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Contas Públicas

- Publicada em 26 de Agosto de 2016 às 14:30

Falta de planejamento e gestão reduz retorno social projetado aos Jogos Olímpicos

Estudo aponta concentração dos gastos e ausência de planejamento como erros na produção do evento

Estudo aponta concentração dos gastos e ausência de planejamento como erros na produção do evento


ANTONIN THUILLIER/AFP/JC
Distantes mais de mil quilômetros da capital gaúcha, os Jogos Olímpicos Rio 2016 podiam parecer algo completamente desinteressante ao Rio Grande do Sul ou aos demais estados brasileiros no que diz respeito às contas públicas. Porém, quando R$ 24,6 bilhões dos mais de R$ 39 bilhões gastos com infraestrutura e operações relativas às competições vêm do orçamento federal, compreender e avaliar os gastos e seu legado ao País se tornam imprescindíveis.
Distantes mais de mil quilômetros da capital gaúcha, os Jogos Olímpicos Rio 2016 podiam parecer algo completamente desinteressante ao Rio Grande do Sul ou aos demais estados brasileiros no que diz respeito às contas públicas. Porém, quando R$ 24,6 bilhões dos mais de R$ 39 bilhões gastos com infraestrutura e operações relativas às competições vêm do orçamento federal, compreender e avaliar os gastos e seu legado ao País se tornam imprescindíveis.
Esse foi o propósito do relatório Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro - Aspectos Orçamentários e Estratégicos, um dos estudos do projeto Gestão Pública Eficaz, elaborado em parceria pela Faculdade de Economia (Face) da Pucrs e pelo Sescon-RS. Além de examinar os gastos, o estudo analisa a distribuição dos recursos na cidade e as contribuições pretendidas e alcançadas com a realização do evento no Brasil.
A realização e a organização dos Jogos Olímpicos da Era Moderna assumiram, desde meados do século XX, importância política, econômica e social. Assim, por exemplo, foram os jogos de Berlim, em 1936, quando a organização valeu-se da realização do evento para propagandear junto ao público, interno e externo, as ideias do governo alemão. Também foi emblemático o evento sediado em Londres, em 1948, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, entre tantos outros.
O mesmo ocorre com outros eventos esportivos, como, por exemplo, a Copa do Mundo, realizada no Brasil em 2014. Para o País, a realização de dois eventos de grande porte em curto período de tempo poderia representar o "novo status" no contexto global. Essa era a aposta ao acumular a Copa do Mundo de futebol e as Olimpíadas, algo que poucos países antes do Brasil ousaram fazer: Estados Unidos (1994 e 1996), Alemanha (1972 e 1974) e o México (1968 e 1970).
Nesse sentido, a realização dos eventos não é apenas uma oportunidade para assistir a alguns desempenhos e confrontos fantásticos, mas antes posicionar-se frente ao mundo, tal como é a perspectiva de assumir papéis mais relevantes. Conforme afirma o relatório, sediar eventos esportivos é como uma grande campanha diplomática, além de uma grande responsabilidade.
Em termos de simpatia e receptividade, pode-se dizer que o País fez bonito. Contudo, os grandes erros cometidos pelo País não podem ser apagados após a realização dos jogos. Segundo o professor da Face/Pucrs, e um dos responsáveis pelo relatório, Gustavo Moraes, ficou a ideia da ausência de planejamento no setor público, evidenciada pelas obras finalizadas na última hora, e a excessiva concentração de gastos do governo federal na cidade do Rio de Janeiro e, dentro deste município, em áreas de alto nível econômico.
Para o presidente do Sescon-RS, Diogo Chamun, os jogos não apenas foram mal planejados pelo cronograma das obras, mas também pelas obras não realizadas, como a despoluição da lagoa Rodrigo de Freitas e da Baía de Guanabara. "O Brasil continuará devendo em gestão de projetos de curto e longo prazos", enfatiza Chamun.
O também professor da universidade envolvido na pesquisa, Milton Stella, lembra que, "historicamente, os investimentos nos jogos são realizados em áreas degradas da cidade-sede com o objetivo de revitalizá-las e conferir um sentido social ao evento". No Brasil, ocorreu o contrário. A maior parte dos recursos foi direcionada à região da Barra, centro das competições e da atividade olímpica.
A Barra da Tijuca detém o melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dentre os centros regionais escolhidos, sendo que outro bairro com expressivo IDH é o Maracanã, assim como Copacabana. Dentre os 126 bairros do Rio de Janeiro, a Barra posiciona-se como oitavo, Copacabana em 11º e o Maracanã em 14º na classificação do IDH.
A exceção é o bairro de Deodoro, 50º colocado. Esse é o único bairro que efetivamente pode se beneficiar - no sentido de mudar sua condição estrutural - dos investimentos esportivos proporcionados pela Olimpíada. Além disso, toda a construção da proposta para o Rio de Janeiro sediar os jogos em 2016 foi feita contando com investimento privado, diz Stella. "O que acabou não acontecendo", lamenta o pesquisador. Apenas R$ 11,6 bilhões foram provenientes de empresas.

Discrepância entre cenário esperadoe real está entre os destaques do estudo

No Dossiê de Candidatura do Brasil, um dos argumentos utilizados para convencer os integrantes do Comitê Olímpico Internacional da importância de o País ser a primeira sede dos Jogos Olímpicos na América do Sul foi o de que projeções do Banco Mundial mostravam que o Brasil se tornaria a quinta maior economia do mundo até 2016. Segundo o relatório, essa foi uma afirmação central no convencimento da opinião pública internacional sobre a capacidade do Brasil em sediar o evento.
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A realidade, no entanto, é bem diferente. O presidente do Sescon-RS, Diogo Chamun, destaca que, "na realidade, em 2016, o Brasil já enfrenta seu segundo ano consecutivo de recessão, não é capaz de gerar equilíbrio fiscal, ainda que com elevação de impostos nos últimos anos, e a inflação (estabilidade econômica) encontra-se comprometida".
O impacto social, contudo, só poderá ser avaliado com clareza no médio e longo prazos. Para um dos responsáveis pelo relatório, Gustavo Moraes, o sistema de transporte na cidade deve ser um dos itens com melhorias notáveis em pouco tempo pela população em geral. Já o crescimento esperado no Turismo ainda não é uma certeza. O boom turístico em locais-sede de jogos esportivos não é algo confirmado empiricamente, dizem os especialistas.
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