Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

mercado de capitais

- Publicada em 17 de Julho de 2016 às 17:00

Fundos avaliam aplicar US$ 50 bi no Brasil

O mau humor em relação ao Brasil está sendo reavaliado e começam a surgir sinais de otimismo entre investidores dentro e fora do País. Fundos de investimentos já estudam, inclusive, a possibilidade de desembolsar por aqui, neste e no próximo ano, cerca de US$ 50 bilhões. O dinheiro seria canalizado não apenas para o mercado financeiro, mas também irrigaria investimentos de longo prazo em fusões e aquisições.
O mau humor em relação ao Brasil está sendo reavaliado e começam a surgir sinais de otimismo entre investidores dentro e fora do País. Fundos de investimentos já estudam, inclusive, a possibilidade de desembolsar por aqui, neste e no próximo ano, cerca de US$ 50 bilhões. O dinheiro seria canalizado não apenas para o mercado financeiro, mas também irrigaria investimentos de longo prazo em fusões e aquisições.
Economistas, tanto brasileiros quanto estrangeiros, são unânimes em afirmar que ainda há muita incerteza, mas a mudança de rota promovida pelo governo está reconstruindo a confiança. Pesa a favor, em particular, o time de especialistas escalado pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
Vários indicadores demonstram que a visão em relação ao País começou a mudar para melhor. Os mais sensíveis a movimentos de curto prazo deram guinadas. Neste ano, o real já se valorizou em mais de 20% e a BM&FBovespa acumula ganho de 28%. Na sexta-feira, o Ibovespa teve a oitava alta consecutiva. "Estamos deixando para trás um momento de instabilidade política e econômica muito agudo", diz Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.
O presidente interino Michel Temer tem sido cauteloso ao comentar cenários. Em entrevista disse que ficou preocupado com os primeiros 20 dias de governo, mas que já percebe uma melhora e acredita numa mudança gradual nos próximos meses. "Eu até brinquei com o Meirelles: será possível esta coisa de 2% de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto)? Eu acho um pouco exagerado", disse em relação à meta prevista pelo ministro para 2017.
O economista Afonso Celso Pastore concorda que o clima de fato mudou, mas recomenda cautela. "Há entusiasmo, mas ainda não temos euforia", diz. A eleição do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara com apoio do governo melhora muito o cenário em direção a uma mudança mais sólida. "A eleição mostra que o Brasil agora tem uma chance concreta de aprovar as reformas e são elas que mudam definitivamente o cenário", diz.
Pastore frisa que a virada de verdade só virá quando o governo aprovar medidas capazes de reduzirem os gastos e, principalmente, frearem o crescimento da dívida para, depois, colocá-la numa trajetória de queda. Hoje a dívida mantém uma perigosa tendência de alta. "A dívida é o indicador que mais preocupa os investidores", diz.
A mudança na estrutura das contas públicas depende da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que limita o crescimento dos gastos a inflação do ano anterior, a chamada PEC do Teto, bem como de reformas, em particular da Previdência, item que responde sozinho por quase 40% dos gastos. Como se tratam de mudanças polêmicas, que dependem de debate e aprovação no Congresso, o próprio governo aguarda o resultado do processo de impeachment para encaminhá-las à votação.
O mercado se mostra disposto a aguardar. "Ninguém esperava que, com Temer, o Brasil começaria a crescer 6% ou a dívida pública passaria a cair. É inocente pensar isso. Mas o novo governo indica uma mudança das políticas de 180 graus, o que tende a inverter a tendência dos principais fundamentos macroeconômicos", diz o economista para o Brasil do britânico Barclays, Bruno Rovai.
O mais animador é que há sinais de que o investimento de longo prazo deve seguir a mesma trajetória. Estudo intitulado International Business Report (IBR), da consultoria Grant Thornton, mostra que pela primeira vez desde janeiro de 2014 o empresário brasileiro voltou a apresentar otimismo para os próximos 12 meses. No ranking, obtido com exclusividade pelo Broadcast, notícias em tempo real do Grupo Estado, o Brasil avançou da 26ª colocação para a 23ª, de um total de 36 países. O indicador que mede a incerteza em relação a economia caiu de 70%, na última pesquisa há três meses, para 55% no último trimestre. "Olhando para a América Latina, sobretudo Brasil, México e Argentina, percebemos um viés mais otimista. O pessimismo que abateu essas economias está gradualmente sendo revertido", diz o sócio da Grant Thornton, Daniel Maranhão.
Outro indicador importante que mudou de comportamento foi o CDS (sigla para Credit Default Swap, instrumento que indica o risco de calote). Hoje é negociado abaixo de 290 pontos. No final de 2015, no auge da crise de desconfiança com o Brasil, bateu em 540 pontos. Entre os poucos países com papéis negociados acima de 500 pontos, estão Venezuela, Grécia e Ucrânia. Quanto mais pontos no CDS, maior é a percepção de risco em relação ao País.

Uma em cada 10 multinacionais deve destinar recursos para o País até o ano de 2018

O Brasil será o destino de investimento preferido de praticamente uma a cada 10 multinacionais até 2018. Em um levantamento feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a percepção do setor privado em relação às economias mais promissoras para se investir entre 2016 e 2018, o País aparece na sétima colocação. No total, 11% das empresas questionadas responderam que apostariam no mercado brasileiro. Em 2014, a economia brasileira aparecia na quarta posição, superada apenas por China, Estados Unidos e Índia.
Hoje, Reino Unido, Alemanha e Japão voltaram a superar o Brasil. Nos últimos quatro anos, os novos investimentos em fábricas e novos serviços, sem contar as aquisições e fusões, foram reduzidos de US$ 48 bilhões para apenas US$ 17,9 bilhões no Brasil. Somando todo o fluxo de investimentos ao País, a constatação também aponta para uma queda. Em 2011, o Brasil havia recebido US$ 96 bilhões. Em 2014, o volume caiu para US$ 73 bilhões e, em 2015, para US$ 65 bilhões. Com um impacto da desvalorização do real e a hesitação em investir, os estoques de investimentos passaram de US$ 640 bilhões no Brasil em 2010 para US$ 485 bilhões em 2015.
Mas a desvalorização do real acabou também tornando algumas empresas do País atrativas para os estrangeiros que quiseram aproveitar a ocasião para comprar "ativos brasileiros com desconto". A British American Tobacco, é um exemplo. A empresa adquiriu ações avaliadas em US$ 2,4 bilhões de sua afiliada Souza Cruz no Brasil.
Os investimentos em ações em 2015 ainda aumentaram 4%. No setor da saúde, com as novas leis permitindo a entrada de capital estrangeiro, os investimentos em ações passaram de US$ 16 milhões para US$ 1,3 bilhão. O diretor do Departamento de Investimentos da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), James Zhan, destacou o movimento de estrangeiros aproveitando a desvalorização da moeda brasileira para comprar empresas no País. "Foi isso que, em parte, segurou o fluxo de investimentos", disse.