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Indústria Naval

- Publicada em 15 de Agosto de 2016 às 15:28

Estaleiros nacionais renegociam R$ 8 bilhões com os bancos e fornecedores

Política de incentivo aos estaleiros nacionais sofre com derrocada da Sete Brasil e com casos de corrupção e de propinas

Política de incentivo aos estaleiros nacionais sofre com derrocada da Sete Brasil e com casos de corrupção e de propinas


AGÊNCIA PETROBRAS/DIVULGAÇÃO/JC
A derrocada da Sete Brasil, criada para gerenciar as sondas do pré-sal para a Petrobras, as denúncias de corrupção e a escassez da demanda internacional por navios de exploração de petróleo deterioraram a situação financeira e operacional dos três estaleiros nacionais ligados a empreiteiras e que eram, até pouco tempo, símbolos da arrancada da indústria naval no País.
A derrocada da Sete Brasil, criada para gerenciar as sondas do pré-sal para a Petrobras, as denúncias de corrupção e a escassez da demanda internacional por navios de exploração de petróleo deterioraram a situação financeira e operacional dos três estaleiros nacionais ligados a empreiteiras e que eram, até pouco tempo, símbolos da arrancada da indústria naval no País.
Juntos, Enseada, Atlântico Sul e Rio Grande estão em processo de reestruturação e renegociam dívidas com bancos e fornecedores da ordem de R$ 8 bilhões. Para alguns especialistas em renegociação, a situações mais crítica é a do estaleiro Enseada Indústria Naval, que pertence a Odebrecht, UTC, OAS e aos japoneses da Kawasaki Heavy Industries. A empresa construiu um estaleiro na Bahia para atender aos contratos para fornecimento de sete navios-sondas para a Sete. Desde início de 2015, a Sete não paga os contratos, e a Petrobras não define se os manterá.
O resultado é que a Enseada terminou o ano com passivo de curto prazo a descoberto de R$ 2 bilhões. Em outubro, ainda terá os primeiros vencimentos do empréstimo de R$ 1,1 bilhão com os bancos do Brasil e Caixa, que repassaram recursos do Fundo de Marinha Mercante. A empresa tenta renegociar prazos e ganhar tempo para encontrar uma solução que gere receita como a produção de torres e geradores eólicos.
Projeto ambicioso criado para revigorar a indústria naval brasileira, a Sete Brasil - envolta em denúncias de corrupção, que também atingiram os estaleiros - entrou em recuperação judicial neste ano. Desde 2015, a companhia tenta um empréstimo de longo prazo para financiar pelo menos parte das sondas que estavam na sua carteira. A Sete chegou a tentar reduzir de 28 para 19 o total de sondas contratadas pela Petrobras, mas não teve sucesso. Sem dinheiro, a estatal parou de pagar os estaleiros, que paralisaram as construções. O balanço da Sete mostra que o calote com os cinco estaleiros com os quais tinha contratos (EAS, Enseada, ERG Jurong e Brasfels) é de R$ 6 bilhões.
Para os bancos, que já tiveram de baixar a prejuízo os empréstimos que fizeram diretamente à Sete Brasil, a situação dos estaleiros também se mostra preocupante. Apenas com a Ecovix, dona do Estaleiro Rio Grande, os bancos estão renegociando dívidas de R$ 4,5 bilhões, sob a liderança do escritório Felsberg e do banco Brasil Plural. Os empréstimos não estão sendo cobrados, mas a empresa tem até o fim do ano para apresentar uma solução, que deve passar pela venda a um investidor estrangeiro.
Os principais sócios da Ecovix, da empreiteira Engevix, estão hoje presos, e alguns já foram condenados por corrupção em contratos com a Petrobras. Todos foram afastados do estaleiro, hoje administrado pelo Banco Plural. A avaliação é de que o fato de o estaleiro manter outros contratos com a Petrobras, e não apenas com a Sete, poderá ser um ponto positivo nas negociações.
O mesmo acontece com o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), da Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que tinha contratos diretamente com a Petrobras. O estaleiro conseguiu manter cinco encomendas da Transpetro e negocia outros sete navios para a Transpetro. O EAS recebeu R$ 400 milhões dos sócios, em parte para manter os contratos de financiamento. A empresa tem uma dívida de cerca de R$ 1,2 bilhão com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes).
Apesar do otimismo em retomar as receitas, seu prejuízo foi de R$ 349 milhões em 2015, que se somaram a perdas de R$ 329 milhões do ano anterior. A empresa tinha contratos com a Sete Brasil, que encerrou unilateralmente ao deixar de receber. Ainda existe uma disputa em torno da questão, mas, de qualquer forma, a empresa ainda precisa renegociar cerca de R$ 500 milhões com fornecedores. Para especialistas em reestruturação, a situação dos estaleiros pode se complicar ainda mais na medida em que a Justiça eventualmente aceitar denúncias do Ministério Público por esquemas de corrupção na Sete Brasil.
Todos os estaleiros foram citados em delações e denúncias como parte de um esquema de cartel e corrupção para conseguir contratos. Até agora, os estaleiros nacionais não foram denunciados individualmente. O estaleiro Enseada informou que não foram apresentadas provas de que houve corrupção. A Queiroz, sócia da Enseada, não quis se pronunciar. A Camargo reforçou que já fez acordo de leniência. Já a Engevix disse que está prestando esclarecimentos às autoridades.

