Por um mundo melhor

"Vocês identificam de que animal é este som?", questiona um guarda parque. A turma, com cerca de 20 alunos, responde: "de um canarinho". "E saberiam identificar um canarinho macho ou fêmea"?, pergunta mais uma vez o guarda. A turma silencia, e então o "professor" parte para a explicação. A aula faz parte do Projeto Guarda Parque Mirim, destinado a crianças do 4º ano das escolas de Eldorado do Sul e das ilhas das Flores e da Pintada. O objetivo é a conscientização sobre a questão ambiental do parque Delta do Jacuí a partir das crianças para então disseminar aos adultos, além de aproximar a população dos guarda parques - profissionais que trabalham na conservação e preservação da Área de Proteção Ambiental Delta do Jacuí.

O projeto se iniciou em 2009, quando a Associação dos Moradores da Rua Martinho Poeta, de Eldorado do Sul, e a Coordenação do Parque do Delta do Jacuí identificaram a falta de conhecimento dos moradores na preservação do local. O parque estadual Delta do Jacuí é uma das unidades de conservação do Rio Grande do Sul e, em 2005, teve seus limites alterados pela criação da área de proteção ambiental. A vice-presidente da Associação de Moradores, Claudia Cabeda, explica que, a partir da implantação da área de preservação, foram criadas diversas leis e limitações, e a população não recebeu uma formação necessária do que poderia ser feito ou não a partir de então. "A ideia é mostrar para as crianças o quão importante é essa área e também o que é o privilégio e a responsabilidade de quem vive aqui", destaca Claudia.

As aulas do projeto, que ocorrem quinzenalmente, são divididas entre teóricas e oficinas artístico-cultural. As aulas teóricas, ministradas pelos guarda parques, tratam da visão geral da unidade de conservação, as atividades exercidas pelos guardas, a fauna e a flora do Delta do Jacuí, um resgate histórico das ilhas e questões como água e lixo. As oficinas trabalham a fotografia, escrita criativa e percussão com materiais recicláveis. "O objetivo é que as crianças tenham uma atitude responsável com o meio ambiente, com os outros e com eles mesmos", ressalta a coordenadora do projeto, Rosélia Araújo Vianna. Uma das lições que os alunos levam é sobre a proibição da caça dos animais silvestres. "Aprendi que o mais importante é preservar o meio ambiente, além da caça dos animais, que é proibida", destaca o aluno, de 9 anos, Éder Pereira.

Em paralelo ao Guarda Parque, os alunos desenvolvem, em sala de aula, um segundo projeto, denominado Meu mundo melhor. Antes de iniciarem as aulas do Guarda Parque Mirim, alunos e professores receberam uma oficina, chamada de Ideação. As crianças foram questionadas sobre os problemas que tinham em seu entorno, seja na escola ou na comunidade. A partir disso, cada turma elencou um problema e irá realizar atividades para solucionar a questão levantada. A intenção é que as crianças sejam protagonistas das ações que possam transformar suas comunidades.

O guarda parque Alexandre Gomes afirma que o projeto é muito importante, tanto para os alunos como para a população das ilhas, pois acaba mudando a cultura de todos que vivem no local. "É importante que essas crianças difundam essas experiências e conhecimento no meio em que convivem, destaca Gomes. O projeto trabalha com lixo zero. Há um controle dos resíduos que são gerados no momento das aulas, e os orgânicos são enviados para a compostagem e o lanche distribuído para os alunos é produzido com produtos orgânicos. Neste ano, a iniciativa recebeu o Prêmio Boas Ideias de Sustentabilidade pela Virada Sustentável, na categoria Comunicação e Educação para a Sustentabilidade.