Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Agronegócios

- Publicada em 20 de Setembro de 2016 às 22:30

Produção define perfil de investimento do produtor

Em alguns casos, poupança é feita do item cultivado pelos produtores

Em alguns casos, poupança é feita do item cultivado pelos produtores


JONATHAN HECKLER/JC
Todos os anos, entre agosto e setembro, os principais bancos do País voltam os olhos para o agronegócio e instalam, nas feiras do setor, salas de atendimento voltadas às demandas dos produtores rurais. O objetivo central é atender a busca por crédito, já que na feira são adquiridos animais e máquinas para ampliar ou aprimorar a produção.
Todos os anos, entre agosto e setembro, os principais bancos do País voltam os olhos para o agronegócio e instalam, nas feiras do setor, salas de atendimento voltadas às demandas dos produtores rurais. O objetivo central é atender a busca por crédito, já que na feira são adquiridos animais e máquinas para ampliar ou aprimorar a produção.
É por conta dessa característica que os principais intermediadores bancários, quando questionados sobre onde os agricultores investem, logo respondem equipamentos, terras, insumos, genética ou rebanho. E o capital, quando entra na jogada? A reflexão, então, se estende mais, sendo acompanhada de inúmeras ponderações e contextualizações, que deixam claro que investir, com objetivo de rentabilizar o capital obtido graças à produção agropecuária, ainda é algo disponível a poucos, sobretudo os que estão à frente de médios e grandes empreendimentos.
Para algumas atividades, inclusive, não é incomum que a poupança seja feita do próprio item que o agricultor comercializa. "Uma boa parte dos produtores tem poupança em grãos", descreve João Antônio Lapolli, especialista Agronegócios do Sistema Sicredi. Obviamente, não é possível rechear a carteira de soja, mas, conforme surge a necessidade, a commodity pode ser vendida, o que não deixa de ser uma poupança. No entanto, nem sempre é uma opção vantajosa, já que, ao comercializar o grão quando precisa, o produtor terá que se adequar ao valor do período em que ocorrerá a venda, nem sempre o que estabelece os melhores preços.
Carlos Aguiar, executivo de Agronegócios do Santander, relata situação semelhante na pecuária. Com o rebanho já gordo, pronto para o abate, o criador, quando perguntado sobre a espera, respondeu que esses animais ele estava guardando para pagar o banco no mês seguinte. E é assim, investindo no próprio segmento que o agronegócio se mantém em crescimento, porém com baixa liquidez entre os produtores, sobretudo, familiares.
Isso acontece, também, porque o agricultor geralmente está tomado de crédito, usado para custear a produção. Quando entra o dinheiro, ele quita o débito, para que novo financiamento de custeio seja tomado a fim de bancar a produção. Dessa forma, o ciclo produtivo e financeiro se casam, numa relação difícil de se desfazer, por sinal. "Mesmo o produtor rural rico tem uma oscilação de caixa, a não ser que ele esteja muito rico", detalha o executivo do Santander.
Um dos motivos que levam a essa situação está no fato de o produtor assumir o crédito como pessoa física, e não como jurídica, explica Aguiar. Assim, a prerrogativa número um para o sucesso das finanças empresariais, que é segregar o capital jurídico e físico, deixa de ser cumprida, e o agricultor fica condicionado à própria produção.

