Transformando lixo em arte

Se as mobilizações natalinas se iniciam em meados de novembro para a maioria das pessoas, na Cooperativa Casulo, em Canoas, as movimentações já começam em janeiro. Toda a decoração natalina da cidade é feita pelas 19 mulheres e um homem que trabalham na cooperativa no decorrer do ano. A outra peculiaridade da Casulo está no material do cenário: é todo produzido com garrafas pet. No Natal do ano passado, foram recicladas 350 mil garrafas plásticas; só na árvore de 13 metros foram 64 mil.

O projeto se iniciou em 2009, como uma iniciativa da Secretaria Municipal de Projetos Especiais, Captação e Inovação. A secretária, Thais Pena, afirma que, antes disso, a decoração de Natal da cidade era muito escassa, então passaram a pensar em uma decoração natalina, porém que não fosse apenas isso, mas que unisse a decoração com um projeto social e de qualificação profissional. A partir de uma parceria com uma designer paulista, surgiu o Natal da Transformação. "De lá para cá, viemos construindo um novo Natal. O mais importante de um projeto é que a população reconheça como seu, e isso fomos conquistando ao longo dos anos", ressalta Thais.

Nos primeiros anos, a prefeitura promoveu um concurso público nacional, e a empresa vencedora realizava o projeto para as mulheres executarem. Há três anos, o projeto do Natal está sob a responsabilidade de uma arquiteta do Rio de Janeiro. Neste ano, está sendo utilizado o mesmo do ano passado, porém com algumas reformas.

A secretaria considera que 2015 foi a consagração do Natal da Transformação, pois foi quando a população reconheceu o projeto e o surgimento da cooperativa - antes, os participantes passavam por uma inscrição em um edital aberto pela prefeitura. Os 20 integrantes da Casulo tiveram uma capacitação para a produção de objetos com garrafas pet e também aulas de empreendedorismo. O objetivo era empoderar as comunidades que vivem em situação de vulnerabilidade social, assim como trabalhar a autoestima, a capacidade criativa e também a conscientização em relação a problemas ambientais.

Conciliando com a produção natalina, a Cooperativa Casulo criou a Coleção Luminós. São 10 tipos de luminárias, todas também produzidas com garrafas pet. O trabalho é extremamente meticuloso. Depois que Sérgio, o único homem da cooperativa, separa os tipos de garrafa, as mulheres revezam-se para lavá-las e então recortam, lixam, transformam as PET em fio e até fazem tricô e crochê. A presidente da Casulo, Ângela Maria da Silva, ressalta que o trabalho é árduo, porém muito satisfatório. "É muito importante para nós, algumas trabalham aqui há cinco ou seis anos, estranharíamos bastantes se não tivéssemos este trabalho", destaca Ângela.

Além da Coleção Luminós, foram produzidas bijuterias, chaveiros e porta-guardanapos. As mulheres já participaram de duas feiras em São Paulo expondo seus produtos e, agora, preparam-se para viajar até Paraty, no Rio de Janeiro. Atualmente, estão em negociação com uma grande empresa varejista brasileira para comercializarem os produtos.

As garrafas utilizadas são oriundas da rede pública municipal. As crianças recolhem como parte de uma prova da gincana escolar, além de estudarem sobre educação ambiental e a importância da reciclagem.

Thais acredita que tanto o Natal da Transformação como a cooperativa chegaram à sua maturidade e que as mulheres estão prontas para vender seus produtos a qualquer lugar. "É uma realidade que tem tudo para tirar 20 famílias da situação de vulnerabilidade, o projeto já mudou a vida delas", salienta. Os produtos idealizados pela Casulo podem ser consultados no site da Casulo.