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Economia

- Publicada em 26 de Setembro de 2016 às 18:56

Opinião econômica: Os 'olimpistas'


Jonathan Heckler/Arquivo/JC
De tempos em tempos, ao longo da história do Brasil, um grupo de brasileiros se reúne para fazer algo inusitado, fora da curva, algo que surpreende e reafirma o Brasil perante o Brasil, nos lembrando a todos a vocação de grandeza que esse País tem.
De tempos em tempos, ao longo da história do Brasil, um grupo de brasileiros se reúne para fazer algo inusitado, fora da curva, algo que surpreende e reafirma o Brasil perante o Brasil, nos lembrando a todos a vocação de grandeza que esse País tem.
Foram assim os modernistas na Semana de Arte Moderna de 1922, os tropicalistas na década de 1960 e, recentemente, os "olimpistas", como batizei o grupo de produtores criativos, artistas e intelectuais que surpreenderam o mundo e o próprio Brasil com as cerimônias de abertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos.
Quando a grande maioria de nós esperava pouco ou quase nada das cerimônias de abertura dos Jogos de 2016, eles encantaram o mundo graças ao talento e à paixão de Fernando Meirelles, Andrucha Waddington, Daniela Thomas, Rosa Magalhães, Marcelo Rubens Paiva, Vik Muniz, Fred Gelli, Flávio Machado e outros tantos talentos.
Sob a batuta de Abel Gomes, eles produziram cerimônias de abertura do nosso jeito. E fomos campeões porque não quisemos ser os Estados Unidos ou a China ou o Reino Unido, por exemplo. Fomos lindos porque fomos nós mesmos.
Atolado numa dura crise e cheio de motivos para não acreditar em si, o Brasil mostrou ao mundo e sobretudo a si mesmo a potência criativa que é, que somos. O Brasil pode ser um "soft power" e se projetar no mundo não apenas com nossas commodities.
A propaganda brasileira, por exemplo, conquista todos os principais prêmios mundiais porque ela espelha a criatividade atávica do Brasil. Nosso cinema, nossa arquitetura, nossa literatura, nossas artes plásticas, nossa música são exemplos continuados desse "Brasilzão" que conquista o mundo quando joga o seu próprio jogo bonito.
A feiura de nossa desigualdade social e nossos desatinos políticos fazem esse Brasil talentoso descrer de si mesmo. Aí a bossa nova vai lá e pimba! Faz o País voltar a acreditar que pode ser ele mesmo, mas de um jeito diferente, como João Gilberto.
Não estou aqui defendendo que o Brasil fique sempre querendo inventar a roda, pelo contrário. Tem muitas áreas em que o Brasil economizaria tempo e dinheiro copiando o que dá certo nos países mais desenvolvidos do mundo.
O Brasil oscila entre o complexo de superioridade, que é querer fazer tudo do jeito dele, e o complexo de vira-lata, o nosso complexo de inferioridade de descrer mesmo de áreas em que somos muito fortes, descrer de nossas próprias virtudes.
Como na propaganda de Marcelo Serpa e Washington Olivetto, ou no design de Fred Gelli, que deu um banho de talento no design da Rio 2016, para ficar em duas áreas nas quais o Brasil tem excelência mundial e não precisa ficar copiando ninguém.
O Rio de Janeiro que encantou o mundo tem design de Oscar Niemeyer, paisagismo de Burle Marx e a vida criativa, risonha e original dos cariocas. O povo carioca foi medalha de ouro em hospitalidade, porque recebeu do jeito dele, do jeito carioca.
É isso que o Brasil, se quiser ser uma potência e se afirmar com o seu "soft power", tem que entender e não pode esquecer.
Os "olimpistas" das cerimônias de 2016 nos levaram ao céu no Maracanã. Eles nos lembraram que, para ganhar e encantar o mundo, a receita, pelo menos na área de marketing e cultura, é ser apenas o que a gente é e pronto, porque aí a gente é "bão" como Guimarães Rosa.
Publicitário e fundador do Grupo ABC
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