Patrimônio imobilizado se sobrepõe à liquidez no agronegócio

O investimento em terras é uma das características mais emblemáticas dos produtores rurais, avalia Carlos Aguiar, executivo de Agronegócios do Santander. "Quando sobra um dinheiro, a opção é ampliar os negócios, comprando terras", descreve sobre o perfil do seu público. A consequência é um patrimônio elevado em ativos, porém com baixa liquidez. O executivo do Santander nota que existem dois perfis distintos de empreendedores nesse ramo: aqueles que investem no setor para ganhar dinheiro e os que têm uma forte ligação com o campo.
É no segundo grupo que o padrão de investimento tende a ser mais voltado para a expansão da produção, dos negócios, e não tanto na rentabilidade do capital. O fato positivo é que essa condição faz com que o agronegócio seja tão produtivo, já que quem tem o setor rural como vocação tende a investir forte no ramo. Por outro lado, fazer uma reserva de capital, quando as condições permitirem, é o melhor caminho para quem quer crescer sem ficar tão vulnerável, orienta o superintendente estadual do Banco do Brasil, Edson Bündchen. "Quando há uma crise grande, o patrimônio perde valor", observa.
Com liquidez e acesso às linhas de financiamento, o agricultor tem mais poder na hora de vender ou de aproveitar oportunidades no setor. "O ideal seria que o agricultor estivesse sempre capitalizado e com acesso ao crédito", detalha. Isso assegura, por exemplo, que ele buscará vender a produção objetivando o melhor preço, e não necessidades financeiras pessoais.
Uma das ferramentas que os agricultores dispõem para alcançar o preço mais vantajoso é a venda a termo, modalidade em que se antecipa a comercialização a um valor preestabelecido. Se na data da venda a commodity estiver cotada abaixo do que foi negociado, o produtor já garantiu o preço mais favorável. Porém, se estiver em alta, esse acréscimo não vem. A vantagem, no entanto, é que o valor adequado foi "travado", como se diz no mercado financeiro.
É descrevendo o agricultor gaúcho como conservador que João Antônio Lapolli, especialista Agronegócios do Sicredi, afirma que, na comparação com outros estados, o Rio Grande do Sul realiza um volume menor de vendas antecipadas.

Segredo é diversificar a carteira e buscar melhores condições de rentabilidade

Ainda que o perfil de investimento do produtor esteja bastante atrelado à produção e seja conservador, como é o comum para o setor primário, as opções de aplicações nem sempre passam despercebidas por esse público. "Eu invisto nos meus dois filhos", brinca o coordenador da Fetraf-Sul, Rui Valença, acrescentando, posteriormente, que costuma aplicar o excedente, priorizando, sobretudo, o CDI.
"O agricultor que tem um nível baixo de endividamento e boa gestão da propriedade se capitalizou bem nos últimos anos", aponta Edson Bündchen, superintendente estadual do Banco do Brasil. Essa capitalização a mais tem ido, no entanto, para a poupança, sinaliza. Mas aqueles com mais volume de recursos e mais apetite para o mercado financeiro estão buscando CDB, fundos de investimento, LCA, CRA e até mesmo investimento em ações.
Diversificar os investimentos, alocando parte da renda para expansão dos negócios, mas buscando também rentabilização de baixo, médio e longo prazo é a soma de condições mais recomendada por analistas do mercado financeiro.
Na avaliação de Leandro Ruschel, sócio-fundador do Grupo L&S - grupo de empresas especializadas em soluções na hora de investir -, é importante que o produtor rural busque opções de investimento rentáveis que tenham baixo custo de administração. Para isso, recomenda, é importante pesquisar para além dos bancos. "Pela nossa experiência, muitos acabam concentrando investimentos nos bancos em que têm relacionamento e linhas de financiamento", exemplifica.
Essa é uma estratégia que, novamente, demonstra o quanto esse público é conservador e preserva a segurança. No entanto, é possível buscar opções de aplicações financeiras de renda fixa e asseguradas pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) no mercado financeiro. Diferentemente das instituições bancárias, que têm cestas de produtos com valores semelhantes, as corretoras de investimento disputam os investidores pelo menor custo nas operações, avalia.
"Hoje, buscamos também não só oferecer os produtos, mas explicar os riscos", detalha sobre a transparência e proximidade com o investidor. Ruschel lembra, ainda, que a condição de remuneração brasileira tem sido favorável por conta dos juros, situação que deve mudar gradualmente com a normalização da política econômica. "Devemos observar a redução da taxa de juros, e isso deve empurrar o investidor a diversificar sua carteira de investimento", projeta.