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- Publicada em 04 de Julho de 2016 às 22:12

'Educar sem refletir é promover a não educação'

Carmem Craidy alega que projeto restringe a liberdade dos docentes

Carmem Craidy alega que projeto restringe a liberdade dos docentes


CASSIANA MARTINS/JC
Jessica Gustafson
Dois projetos de lei com conteúdo similar tramitam na Assembleia Legislativa do Estado e na Câmara Municipal de Porto Alegre com o objetivo de implantar o Programa Escola sem Partido, que tem o intuito de coibir que os professores abordem, de forma política e ideologicamente enviesada, os conteúdos ensinados. Para muitos, a inciativa é totalitária e busca cercear os docentes em suas atividades, sendo chamada de "Lei da Mordaça". Carmem Craidy, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e conselheira estadual de Educação, considera que está sendo proposta uma não educação, pois educar é exatamente incentivar a capacidade de reflexão sobre a vida, a sociedade e seus desafios. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, antes de participar de um debate sobre o tema realizado ontem, na Câmara, Carmem ressaltou que os projetos são "ambíguos, contraditórios e inconstitucionais".
Dois projetos de lei com conteúdo similar tramitam na Assembleia Legislativa do Estado e na Câmara Municipal de Porto Alegre com o objetivo de implantar o Programa Escola sem Partido, que tem o intuito de coibir que os professores abordem, de forma política e ideologicamente enviesada, os conteúdos ensinados. Para muitos, a inciativa é totalitária e busca cercear os docentes em suas atividades, sendo chamada de "Lei da Mordaça". Carmem Craidy, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e conselheira estadual de Educação, considera que está sendo proposta uma não educação, pois educar é exatamente incentivar a capacidade de reflexão sobre a vida, a sociedade e seus desafios. Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, antes de participar de um debate sobre o tema realizado ontem, na Câmara, Carmem ressaltou que os projetos são "ambíguos, contraditórios e inconstitucionais".
Jornal do Comércio - Como a senhora analisa o surgimento de projetos com esse teor no contexto vivido hoje pelo Brasil?
Carmem Craidy - São projetos extremamente ambíguos, contraditórios e inconstitucionais. É impossível educar sem reflexão sobre os problemas que pautam a sociedade. O caráter desses projetos fica muito claro se considerarmos quem são as pessoas que estão os apresentando. Em geral, são pessoas de ultradireita, que se dizem liberais, mas que de liberais não têm nada. Eles são é totalitários. Isso só se explica no clima de golpe de Estado que se vive hoje no Brasil. Em uma perspectiva democrática, esses projetos são impensáveis.
JC - Levando em consideração o crescimento de setores conservadores no País, a senhora acredita que essas propostas possam se efetivar?
Carmem - Isso já está acontecendo. Temos alguns casos no Rio Grande do Sul de alunos que apanharam porque estavam organizando um grêmio estudantil. A direção dessas instituições chamou a polícia e os entregou como se eles estivessem cometendo um crime. Se a sociedade não se levantar e se posicionar, isso pode acontecer em outros locais, e é muito perigoso. Vivemos um aumento do fundamentalismo, que nega todas as liberdades e discrimina diversos grupos sociais. Um exemplo desastroso foi quando votamos o Plano Estadual de Educação. Foi uma batalha na Assembleia Legislativa para retirar o termo "gênero" do texto. Como se o termo, em si, propagandeasse coisas nefastas. O termo gênero é corrente na língua portuguesa, designa uma diferença existente em nossa sociedade e deve ser objeto de reflexão também dentro da escola.
JC - Um dos argumentos dos que são favoráveis ao projeto é de que é preciso ser neutro dentro de sala de aula. Isso é possível?
Carmem - Como dizia Paulo Freire, toda a neutralidade esconde uma posição que não se quer mostrar. Essa frase, inclusive, introduz a manifestação do Conselho Estadual de Educação sobre esse tema.
JC - Quais os prejuízos para os estudantes se esses projetos forem aprovados?
Carmem - O que aconteceria é a ausência de educação. A educação é exatamente a capacidade de refletir sobre a vida, a sociedade e os desafios, e se posicionar sobre esses temas. Não refletir sobre essas questões é não educar. Aí, sim, teremos uma doutrinação, uma doutrinação gravíssima, que é a do pensamento único. Inclusive, se parte do pressuposto de que o jovem não tem consciência crítica e que vai aceitar tudo o que o professor disser. Isso não é assim. O jovem hoje é extremamente crítico. Proibir a criticidade é repressão.
JC - Como a senhora definiria a ideia de "educação libertadora"?
Carmem - Para Paulo Freire, a educação libertadora é exatamente a educação criadora da consciência crítica, na qual a pessoa seja capaz de se posicionar.
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