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Conjuntura

- Publicada em 17 de Julho de 2016 às 16:47

Produtividade brasileira é a pior desde os anos 1950, diz estudo

Multinacional Weg consegue percorrer 400 km nos Estados Unidos em um dia, enquanto que no Brasil apenas 45 km

Multinacional Weg consegue percorrer 400 km nos Estados Unidos em um dia, enquanto que no Brasil apenas 45 km


WEG/DIVULGAÇÃO/JC
O abismo que separa a produtividade brasileira da norte-americana não para de crescer. Enquanto os Estados Unidos conseguem fabricar um produto com apenas um trabalhador, no Brasil, a mesma peça exige quatro pessoas. É a pior relação desde a década de 1950, quando o País vivia os reflexos da industrialização iniciada 20 anos antes. A má notícia é que, com inúmeros gargalos para serem superados e afundado numa das piores crises da história, o País não esboça nenhuma reação para reverter esse quadro no curto e médio prazos.
O abismo que separa a produtividade brasileira da norte-americana não para de crescer. Enquanto os Estados Unidos conseguem fabricar um produto com apenas um trabalhador, no Brasil, a mesma peça exige quatro pessoas. É a pior relação desde a década de 1950, quando o País vivia os reflexos da industrialização iniciada 20 anos antes. A má notícia é que, com inúmeros gargalos para serem superados e afundado numa das piores crises da história, o País não esboça nenhuma reação para reverter esse quadro no curto e médio prazos.
No fim do ano passado, um trabalhador brasileiro era capaz de produzir US$ 29.583 e um norte-americano, US$ 118.826, segundo levantamento do Conference Board, compilado pelo pesquisador Fernando Veloso, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nas palavras do Nobel de Economia, Paul Krugman, "produtividade não é tudo, mas no longo prazo é quase tudo". Na prática, ela está diretamente relacionada às riquezas geradas por um país e seu comportamento determina o padrão de vida da sociedade.
Até 1980, o Brasil conseguia melhorar a sua produtividade em relação aos concorrentes e diminuir a diferença para os Estados Unidos - hoje considerada a economia mais produtiva do mundo. "Entre as décadas de 1930 e 1970, havia um crescimento fácil da produtividade brasileira por causa do processo de industrialização que levou parte dos trabalhadores rurais para as fábricas - trajetória vivida hoje pela China", afirma a diretora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Fernanda De Negri.
No melhor momento na relação entre os dois países, em 1980, pouco mais de dois trabalhadores brasileiros produziam o mesmo que um americano. A partir daí, no entanto, o cenário mudou e o Brasil foi ficando para trás. Com a abertura comercial, até houve um ganho da produtividade das empresas brasileiras, mas a um custo muito alto por causa da quebradeira de várias empresas que não estavam preparadas para a concorrência internacional. "Na indústria, por exemplo, houve um ganho de produtividade muito grande até 1997 e a gente atribui parte à abertura. Ela forçou as empresas a produzirem melhor, mas também eliminou as mais ineficientes", diz Regis Bonelli, pesquisador do IBRI/FGV.
Atualmente, a economia brasileira enfrenta um cenário perverso. O setor produtivo tem dificuldade para aumentar a sua eficiência porque passou a conviver com problemas que vão da baixa qualificação do trabalhador ao chamando Custo Brasil, que envolve a elevada e complexa carga tributária, excesso de burocracia e má qualidade da infraestrutura - um dos pesadelos das empresas no País.
Sem ferrovias suficientes e com as estradas em condições precárias, qualquer eficiência conseguida dentro da fábrica é achatada pelos custos logísticos. A Weg, multinacional presente em 11 países, sabe bem o que isso significa. "Nos Estados Unidos, um caminhão consegue percorrer 400 quilômetros (km) num dia. Aqui, conseguimos só 45 km", diz o superintendente administrativo e financeiro, André Luis Rodrigues. Ele destaca que o descumprimento de prazos acarreta multas à empresa, já que o atraso pode comprometer o andamento de um projeto.

Baixo investimento agrava situação

Parte dos problemas enfrentados pelo Brasil é resultado do baixo investimento nos últimos anos - no primeiro trimestre de 2016, ficou em 16,9% do PIB (na China, é de quase 50% e na Índia, 33%). "Menos investimentos significa menos produtividade, do trabalho e de capital. Apenas a qualificação da mão de obra não é suficiente se a empresa não investe em máquinas modernas", diz o economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Fagundes Cagnin.
O motivo, diz ele, é a elevada taxa de juros no País (hoje 14,25% ao ano), que desestimula projetos de expansão e melhorias de eficiência. "Há uma drenagem de recursos que poderiam ir para a produção e vão para o mercado financeiro."
Na avaliação do vice-presidente sênior da Basf, Eduardo Leduc, da Unidade de Proteção de Cultivos, o baixo investimento do Brasil é decorrente da falta de previsibilidade e de um plano de governo que indique a direção do País. "Temos feito investimentos elevados, mas poderíamos trazer ainda mais recursos se as condições fossem mais favoráveis. Na disputa com outros países por dinheiro, às vezes a gente perde."
Mas, assim como há entraves da porteira para fora, também há problemas da porteira para dentro das fábricas. E uma delas é a gestão ultrapassada de muitas empresas, que continuam administrando os negócios como em décadas passadas. Falta educação para os gestores adotarem práticas modernas de gerenciamento e conseguir elevar o padrão da companhia, afirma o coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, Naercio Menezes Filho.
O quadro da produtividade brasileira é ainda mais dramático quando comparado com outros países. Atualmente, até a China tem se aproximado do Brasil. Neste ano, um trabalhador chinês vai produzir US$ 25.198. "Estamos ficando cada vez mais para trás e isso é resultado do processo de desindustrialização no País", diz o diretor da Federação das Indústrias de São Paulo, José Ricardo Roriz.