia não em esconder quem são, mas em trabalhar, três empresas criadas no Brasil assinaram em setembro um compromisso com o Fórum de Empresas e Direitos LGBT: a gigante das bebidas Ambev, a petroquímica Braskem e o escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe.
O secretário executivo do Fórum, Reinaldo Bulgarelli, afirma que as três adesões concomitantes são um marco - uma vez que a entidade vem debatendo a questão da diversidade com empresas brasileiras há mais de três anos. Essa dificuldade se estendia, apesar de várias multinacionais com atuação local terem aderido à carta de compromissos da entidade de forma imediata. Entre as signatárias figuram Google, Dow, GE, Avon, Facebook e 3M.
Na Ambev, o tema ganhou força no último ano. Criou-se, no início de 2016, um grupo que debate o assunto dentro da empresa e que hoje já tem dezenas de membros. O vice-presidente de gente e gestão da Ambev, Fabio Kapitanovas, diz que, a partir da abertura do grupo, ficou claro que o público LGBT era relevante, em números, dentro da companhia. Na Ambev, homossexuais já tinham direito, há alguns anos, aos mesmos benefícios de casais heterossexuais, mas o assunto não era tratado diretamente no momento da contração.
O funcionário homossexual tinha de perguntar para obter a informação. Agora, diz Kapitanovas, o material de introdução à companhia já deixa tudo evidente desde o princípio - e por escrito. "Falar abertamente sobre o assunto tira um peso das costas das pessoas", diz Bruno Rigonatti, que trabalha na área de inteligência de mercado da Ambev e faz parte do grupo LGBT da companhia.
Para quem acompanha o "estilo Ambev" há mais tempo, essa guinada em favor da diversidade surpreende. Um recrutador, que pediu anonimato, lembra que, até 10 anos atrás, a empresa não se preocupava com o tema.
Especialista em cultura corporativa, Cristina Nogueira, sócia da Walking the Talk, diz que a mudança pode ter um fundo pragmático, uma vez que a diversidade não era uma questão para a geração anterior, mas pesa na escolha dos talentos de hoje. A sócia do Trench, Rossi e Watanabe, Anna Melo, diz que uma política séria de diversidade pode ajudar não só na produtividade interna, mas também a atrair negócios - em especial na disputa de contratos internacionais. "Participamos de uma concorrência com outros escritórios e acabamos ganhando o trabalho", conta a advogada. "Outros escritórios tiveram avaliações semelhantes. O que pesou a favor foi a questão da diversidade."