Caroline da Silva

A partir de amanhã, será possível conhecer o resultado de uma das propostas selecionadas pela última edição do edital Rio Grande do Sul do programa Natura Musical, com apoio e financiado pelo Pró-cultura RS LIC (Lei de Incentivo à Cultura), da Secretaria de Estado da Cultura. Trata-se de uma série de 10 documentários em curta-metragem, podcasts, fotos e textos sobre a pluralidade da música produzida por estes pagos. A iniciativa faz parte do Gema - projeto de pesquisa e registros multimídias, idealizado pelo pesquisador e produtor Lucas Luz.

Com experiência anterior em cultura popular e tradicional, Luz reuniu um grupo de músicos e pesquisadores - Ismael Corrêa de Oliveira, Rafael Dezesseis (sound designer), Francisco Cadaval (diretor de vídeo) e Mario Ferrari (diretor de arte e multimeios) - que, com a consultoria de Arthur de Faria e Pedrinho Figueiredo, percorreram o Estado realizando vivências e interações com diferentes músicos, mestres, grupos e comunidades tradicionais. "Precisava de uma equipe, com a estrutura que esse projeto exigia, não tinha como ser apenas eu e minha mochila. Acabei encontrando em alguns de meus amigos os profissionais necessários, pois coincidentemente já trabalhavam com essas áreas técnicas. Pedrinho e Arthur foram convidados para serem nossos consultores, pois já estão no cenário da música há muito tempo, também são pesquisadores. Talvez não de forma tão profunda quanto o que Gema é, mas trouxeram nomes e um conhecimento incrível", destaca o produtor.

Quase como um mosaico de road movies e documentários, a iniciativa persegue os elementos e a linguagem musical presente em tradições ancestrais e folclóricas do território gaúcho, transmitidas pela interação entre diferentes povos, como espanhóis, portugueses, índios, africanos, italianos e alemães, entre outros, e seus contextos, como o rural e o urbano. O conteúdo produzido para diferentes plataformas mostra as características plurais da nossa música, comprovando o quanto ela é universal e, acima de tudo, brasileira.

Os protagonistas desta história são os índios Mbya-Guarani da Aldeia Tekoa Guaviraty Porã, de Santa Maria; Regional do Ibicuí, formado por quilombolas que cultivam a tradição da gaita, em Santana do Livramento; Bonitinho, guitar hero conhecido por animar bailes e salões de CTGs; Maçambique de Osório, um dos grupos tradicionais mais antigos do Estado, formado por negros devotos de Nossa Senhora do Rosário; Goela Seca, bandinha típica alemã de Feliz; Adelar Bertussi, um dos maiores gaiteiros do Brasil e grande divulgador do bugio, ritmo genuíno gaúcho, com origens indígenas; Luis Vagner, guitarreiro, suingueiro, cantor e compositor; Antônio Carlos de Xangô, pai de santo; Mestre Paraquedas, mestre griô, contador de histórias, artista plástico, pesquisador e compositor; e Mestre Renato, mestre de terno de reis e luthier de violas, violões, violinos, cavaquinhos e bandolins.

Luz conta ainda que Gema é a continuidade do que já fazia, mas que dificilmente seria realizado - desta forma - sem os recursos e incentivo Natura Musical RS. "Por trabalhar com elaboração, planejamento e gestão de projetos culturais desde 2012, 'moldei' a ideia para as normas do edital." Ele considera o mecanismo fundamental: "Realizar um trabalho através deste programa é de extrema responsabilidade. Saber que fomos avaliados por curadores e jurados com grande histórico de contribuição na música popular brasileira nos traz a certeza de que estamos no caminho correto". O idealizador ainda exalta a oportunidade de colocar Mestre Renato lado a lado com Gal Costa e Luiz Melodia, por exemplo.

Também será lançada uma revista com fotos e um pequeno perfil dos protagonistas registrados, para distribuição gratuita em escolas e pontos de cultura. Os 10 documentários, registros fotográficos, textos e entrevistas serão divulgados entre setembro e dezembro no site www.projetogema.com.br e na fanpage www.facebook.com/ProjetoGema.

Além disso, haverá sessões comentadas em Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo e Caxias do Sul. A primeira delas será realizada nesta quinta-feira, no Santander Cultural (Sete de Setembro, 1.028), às 19h, com entrada franca. Serão apresentados os cinco primeiros documentários (direção de Cadaval), abordando a Aldeia Tekoá Guaviraty; Regional do Quilombo, Bonitinho, Maçambique de Osório e Bandinha Goela Seca, com bate-papo com a equipe.