Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

- Publicada em 10 de Agosto de 2016 às 13:41

Casamento destroçado segundo Elena Ferrante

Abertura do livro de Elena Ferrante

Abertura do livro de Elena Ferrante


BIBLIOTECA AZUL/DIVULGAÇÃO/JC
Elena Ferrante é o pseudônimo de uma escritora italiana que tem sido considerada, inclusive pelo New York Times, como detentora de uma das mais fortes e belas prosas contemporâneas. Sucesso de público e de crítica, a autora, que teria nascido em Nápoles há uns 60 anos, raramente concede entrevistas e, quando o faz, é via e-mail. Ninguém sabe ao certo se é homem ou mulher. O que todo mundo sabe é que ela escreve bem, muito bem.
Elena Ferrante é o pseudônimo de uma escritora italiana que tem sido considerada, inclusive pelo New York Times, como detentora de uma das mais fortes e belas prosas contemporâneas. Sucesso de público e de crítica, a autora, que teria nascido em Nápoles há uns 60 anos, raramente concede entrevistas e, quando o faz, é via e-mail. Ninguém sabe ao certo se é homem ou mulher. O que todo mundo sabe é que ela escreve bem, muito bem.
A crítica literária Isabel Lucas e o editor Francisco Vale, portugueses, comparam Elena a Clarice Lispector, pelos temas e estilo, despojados e irônicos, e, principalmente, pela introspecção e pelo modo como Clarice explorava o psicológico dos personagens. Elena mergulha fundo na consciência dos personagens e, com a força gigante de sua narrativa, se recusa a utilizar artificialismos de linguagem.
Dias de abandono (Globo, 184 páginas, tradução de Francesca Cricelli), há poucos dias lançado no Brasil, vem na sequência dos romances A amiga genial e História do novo sobrenome que a Editora Globo já publicou entre nós e que fazem parte da famosa tetralogia napolitana da autora, que conta ainda com História de quem foge e de quem fica e História da menina perdida.
Dias de abandono inicia assim: "Uma tarde de abril, logo após o almoço, meu marido me comunicou que queria me deixar". A partir daí, a narrativa dura e angustiante vai revelando que a banalidade da vida tem um tom extraordinário. Os destroços de um casamento vão aparecendo com força, brutalidade e complexidade avassaladoras. A narradora Olga foi abandonada pelo companheiro de 15 anos, que a trocou por outra. Olga ficou com dois filhos e um cão, num apartamento de Turim. Ela vai tentar, desesperadamente, permanecer sã. E imagina: "A minha tarefa, eu pensava, é mostrar que é possível permanecer sã. Demonstrá-lo a mim mesma, a mais ninguém. Se for exposta aos lagartos, combaterei lagartos. Se for exposta às formigas, combaterei formigas. Se for exposta aos ladrões, combaterei ladrões. Se for exposta a mim mesma, combaterei a mim".
Ela não tem vontade de nada, mas sabe que precisa lutar, tem dois filhos, uma casa para tocar e um cachorro que só dá trabalho. Olga, mesmo exausta, precisa enfrentar o sentimento de perda de equilíbrio, de traição, rejeição e o livro, mesmo narrado em primeira pessoa, caracteriza bem todos os personagens.
A obra não pode deixar de ser vista, por sua temática, como um microcosmo que talvez contenha uma parábola da libertação feminina na sociedade atual: redentora, mas não sem angústias.

Feliz dia do multipai!

