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Empresas & Negócios

- Publicada em 17 de Agosto de 2016 às 14:54

A celebração do cooperativismo

José Odelso Schneider é professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais e coordenador do curso de especialização em cooperativismos da Unisinos

José Odelso Schneider é professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais e coordenador do curso de especialização em cooperativismos da Unisinos


LUANA TREVISOL/SESCOOPRS/DIVULGAÇÃO/JC
É costume no mundo todo que em cada ano, o primeiro sábado de fim de semana de julho, seja dedicado ao cooperativismo. Este sistema ou movimento ainda merece que apostemos nele? Ainda há motivos para confiar nele? Aqui e acolá sempre chegam aos nossos ouvidos reclamações, críticas, sobre falhas, outros aspectos que desabonam o cooperativismo. Não há dúvida, que por serem compostas por seres humanos, por gente comum, são falíveis e sempre aqui e acolá tais aspectos negativos mais rapidamente do que de outras entidades, caem no domínio público.
É costume no mundo todo que em cada ano, o primeiro sábado de fim de semana de julho, seja dedicado ao cooperativismo. Este sistema ou movimento ainda merece que apostemos nele? Ainda há motivos para confiar nele? Aqui e acolá sempre chegam aos nossos ouvidos reclamações, críticas, sobre falhas, outros aspectos que desabonam o cooperativismo. Não há dúvida, que por serem compostas por seres humanos, por gente comum, são falíveis e sempre aqui e acolá tais aspectos negativos mais rapidamente do que de outras entidades, caem no domínio público.
O lado bom para o cooperativismo é que ele tem e pode contar com todos os mecanismos e procedimentos internos à sua estrutura organizacional e doutrinária, para eliminar , corrigir ou extirpar até a raiz as possíveis falhas havidas. Ele se orienta pela democracia, a transparência, a participação, o empreendedorismo e a inovação, tudo isso em benefício da comunidade, e fomenta relações de ajuda e confiança recíproca e fraterna entre seus associados. E quando não se desencadeiam oportunamente tais mecanismos, a sobrevivência da cooperativa está ameaçada!
Em um rápido sobrevoo, vejamos algumas características do potencial cooperativo. Hoje, é significativa a expressividade do cooperativismo mundial. Segundo dados fidedignos da Aliança Cooperativa Internacional - ACI, havia em 2010 no mundo todo 780 mil organizações cooperativas, com cerca de 1,2 bilhão de associados (16,21% da população mundial) girando em torno delas, o que daria uma média de 1.538 associados por cooperativa. China e Índia contam cada uma com mais de 100 milhões de associados, enquanto o continente europeu aparece com cerca de 500 milhões de associados. As cooperativas, ao redor do mundo, empregam mais de 100 milhões de funcionários, contam com ativos que em 2014 chegam em torno a US$ 20 trilhões. Isso proporcionaria a cada associado do cooperativismo mundial o equivalente a US$ 16.000,00 anuais.
Em 2010, havia no Brasil 6.652 cooperativas e 9,1 milhões de associados, com uma média de 1.368 associados por cooperativa e contando com 298.182 empregados, que trabalham especialmente nos parques industriais cooperativos, ou respondendo pela comercialização da produção dos associados. Segundo informações recentes da Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB, o cooperativismo brasileiro em 2016 já conta com 12 milhões de associados, o que representa um crescimento de 31,86% no número de associados no período de 2010 a 2016, portanto, muito acima do crescimento demográfico brasileiro. As cooperativas em 2016 representam algo como 10% do PIB nacional. Seus produtos são exportados para uma centena e meia de países e, em 2015, geraram divisas superiores a US$ (USD) 5 bilhões anuais. No Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, as cooperativas agropecuárias participam em torno a 58% do PIB agropecuário.
