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- Publicada em 17 de Agosto de 2016 às 15:20

A Índia por dentro e por fora

O livro é um belo retrato de uma viagem à Índia, mas que vai muito além do mero olhar turístico sobre o universo real

O livro é um belo retrato de uma viagem à Índia, mas que vai muito além do mero olhar turístico sobre o universo real


Divulgação/JC
Índia - além do olhar (Ateliê Editorial, 184 páginas, R$ 35,00), da professora doutora Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo, formada em Letras e Direito pela USP, onde se doutorou, e professora na Universidade de Sorocaba, é um belo retrato de uma viagem à Índia, mas que vai muito além do mero olhar turístico sobre o universo real.
Índia - além do olhar (Ateliê Editorial, 184 páginas, R$ 35,00), da professora doutora Marleine Paula Marcondes e Ferreira de Toledo, formada em Letras e Direito pela USP, onde se doutorou, e professora na Universidade de Sorocaba, é um belo retrato de uma viagem à Índia, mas que vai muito além do mero olhar turístico sobre o universo real.
Marleine já escreveu vários livros, entre os quais Milton Hatoum - Itinerário para um certo relato e Olga Savary - Erotismo e paixão, e mais de 200 artigos publicados em revistas, jornais, tabloides e periódicos do Brasil e do exterior. Já foi premiada pela Associação Paulista dos Críticos de Arte.
Em linguagem simpática e comunicativa, neste livro de viagem, a autora nos traz informações essenciais para todos quantos queiram saber sobre a Índia ou ir até lá como visitantes. Como se sabe, a Índia é um país de contrastes, com várias religiões hindus, cultura diversificada e milenar, artesanato rico e variado e monumentos importantes, cada um com sua história. A autora nos mostra as formas e cores vibrantes, os aromas e os sabores inusitados e, sobretudo, nos mostra como o velho convive com o novo, como o concreto anda com o abstrato e como o transitório está ao lado do eterno, neste país tão multifacetado.
Ao lado das vivências exteriores, a autora construiu um caminho místico e aí reside o diferencial deste livro. Na parte inicial, a obra trata de aspectos gerais, economia e história; na segunda parte, as cidades são enfocadas; na terceira, a sociedade indiana, com suas castas e seus costumes religiosos são tratados. A última parte cuida de literatura, cinema, medicina ayurveda e culinária, inclusive fornecendo receitas. Na parte final, conclusões, referências bibliográficas, referências webgráficas e dados sobre a autora.
A autora diz que o que mais a marcou na viagem que fez foi o contato com a espiritualidade indiana e a percepção de que a aura sacralizante vai se intensificando à medida que se adentra à terra, da forma como ela adentrou.
A Índia tem 330 milhões de deuses, cada um com seus mitos, seu culto, sua história. Pobreza e riqueza estão lado a lado. Barulheira das ruas e a calma dos tempos, o sagrado e o profano, e descobertas místicas. Marleine aqui e ali traça interessantes paralelos entre a Índia e o Brasil, que têm realidades por vezes bem semelhantes.
Os leitores vão conhecer a Índia, país que tem paixão por cinema e onde são produzidos mais de 1.000 filmes por ano. Índia que tem o maior poema de todos os tempos, o Ramaiana, com seus 200.000 versos e sete vezes a soma da Ilíada com a Odisseia e que tem o Kama Sutra, o clássico das artes do amor físico.

Lançamentos

  • O cego e a natureza morta (Edições Ardotempo, 144 páginas, R$ 35,00), da consagradíssima poeta e professora Maria Carpi, detentora de quatro Prêmios Açorianos de Literatura, traz poemas em três cantos longos. Alfredo Aquino apresenta: é uma belíssima reflexão em estrutura e ritmo poético, sobre olhar e não ver. "O cego enxerga com mais precisão e acuidade do que todos os que veem", diz Maria Carpi.
  • O Sargento, o Marechal e o Faquir (Libretos, 272 páginas), do premiado jornalista e escritor Rafael Guimaraens, resgata a trajetória do sargento Manoel Raymundo Soares, primeira vítima da repressão pós-1964. Queria distribuir panfletos contra Castelo Branco. Caiu numa cilada. Sua morte trágica ficou conhecida como o Caso das Mãos Amarradas.
  • Pasolini (L&PM Pocket, 214 páginas), de René de Ceccatty, romancista, dramaturgo, crítico e editor italiano, fala de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), um dos principais cineastas italianos de todos os tempos. Poeta, homossexual assumido, artista, dramaturgo e teórico de arte, Pasolini foi brutalmente assassinado em uma praia de Óstia, Itália.