Qual o papel da pessoa hoje em dia? Qual o papel do homem? E qual o papel, especificamente, do pai? Especialmente nas metrópoles, cheias de seres, dedos tocando os celulares o tempo todo, compromissos, horários, trens, assaltos e até de alguns afagos, a coisa não está fácil. É estresse demais e estresse de menos - seria melhor que fosse diferente. A Olimpíada nos dá um refresco, que ninguém é de ferro. Ainda bem que as gurias brasileiras conseguem manter o gabarito e o ouro do salão.
Nos tempos do Fred Flinstone e do Barney, ser pai era mais simples, mais básico. Era montar num dinossauro para quebrar e carregar as pedras do senhor Pedregulho ou, então, sair por aí para matar um javali por dia para alimentar a família. Será que era tão simples? Séculos depois, à noite, depois do banho, dos suspiros e da janta, do jornal e do cochilo na frente da TV, deitado na cadeira dele, o papai ficava lá, meio ausente, descansando da jornada de provedor da casa.
Ainda se discute sobre identidade masculina, papel do homem e outros tópicos vibrantes e inesgotáveis, mas hoje muitos papais já exercem o papel de multipai e papai multimídia, com dupla e até tripla jornada de trabalho. O movimento de libertação masculina ainda é incipiente. Multipais trabalham dentro e fora de casa. Eles precisam atuar de várias formas, em vários lugares, com muitas falas e contracenando com atores de diferentes naturezas e grupos.
Além de ir atrás do leitinho das crianças junto com as mamães, os multipais buscam filhos na escola, cozinham, dão banho, trocam fraldas, dão uma mão na casa, auxiliam nas tarefas escolares, pulam de galho em galho, quebram galhos diversos feito macacos gordos, ficam de olho no celular, nos mil horários e compromissos e ficam torcendo para que a violência urbana não acabe em um segundo com um filho, uma construção que não acaba nunca, tipo algumas igrejas do interior.
Multipais e pais modernos têm o atroz fascínio de poder participar mais de perto da aventura diária que é a vida de um filho. Nem todos participam, ainda, mas os que participam ativamente do cotidiano das crias as educam melhor e são mais bem educados por elas de uma forma toda pessoal, individual e que nenhuma palavra, foto, som ou silêncio pode contar com todas as cores e com toda a intensidade.
Nem todos os pais querem ou conseguem participar ativamente do dia a dia da gurizada, por questões de tempo, saúde, trabalho, dificuldades diversas e outros problemas e escolhas, mas sempre dá, mesmo em tempo e espaço reduzido, para buscar um mínimo de afeto e aproximação.
Sempre é hora de largar um pouco, ao menos, o celular e os outros dispositivos de (in)comunicação e de conviver com mais realidade, simplicidade, cumplicidade e alegria.

lançamentos

Reflexões rebeldes (José Olympio, 236 páginas), coletânea de artigos do jornalista e político Cid Benjamin, boa parte publicados em O Globo e O Dia, mostram, ao mesmo tempo, o militante de esquerda e o intelectual crítico e independente tratando de liberdade política, esquerda e despolitização.
Meu nome é Amanda (Fábrica-Rocco, 134 páginas), de Amanda Guimarães, que tem 27 anos, é transexual e vive em Hong Kong, trata de seu canal Mandy Candy. É uma história de superação, transição e aceitação, mas também um relato irreverente sobre alegria de viver, amigos, amores, viagens, gostos e desgostos.
Confiança - O principal ativo intangível de uma empresa (FGV Editora, 220 páginas), do consultor e professor Marco Tulio Zanini, colunista do Valor Econômico, fala deste tema central em gestão empresarial. Qualquer transação depende de confiança entre as partes.
 

a propósito...

Mesmo nesse mundinho high-tech que a gente vive, acho que para um pai ainda não existe quase nada mais tocante que os cartões e objetos que os pequenos fazem na escola para oferecer no dia dos pais. Não há presente, mensagem eletrônica, fotografia ou o que for que substitua um cartãozinho onde esteja escrito: "eu te amo papai!", feito pelo filhote; um porta-lápis ou porta-canetas ou um simples desenho do pai que a criança tenha feito, com habilidade ou não, que isso não tem a menor importância. Importante é que os olhos, as mãos, as mentes e os corações dos pais e dos filhos se toquem, com aquele afeto simples, verdadeiro e insubstituível. Feliz Dia dos Pais! De todos eles.