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Imprensa

- Publicada em 20 de Julho de 2016 às 21:54

Danilo Ucha morre aos 72 anos em Porto Alegre

Ucha escrevia a coluna Painel Econômico no JC há 14 anos

Ucha escrevia a coluna Painel Econômico no JC há 14 anos


JOÃO MATTOS/JC
Faleceu ontem o jornalista, escritor e colunista de economia do Jornal do Comércio Danilo Ucha, aos 72 anos. Ele morreu de infarto enquanto dormia em casa em Porto Alegre. O velório ocorre na Capela C do Cemitério São Miguel e Almas. O sepultamento será hoje, às 11h, no local. Ucha era diabético, hipertenso e já havia passado por cirurgia cardíaca. Ele deixa a mulher, Maria Jair Fontoura Mazzei, com quem vivia desde 1964, cinco filhos, 11 netos e 8 bisnetos.
Faleceu ontem o jornalista, escritor e colunista de economia do Jornal do Comércio Danilo Ucha, aos 72 anos. Ele morreu de infarto enquanto dormia em casa em Porto Alegre. O velório ocorre na Capela C do Cemitério São Miguel e Almas. O sepultamento será hoje, às 11h, no local. Ucha era diabético, hipertenso e já havia passado por cirurgia cardíaca. Ele deixa a mulher, Maria Jair Fontoura Mazzei, com quem vivia desde 1964, cinco filhos, 11 netos e 8 bisnetos.
O colunista tinha mais de 50 anos de profissão e era um dos mais importantes jornalistas do Rio Grande do Sul. Começou a carreira no jornal A Plateia, de Santana do Livramento, cidade onde nasceu, e teve passagens pelo Diário de Notícias, Folha da Tarde, Zero Hora, TVE, Rádio Farroupilha, Rádio Guaíba, O Estado de São Paulo, Gazeta Mercantil, foi correspondente do jornal Correio da Manhã (RJ), além de ter atuado como assessor de comunicação. Também foi um dos fundadores da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre (Coojornal) e cobriu a guerra das Malvinas.
Assinava a coluna Painel Econômico no JC há 14 anos, dirigia o Jornal da Noite (com veiculação mensal), que completa 30 anos em agosto. Além disso, mantinha o blog cordeiro&vinho. Ucha conhecia muito a agropecuária e se dedicava à ovinocultura. É autor de vários livros-reportagem, o mais recente a biografia de Zildo De Marchi, lançado em 2015, em parceria com a jornalista Paula Sória.
A direção e colegas do JC lamentam a perda do colega e amigo, que se dedicou à reportagem do jornal e à coluna Painel Econômico com a mesma vivacidade de quando começou na profissão. "Lamentamos muito o falecimento do Danilo Ucha, que além de amigo era um jornalista exemplar, íntegro e muito bem preparado, como demonstrava todos os dias na coluna Painel Econômico e nas relações pessoais e profissionais", observa o diretor-presidente do JC, Mércio Tumelero. "Era um grande jornalista, autor de uma das páginas mais lidas do JC e respeitado pela classe empresarial", disse o diretor comercial do JC, Luiz Borges.
Ligado à terra natal, Livramento, Ucha trazia de lá amizades que manteve por toda a vida, caso do também jornalista Elmar Bones, editor do Jornal JÁ, que conheceu ainda no movimento estudantil no início da década de 1960. Ambos vieram juntos a Porto Alegre em 1964, após terem sido destituídos da diretoria da União Santanense de Estudantes Secundários pela ditadura militar. Na Capital, cursaram Jornalismo na então Faculdade de Filosofia da Ufrgs, e trabalharam juntos na Folha da Tarde.
"Ucha era, antes de tudo, um homem bom. Perdemos um grande jornalista", lamenta Bones, a quem Ucha chamava pelo apelido de "Bicudo". Entre as principais memórias, Bones ressalta a organização dos Jogos Internacionais da Primavera em Livramento nos anos 1960. Ideia de Ucha, o evento reuniu equipes de escolas de toda a Fronteira, de cidades como Rivera, Tacuarembó e Alegrete. Os 50 anos do evento foram celebrados em 2013, quando ambos foram a Livramento. "Ele era muito ligado ao Uruguai", relembra. Ucha tinha, inclusive, dupla cidadania.
A boemia também era uma paixão de Ucha. Outro colega de Livramento, Kenny Braga salienta o apreço de Ucha pela música popular brasileira - destacando que o colega foi autor da biografia do violonista Jessé Silva. Kenny lembra que o amigo tinha um imenso coração, sempre disposto a ajudar as pessoas. "O jornalismo gaúcho ficou muito mais pobre, é um dia profundamente triste", lamenta o amigo. "Ele sempre foi muito ligado aos músicos, à vida noturna. Mesmo nos últimos anos, quando já não frequentava mais", relembra Bones. A primeira passagem de Ucha pelo JC, aliás, foi no caderno Viver, em 1996, em que escrevia uma coluna sobre a vida noturna da Capital e gastronomia.

'São mais de 50 anos nesse negócio!'