Somos todos vira-latas

Tem alguns equivocados aí que acham que porque tem umas velhas certidões dos parentes, que muitas vezes casaram entre si, e porque tem umas propriedades e uns diplomas, seriam portadores do tal e enganoso pedigree. Eles se acham uns cachorros de raça, desses que vêm com certificado, dizendo que os antepassados eram do mesmo tipo que ele. Ledo engano. No início de tudo, a cachorrada e os humanos eram os mesmos e foram se misturando. Na Inglaterra, Alemanha e Itália, dizem, foi onde o sangue mais se misturou. Hoje é tudo misturado, no fundo, no fundo, cão, gato, cachorro, humano, todos têm uma raça só, com diferenças apenas culturais.
Quando perdemos para o Uruguai na Copa de 1950, em pleno Maraca, e pintou aquele baixo-astral federal, Nelson Rodrigues escreveu que tínhamos complexo de vira-lata, que nos sentíamos inferiores, selvagens, gente de segunda ou terceira, comparados com os gringos de outras paragens, mais "desenvolvidos", segundo os critérios deles. Depois que ganhamos um caminhão de copas, de vira-latas passamos a pastores, e aí, nos últimos tempos, melhor não falar muito em nosso futebol, que está parecendo o ouro que os antigos colonizadores nos levavam. Hoje, o ouro é representado pelos milhares de jovens jogadores que vão para o estrangeiro, levados pelo dinheiro e pelo poder que o futebol tem, principalmente na Europa.
Mas e qual é, no fundo, o problema em ser vira-lata, rafeiro (Portugal) "underdog" ou SRD ("sem raça definida")? Qual é o animal ou ser humano que tem raça bem definida? Vira-lata é dócil, companheiro vigilante e inteligente, afetuoso. Ainda por cima, vira-latas vivem, em geral, bem mais que os outros cães, adoecem menos e não necessitam de tantos cuidados veterinários. Viva o vira-lata! O vira-lata, de mais a mais, gasta menos com tosa e causa menos problemas com os parentes, amigos, vizinhos e desconhecidos.
Nessa Olimpíada, alguns podem até se ser sentir cães de raça superiores, com medalhas e honrarias, fama, orgulho, dinheiro no bolso e, muitas vezes, cabeças entupidas de neuras, olhos cegos de vaidade e peitos empombados explodindo de orgulho. Outros talvez se sintam vira-latas, procurando restos e sobras, catando oitavos e nonos lugares, achando que não têm o tal pedigree e os recursos que os pretensos raçudos têm. Ao fim e ao cabo, ganhando ou perdendo, todos descendem dos mesmos, são todos da raça humana, e as circunstâncias de uns subirem ao pódio e outros não são circunstanciais e coisas criadas pelos humanos, que gostam de se sentir melhores, mais bonitos, espertos, inteligentes, ricos e vencedores que seus vizinhos. Manter o espírito olímpico, achar que o que importa é competir e tomar cuidado para que o ouro não acabe no penhor da Caixa ou derretido pela necessidade é o que os todos os democráticos vira-latas sabem, ou precisam saber.
Assim, vamos respeitar e saudar os vira-latas, que têm muitos méritos e merecem consideração, por carregarem o DNA de todo mundo, com alegria, inteligência e sem aquela pose e aquela empáfia dos metidos a raçudos.

A propósito...

Há muito que cientistas e estudiosos decretaram que não existem raças humanas, e sim apenas uma raça humana, que somos todos descendentes dos mesmos antepassados. Diferenças existem no plano cultural e não na biologia. O vira-lata é isso. A soma, a democracia, o todo. A raça. Raça não definida? Não, todas as raças. Cães servem para caça, guarda, pastoreio, puxar trenós, combater outros animais, se apresentar em peças de publicidade, circo, cinema, teatro e onde for. Vira-latas servem para mostrar que somos todos vira-latas, da mesma raça, alguns adotados, morando e comendo bem dentro das casas e outros ainda nas ruas, procurando restos e sobras. Todos somos vira-latas. Quem sabe um dia com condições iguais.