São especialmente as cooperativas de crédito, agora amplamente abertas à população urbana, as que contam com o maior crescimento no número de associados no País. Os dados oficiais indicavam, em 2010, em torno de 1.064 cooperativas, 4.019.528 associados e 56.178 empregados. Em 2016 as cooperativas de crédito dos dois maiores Sistemas, do Sicoob e Sicredi e de sistemas menores, já contam com o dobro de associados em relação a 2010, ou seja 8 milhões de associados. No Rio Grande do Sul, há 91 cooperativas de crédito e 1.739.949 associados, o que corresponde a 65,76% dos cooperados do Estado. São tais cooperativas que devido ao seu rápido crescimento, para qualificar mais seus associados, introduziram no sistema os programas de "pertencer", de "participar" e o simpático programa "A união faz a vida", que tanto beneficia com a inserção numa cultura cooperativa nossas crianças e os adolescentes do Ensino Fundamental.
Se atribuirmos quatro pessoas pelos 12 milhões de associados, teríamos 48 milhões de brasileiros, beneficiando-se direta ou indiretamente das cooperativas, ou seja 22,42% da população brasileira. O segundo ramo com mais associados é o da infraestrutura, que conta com 23 cooperativas e 487.997 associados. O terceiro ramo é o agropecuário, com 132 cooperativas e 327.443 associados. Estes três ramos respondem por 96,58% dos cooperados do Estado. Ou seja, os demais 10 ramos ou setores do cooperativismo contam com apenas 90.489 associados, destacando-se as cooperativas habitacionais com 37.940 e os da saúde com 21.340 cooperados.
O Rio Grande do Sul dispõe de 435 cooperativas registradas na Ocergs e 2.645.899 associados, com uma média 6.082 associados por cooperativa. Porém, ainda falta muito caminho para chegarmos ao elevado percentual de população cooperativada da Argentina, com 30% e Uruguai com 20%. Em recente depoimento na Federasul, o presidente do Sistema Ocergs/Sescoop RS, Vergílio Perius, considerou que em 2015 o cooperativismo gaúcho verificou um crescimento de 15,7%, ano em que o desempenho da economia nacional foi negativo. O faturamento total do cooperativismo gaúcho em 2015 foi de R$ 36,1 bilhões o que representaria uma média anual de renda per capita de R$ 13.643,00 por associado (R$ 1.137 mensais). Mencionou-se também o crescimento de alguns setores do cooperativismo tais como: 11,6% no agropecuário, 33,8% no crédito, 35,5% no setor transportes, 18,0% no setor saúde, e 8,25% na infraestrutura. E em pleno período de crises, o cooperativismo gaúcho pretende realizar um investimento de R$ 1,7 bilhão para 2016, o que seria equivalente a R$ 3.908.045,00 por cooperativa, ou R$ 642,00 por associado.
Por que merecem as cooperativas esta atenção da sociedade? Porque em época de crise as pessoas costumam unir-se mais, discutir e dialogar mais. Porque em períodos difíceis e conflitivos, mais do que outras entidades empresariais elas tendem a esmerar-se na transparência, na participação e na competência. A competência é a capacidade de qualquer organização para manter sistematicamente vantagens comparativas que lhes permitam alcançar, sustentar e melhorar sua posição no ambiente social e econômico no qual atuam, beneficiando diretamente seus reais donos e usuários, que são os associados.
A competência não é produto da causalidade, nem surge espontaneamente, mas se cria e se consegue através de um longo processo de aprendizagem e de negociação dos grupos coletivos que representam e configuram a dinâmica das cooperativas, compostas por seus associados, dirigentes e empregados. Por isso, o grau de confiança obtido pelo cooperativismo nos últimos anos, deve-se a vários fatores em que houve empenhos, mas sobretudo na modernização e transparência da gestão.
Por isso, são as cooperativas que mais e melhor tendem a viabilizar a pequena e média produção familiar, através das várias centenas de milhares de associados dos ramos agropecuário e da infraestrutura, facultam e facilitam o acesso à casa própria, viabilizam a melhor e mais qualificada produção e prestação de serviços na saúde e em outros setores, enfim, mais podem contribuir para um desenvolvimento local autônomo, participativo e sustentável. E as cooperativas que funcionam no variado interior de nosso Estado e País, são um belo exemplo do efeito irradiador das cooperativas na comunidade local.
Concluo com declaração do presidente da OCB - Márcio Lopes de Freitas, "o Brasil precisa de gente que se preocupe com os seus semelhantes e o cooperativismo surge como um instrumento capaz de estimular o trabalho conjunto a fim de que, unidas, as pessoas realizem sonhos, mudem suas realidades e sejam mais felizes".
Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais e coordenador do curso de especialização em cooperativismos da Unisinos
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