Publicada em 02 de Setembro de 2016 às 18:10

O eterno desafio da comercialização

Dalla Vecchia teve que ampliar a produção para atender demanda por embutidos em outras cidades

Dalla Vecchia teve que ampliar a produção para atender demanda por embutidos em outras cidades


CLAITON DORNELLES/JC
Luiz Eduardo Kochhann
Um dos grandes desafios das agroindústrias gaúchas é, sem dúvida, a comercialização. Embora tenham avançado em produtividade e qualidade, a grande maioria não está apta a vender fora dos limites dos seus municípios.
Um dos grandes desafios das agroindústrias gaúchas é, sem dúvida, a comercialização. Embora tenham avançado em produtividade e qualidade, a grande maioria não está apta a vender fora dos limites dos seus municípios.
Em 2011, governo do Estado lançou o Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, o Susaf, com a intenção de padronizar as diretrizes de inspeção e permitir o comércio intermunicipal de produtos de origem animal. Cinco anos depois, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Rural, são 18 cidades habilitadas.
Onde avançou, o sistema trouxe benefícios. A cidade de Aratiba, na região do Alto Uruguai, foi a segunda com um estabelecimento aprovado no Susaf. Em dezembro do ano passado, a agroindústria Dalla Vecchia conquistou o direito de comercializar seus embutidos - salame, copa e torresmo - para outros municípios. "Antes, tínhamos uma série de barreiras. Com o Susaf, aumentamos produção, a renda e criamos quatro empregos diretos", conta o proprietário Douglas Dalla Vecchia.
Desde então, a desconfiança terminou, e o projeto de tirar o sustento familiar da agroindústria se tornou uma realidade. A produção dobrou: são, em média, 3 mil quilos de alimentos por mês. Por causa do crescimento exponencial da demanda, oriunda principalmente de cidades dos arredores, a próxima meta é adquirir novos equipamentos para agilizar o processo produtivo. Ou seja, as novas perspectivas de comercialização, segundo Douglas, colocaram a Dalla Vechia em outro patamar. "Dá para dizer que foi uma revolução", comemora.

Produtor opta por mudança de endereço

 Expointer 2016 - agricultura familiar crédito Claiton Dornelles JC

Expointer 2016 - agricultura familiar crédito Claiton Dornelles JC


CLAITON DORNELLES/JC
Ao contrário de Aratiba, em municípios onde o Susaf não foi implantado, o cenário pode ser completamente diferente. O produtor João Carlos Moerschberger, por exemplo, foi obrigado a se mudar para outra cidade. Moerschberger apostou na obtenção do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Ambiental (Suasa), que permite a comercialização em todo o Brasil, pela cidade de Crissiumal, e investiu na ampliação da Agroindústria Saci, voltada à produtos embutidos. A homologação veio em 2008, mas questões políticas e burocráticas emperraram o processo de liberação.
Na época, foram R$ 200 mil investidos em maquinário e outras reformas de adequação na planta. "No fim das contas, aconteceu que ficamos com uma indústria de capacidade ociosa nesse período", reclama. Do processamento possível de 2 mil quilos diários o local tira, atualmente, uma fatia de apenas 300 quilogramas. Para não arcar com o prejuízo, Moerschberger optou pela migração. "Não vimos outra saída a não ser migrar para outro ponto e associar a agroindústria a outras atividades para potencializar a comercialização", explica o empreendedor.
A mudança da Saci para Três de Maio, que tampouco possui Susaf, está em andamento. Às margens da BR-472, foi construída uma planta nova e um espaço similar a um paradouro. No total, serão 1,1 mil metros quadrados construídos.
Aos poucos, a estrutura de Crissiumal será deslocada. Agora, o objetivo é aproveitar o fluxo de 10 mil veículos por dia na rodovia para incrementar as vendas dos embutidos da Saci e de pelo menos outras 50 agroindústrias. Além disso, os visitantes encontraram um café colonial e atrações culturais.

Dificuldades nos municípios atrapalham mais adesões

O que impede um número maior de adesões ao Susaf, segundo o secretário geral da Fetraf-RS, Rui Valença, é que, muitas vezes, os municípios têm dificuldades para regularizar o Serviço de Inspeção Municipal (SIM), um pré-requisito. "Na maioria dos casos, falta vontade política das administrações locais, pois é preciso ter uma equipe técnica e de fiscalização", explica.
Entretanto, para Valença, destravar o processo passa, em primeiro lugar, por uma reestruturação na legislação sanitária estadual. "Muitas agroindústrias que atingiram excelência em qualidade têm seu limite de crescimento condicionado por não poderem atingir os grandes centros urbanos", lamenta o secretário-geral da Fetraf-RS, que considera a legislação incoerente.
Entretanto, para Valença, destravar o processo passa, em primeiro lugar, por uma reestruturação na legislação sanitária estadual. "Muitas agroindústrias que atingiram excelência em qualidade têm seu limite de crescimento condicionado por não poderem atingir os grandes centros urbanos", lamenta.
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