O jornalista tem que estar onde estão os fatos. Assim era Danilo Ucha, que acompanhou casos que viraram notícia e, por que não, História. Estava perto dos acontecimentos que narrava e, não por acaso, conhecia os protagonistas. Os últimos 10 governadores do Rio Grande do Sul, a presidente afastada Dilma Rousseff, ministros, secretários de Estado, lideranças de federações empresariais, todos conheciam Ucha.
No meio cultural também: conviveu com Lupicínio Rodrigues, tem fotos com o escritor Rubem Fonseca... Chegava a ser engraçado, mas volta e meia surgia uma pauta ou alguém lembrava um acontecimento e o Ucha atalhava: ou tinha participado do evento, ou conhecia o personagem. Pauta: vai ser lançado livro sobre o jornal Pato Macho. "Eu escrevi no Pato Macho". Pauta: 20 anos da morte do Caio Fernando Abreu. "Meu amigo. Tenho até uma carta de quando ele morava no Rio". A quem duvidasse, justificava, modesto, sua trajetória no jornalismo: "Também, são mais de 50 anos nesse negócio!".

Exemplo de competência

Ontem foi um dia triste na redação do JC. A notícia da morte de nosso colega Danilo Ucha chocou a todos. Mais do que companheiro de trabalho - e ele foi sempre um exemplo de dedicação, carinho e competência -, perdemos um amigo de muitos anos e jornadas comuns, na vida e na profissão.
Nos últimos 14 anos, tivemos uma convivência diária na redação do JC, onde Ucha era o titular da página Painel Econômico, em que analisava e comentava notícias, revelava bastidores e, frequentemente, adicionava uma pitada de humor em acontecimentos, digamos, mais incomuns da vida do Estado e do País e de acontecimentos do setor econômico.
Seus muitos amigos - e ele os tem em todos os segmentos da sociedade gaúcha e brasileira - terão dificuldades em se despedir do Ucha. Mais do que isso, terão mais dificuldades ainda para se adaptar à ausência do grande profissional e amigo.
 

Campeão até o fim

A primeira imagem que tenho do Danilo Ucha ficou na minha retina: ele à frente do grupo vindo pela lateral do Centro Acadêmico, indo para algum lugar da Filô, como chamávamos a Faculdade de Filosofia da Ufrgs, onde eu cursava Jornalismo.
Garboso, ar destemido, passos firmes, adoçado com o orgulho por fazer parte de nativos de Santana do Livramento, ases do jornalismo aqui e em outros estados. Esse era o Ucha, meu amigo desde aquela manhã. Conversamos, mas não consegui fisgar de memória sobre qual assunto. Fato é que desde aquele dia nossas vidas caminham juntas. Passamos anos e anos tropeçando vez que outra nas mesmas redações. Fomos colegas na Zero Hora e depois no Jornal do Comércio, até que a morte o encontrou dormindo.
Ucha fazia parte da elite jornalística que começou a brilhar nos anos de 1960, época de ouro do jornalismo gaúcho. Seu Painel Econômico no JC era disputadíssimo. Seja como colunista, perito em vinhos, em gastronomia, em cordeiros (criação e receitas) ou na nobre arte de fazer amigos para sempre, o Ucha foi campeão até o fim.
 

Cadeira vazia

Basta entrar nas redes sociais para descobrir o quanto Danilo Ucha era admirado e, por vezes, idolatrado. E não é para menos, como jornalista, foi um profissional incansável, correto, versátil, apaixonado pelo que fazia; como amigo, uma pessoa doce, gentil, afável.
Dominava todos os assuntos, mas seu tema preferido era o agronegócio, o vinho, o cordeiro. Ucha não era jornalista de redação, estava sempre onde a notícia estava, colhia a informação na fonte e a transformava em notas preciosas. Tinha sempre um "furo", o que só era possível porque colecionava fontes como poucos e, sobretudo, porque tinha a confiança das fontes. Quem no mercado corporativo ou na política não conhecia Danilo Ucha? Difícil olhar para aquela cadeira vazia.

Perdi um grande amigo

Ucha escrevia a coluna Painel Econômico no JC há 14 anos

Ucha escrevia a coluna Painel Econômico no JC há 14 anos


JOÃO MATTOS/JC
A diferença de 38 anos nunca foi barreira para nossa amizade. Conversávamos sobre tudo. Muito da jornalista que sou hoje devo a Danilo Ucha, que me contava as histórias da profissão, das farras noturnas, do autoexílio em Portugal e de coberturas históricas, como a da Guerra das Malvinas, em 1982. Foi um dos primeiros repórteres a chegar lá, onde ficou mais de 80 dias, ditando as matérias por telefone.
Ele pensava em escrever um livro de crônicas sobre suas histórias na noite em terceira pessoa. Os planos eram muitos, apesar de reclamar do peso da idade. Ucha também costumava escrever nas minhas folhas de pauta durante as reuniões diárias no JC. Tenho guardado um pedaço de papel, escrito há cerca de quatro anos, no qual ele falava sobre sua lápide. "A epígrafe já tenho: a palavra do revolucionário morreu na boca fuzilada". No Dia do Amigo, perdi um dos grandes.