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Cinema

- Publicada em 19 de Agosto de 2016 às 01:21

Operação Marselha

A primeira constatação a ser feita diante deste A conexão francesa, filme realizado por Cédric Jimenez, é a de que o diretor perdeu a oportunidade de realizar um filme dotado daqueles méritos que estão ausentes da narrativa agora em cartaz. Isso não significa dizer que o relato do cineasta esteja desprovido de qualidades. Elas estão presentes, espalhadas por um trabalho irregular, mas não totalmente carente de méritos. Pelo tema que aborda, o cineasta se aproxima do hoje clássico Operação França, realizado em 1971 por William Friedkin, cineasta que depois iria adquirir fama ainda maior ao realizar O exorcista e que ainda se encontra em atividade, dedicando-se mais a encenações operísticas do que ao cinema. Aquele filme, um dos premiados com o Oscar, teria uma continuação dirigida por John Frankenheimer, numa fase em que o cineasta havia perdido o brilho de seus dias de glória, quando realizou obras como Sob o domínio do mal, Sete dias de maio e O segundo rosto. Jimenez, ao abordar o mesmo tema, o faz mostrando o outro lado da operação destinada a interromper as atividades do crime organizado em Marselha e suas conexões com o mercado norte-americano de drogas. O modelo, e isso não é uma novidade no cinema francês, é o filme hollywoodiano de ação. Mas Jimenez não é apenas um discípulo dos cineastas citados.
A primeira constatação a ser feita diante deste A conexão francesa, filme realizado por Cédric Jimenez, é a de que o diretor perdeu a oportunidade de realizar um filme dotado daqueles méritos que estão ausentes da narrativa agora em cartaz. Isso não significa dizer que o relato do cineasta esteja desprovido de qualidades. Elas estão presentes, espalhadas por um trabalho irregular, mas não totalmente carente de méritos. Pelo tema que aborda, o cineasta se aproxima do hoje clássico Operação França, realizado em 1971 por William Friedkin, cineasta que depois iria adquirir fama ainda maior ao realizar O exorcista e que ainda se encontra em atividade, dedicando-se mais a encenações operísticas do que ao cinema. Aquele filme, um dos premiados com o Oscar, teria uma continuação dirigida por John Frankenheimer, numa fase em que o cineasta havia perdido o brilho de seus dias de glória, quando realizou obras como Sob o domínio do mal, Sete dias de maio e O segundo rosto. Jimenez, ao abordar o mesmo tema, o faz mostrando o outro lado da operação destinada a interromper as atividades do crime organizado em Marselha e suas conexões com o mercado norte-americano de drogas. O modelo, e isso não é uma novidade no cinema francês, é o filme hollywoodiano de ação. Mas Jimenez não é apenas um discípulo dos cineastas citados.
A influência do cinema norte-americano na cultura cinematográfica francesa tem origem numa época em que uma geração descobriu aquela cinematografia depois do final da Segunda Guerra Mundial, quando o mercado exibidor francês foi aberto para as produções norte-americanas. Com Cidadão Kane à frente de todos, muitos foram os filmes americanos a fascinarem uma geração de críticos e futuros cineastas. Sempre é interessante lembrar que Orson Welles, Howard Hawks, Joseph L. Mankiewicz, Vincente Minnelli, Alfred Hitchcock e muitos outros foram valorizados e, em alguns casos, descobertos pela crítica francesa. Jean-Luc Godard deixou clara sua admiração pelos filmes policiais norte-americanos no seu primeiro longa-metragem, Acossado, sendo também clara a influência de Vertigo em O ano passado em Marienbad, de Alain Resnais. Mas o realizador de Conexão francesa também se inspira em dois mestres franceses, Jacques Becker e Jean-Pierre Melville, que realizaram um cinema voltado para uma rudeza que trazia para as telas cenários não frequentados por colegas mais famosos. E nele há também evidências de que o realizador viu e admirou Os Intocáveis, de Brian De Palma, uma fascinante e insuperável fantasia sobre o tema da luta pela justiça.
Jimenez não se iguala aos modelos. Ao ressaltar a vida familiar de seu protagonista, um juiz corajoso e implacável peca pelo excesso, como na cena da cabine telefônica, que integra uma longa sequência desnecessária, pois tudo volta ao estado anterior quando ela se conclui. Se o realizador tentou com tal sequência mostrar que o homem da lei tem características que o aproximam do chefe do crime organizado, o filme está longe de concretizar na tela a ideia de que a agressividade humana, tanto de um lado como de outro, é a comandante das ações. Numa outra cena, o líder da facção criminosa, chega a agredir um de seus comandados quando este apenas revela uma preocupação. Porém Jimenez é competente para criar um clima tenso e dramático em muitos trechos, mostrando que sabe dirigir seus intérpretes. E o filme, mesmo que não esteja revelando segredos ocultos, também vale por lembrar que o crime não é limitado por linhas que marcam o espaço da marginalidade. Nos modelos que inspiraram o realizador, tudo isso já havia sido mostrado. Mas seria injusto não destacar que o diretor é daqueles que, não tendo a ambição de pertencer ao grupo dos renovadores, sabe organizar uma narrativa, procura criar personagens que, por suas ações, são capazes de expor conflitos e dilemas, enquanto oferece ao espectador um filme que quase sempre avança com regularidade e não tropeça na monotonia e naquele artificialismo que procura esconder a indispensável afinidade com a narrativa cinematográfica.
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