Em dois anos, indústria naval brasileira reduziu em 38 mil os empregos do setor

Política de incentivo aos estaleiros nacionais sofre com derrocada da Sete Brasil e com casos de corrupção e de propinas

Política de incentivo aos estaleiros nacionais sofre com derrocada da Sete Brasil e com casos de corrupção e de propinas


AGÊNCIA PETROBRAS/DIVULGAÇÃO/JC
A crise da indústria naval brasileira pode ser medida pelo número de funcionários que o setor deixou de empregar. Dados do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) mostram que a indústria foi reduzida quase à metade em menos de dois anos. Ao fim de 2014, eram mais de 82 mil empregados; o total caiu para 43 mil em junho.
O cenário traçado pelo sindicato mostra que a indústria naval está voltando a ser o que era nos idos de 2009, não só pelo número de funcionários, mas também pelo perfil dos equipamentos produzidos no País. "Fornecimentos de sondas de perfuração construídas no Brasil não estão mais na pauta", diz um relatório. Porém, existe um mercado perene nos segmentos de reparo, apoio portuário (rebocadores portuários e navios de abastecimento), balsas, embarcações de transporte de passageiros e comboios para transporte fluvial de grãos, minérios, fertilizantes e combustíveis.
A crise do setor foi causada não só pelos escândalos de corrupção esmiuçados pela Lava Jato, mas também por um cenário internacional desafiador. Os preços do petróleo caíram drasticamente, e a demanda mundial arrefeceu. Dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a capacidade industrial dos estaleiros no mundo ficou ociosa. Em 2008, a capacidade estava tomada em 85%, caindo para 56% em 2014. Isso mostra que os estaleiros brasileiros que agora tentam se recuperar da derrocada da Sete Brasil terão forte concorrência externa para novos contratos.
Além disso, a Petrobras está cancelando encomendas. De acordo com o Sinaval, existem indícios de que a estatal pode cancelar os dois últimos cascos que estão sob o contrato do estaleiro Rio Grande. Além disso, a Transpetro cancelou a encomenda de 17 navios, afetando o estaleiro EAS. Em nota, a Petrobras informou que não há nenhum projeto de plataforma de produção de óleo previsto no seu Plano de Negócios e Gestão 2015-19 que tenha sido cancelado. A estatal diz que foram renegociados contratos e adotadas medidas para a continuidade dos projetos. "A companhia informa que está em elaboração o seu novo plano de negócios, que será divulgado em breve."

Sete quer divisão do fluxo de caixa entre acionista e credor

A Sete Brasil protocolou na Justiça do Rio de Janeiro seu plano de recuperação judicial. A proposta não difere muito do que a empresa tentou emplacar ao longo de 2015 nas negociações privadas com credores e Petrobras, segundo fontes. A ideia é reduzir o número de sondas e obter financiamento de longo prazo para a construção dos navios. A polêmica do plano deverá ficar por conta da proposta de igualar credores e acionistas, que receberiam meio a meio o fluxo de caixa gerado pelas sondas que eventualmente saírem do papel.
O sucesso da empreitada continuará dependendo de negociações com a Petrobras, que não andaram desde que a empresa entrou em crise financeira no fim de 2014. A estatal precisa concordar em manter os contratos para as sondas e com o número a ser produzido. O problema é que a própria Petrobras tem seus problemas financeiros, e a empresa está neste momento promovendo uma grande reestruturação de seus planos de investimentos. Novas sondas de exploração, com o atual preço do petróleo, não são o melhor negócio para a empresa.
A proposta que entrou na recuperação judicial é de que, em vez de produzir 28 sondas, como no plano original, o número seja reduzido para algo entre 10 e 12. Os preços se manteriam como originalmente tratados, pelo menos em um primeiro momento. Se a Petrobras finalmente fechar um acordo com a Sete, a ideia seria buscar financiamento com os estaleiros, principalmente os estrangeiros Jurong e Brasfels, que poderiam ter interesse em financiar a construção para reduzir o prejuízo que já estão tendo com a Sete.
O último balanço da companhia mostra que deixaram de ser pagos R$ 6 bilhões aos cinco estaleiros que estavam construindo os 28 navios sondas. Além de Jurong e Brasfels, ficaram sem receber os estaleiros nacionais Enseada, Atlântico Sul e Rio Grande. Um dos objetivos dos acionistas da Sete, com a recuperação judicial, é forçar a Petrobras a finalmente tomar uma decisão.
A proposta de dividir o fluxo de caixa meio a meio com credores também seria uma forma de conseguir de volta os R$ 8,3 bilhões investidos. Pelas regras de recuperação judicial, os acionistas normalmente são os últimos a receber, mas com um passivo de R$ 18 bilhões, principalmente com bancos, ficaria muito distante a possibilidade de alguma recuperação do prejuízo. O maior acionista é o BTG, com 27,5% do fundo investidor da Sete. A ideia de dividir o fluxo de caixa gerado com as encomendas poderá eventualmente ser aceita pelos credores, já que muitos deles são também acionistas. De qualquer forma, dependerá primeiro da Petrobras.

