O Ibama decidiu negar a licença ambiental para a construção da usina de São Luiz do Tapajós, no Pará. A presidente do Ibama, Suely Araújo, determinou que o processo referente à hidrelétrica seja arquivado. Se ainda assim quiser tocar o projeto, o governo terá de começar o processo do zero. Diante dos impactos sobre o meio ambiente e os indígenas, investigações de corrupção em obras do setor e resistência de bancos em financiar grandes empreendimentos, dificilmente isso deve ocorrer.
A decisão segue orientação da diretoria de licenciamento e da comissão de avaliação e aprovação de licenças ambientais do Ibama, que apontaram obstáculos legais e constitucionais. O projeto também recebeu parecer contrário da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Fundação Nacional do Índio (Funai). "O projeto apresentado e seu respectivo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) não possuem o conteúdo necessário para análise da viabilidade socioambiental, tendo sido extrapolado o prazo (...) para apresentação das complementações exigidas pelo Ibama", escreveu a presidente do Ibama.
Polêmica desde sua concepção, a usina seria construída em meio à terra indígena Sawré Maybu, dos índios mundurukus, entre os municípios de Itaituba e Trairão, no Pará. Após anos de espera, a Funai reconheceu o território em abril, mas ainda falta um decreto presidencial para encerrar o processo. Cerca de 12 mil índios vivem na região. Para construir a usina, seria necessário alagar 729 quilômetros quadrados em uma das regiões mais sensíveis e preservadas da Amazônia. Técnicos do governo apontavam impactos irreversíveis nas aldeias, inclusive alagamento de terras indígenas, o que a Constituição proíbe.
Maior projeto do setor elétrico, a usina teria potência de 8 mil megawatts (MW) e capacidade para atender mais de 20 milhões de domicílios. Seu custo era estimado em R$ 32 bilhões. O licenciamento da usina foi solicitado em 2009 pela Eletrobras, responsável pelo projeto, mas foi suspenso em abril. Para tentar viabilizá-lo, a estatal criou o conceito de "usina plataforma", inspirado nas plataformas de petróleo isoladas em oceanos.
A Eletrobras defendia que não seria necessário erguer vilas e abrir estradas para construir a hidrelétrica, pois todo o transporte de pessoas e equipamentos seria feito por rios e céus, evitando agressões ao meio ambiente e migração populacional. No ano passado, os técnicos do Ibama já haviam sinalizado que não acreditavam nesse conceito. Para o órgão, essas promessas eram impossíveis de serem cumpridas pelos construtores da obra. Uma das maiores defensoras da usina era a presidente afastada Dilma Rousseff. A hidrelétrica era tratada como prioridade absoluta na sua gestão, pois seria o último grande projeto hidrelétrico do País.