EBR recebe casco da P-74 e ameniza crise

Política de incentivo aos estaleiros nacionais sofre com derrocada da Sete Brasil e com casos de corrupção e de propinas

Política de incentivo aos estaleiros nacionais sofre com derrocada da Sete Brasil e com casos de corrupção e de propinas


AGÊNCIA PETROBRAS/DIVULGAÇÃO/JC
O casco da plataforma de petróleo P-74, que vai amenizar a crise do setor naval do Estado, deixou o estaleiro Inhaúma, no Rio de Janeiro, no dia 19 de julho, e chegou ao porto do Rio Grande, onde atracou no estaleiro EBR, na cidade de Sâo José do Norte. As obras feitas no Rio de Janeiro foram a conversão de um casco de navio para que a embarcação possa ser transformada em uma plataforma (um FPSO - unidade flutuante que produz e armazena petróleo) da Petrobras.
No Rio Grande do Sul, será cumprida a etapa de instalação de módulos da planta de produção e de processamento de petróleo e gás à unidade, além da integração dos seus sistemas. No total, o casco da P-74 tem 326,2 metros de comprimento, 28 metros de altura e uma largura de 56,6 metros. A plataforma terá capacidade para produzir até 150 mil barris diários de petróleo e comprimir 7 milhões de m3 de gás natural por dia.
Depois de concluída a adaptação, a plataforma entrará em operação no pré-sal, na bacia de Santos. O casco da plataforma P-74 pertencia a um cargueiro do tipo VLCC (Very Large Crude Carrier), termo que designa os navios petroleiros com capacidade de carga entre 200 e 320 mil toneladas de porte bruto.
A conversão, em Inhaúma, incluiu o reforço estrutural do casco; a construção de novos módulos de acomodação, com capacidade para 110 pessoas; a substituição integral dos equipamentos originais, além da fabricação e instalação de 13 mil toneladas de estruturas novas, necessárias para suporte dos módulos, das linhas de produção e do novo sistema de ancoragem, entre outros.
Segundo informações do prático da barra de Rio Grande, Pedro Luppi, a estrutura permaneceu sete dias a 30 milhas do porto, esperando boas condições de ventos e correntes, para a manobra que levou a embarcação até o estaleiro nortense. A manobra começou por volta das 3h, segundo Luppi, quando os práticos foram para bordo. Por volta das 7h, o casco começou a entrar no canal da barra e, somente perto das 18h, a operação foi concluída. De acordo com o prático, foi uma manobra complexa, por se tratar de uma estrutura sem motor. Ele informou que foram utilizados sete rebocadores e de 100 a 150 pessoas, entre práticos e tripulantes, que se envolveram na manobra.
O presidente em exercício do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio Grande e São José do Norte, Sadi Machado, calcula que, com a chegada do casco da P-74, deverão ser gerados, diretamente, mais 600 a 700 postos de trabalho. "É algo que vem em uma hora oportuna, mas ainda não vai resolver a situação", comenta o sindicalista. Machado refere-se à crise pela qual passa a indústria naval brasileira, impactada pelas dificuldades da economia e pela Operação Lava Jato.
O dirigente sindical informa que os três estaleiros da Metade Sul gaúcha (EBR, QGI e Ecovix) estão empregando atualmente em torno de 6 mil a 7 mil pessoas. Entretanto aproximadamente outros 6 mil trabalhadores do setor estão desocupados no momento. De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio Grande e São José do Norte, uma ação que incentivaria o segmento é a garantia de um patamar adequado de conteúdo nacional nas demandas da Petrobras. Outra situação que traria mais tranquilidade ao polo naval do Estado seria a confirmação da vinda dos cascos da P-75 e P-77 para obras no estaleiro QGI, o que intensificaria os serviços nessas plataformas e reduziria o desemprego.