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- Publicada em 28 de Julho de 2016 às 21:50

Relações amorosas segundo Murakami

Haruki Murakami nasceu em Kyoto, no Japão, em janeiro de 1949, e tem sido considerado um dos autores mais importantes da literatura japonesa da atualidade. Ele vive nas proximidades de Tóquio, sua obra já foi traduzida para 42 idiomas e recebeu importantes prêmios, como o Yomiuri e o Franz Kafka.
Haruki Murakami nasceu em Kyoto, no Japão, em janeiro de 1949, e tem sido considerado um dos autores mais importantes da literatura japonesa da atualidade. Ele vive nas proximidades de Tóquio, sua obra já foi traduzida para 42 idiomas e recebeu importantes prêmios, como o Yomiuri e o Franz Kafka.
No Brasil, a Alfaguara já editou títulos importantes do autor, como o relato Do que eu falo quando falo de corrida e os romances Caçando carneiros; Dance, dance, dance: Norwegian Wood; Kafka à beira-mar; a trilogia 1984 e O incolor Tsukuru Tazaki e seus anos de peregrinação.
Homens sem mulheres (Alfaguara, 240 páginas, tradução de Eunice Suenaga), lançado há poucos meses no Brasil, apresenta sete contos, sete narrativas sobre relações amorosas a partir de ângulos diversos, trazendo o estilo único e intransferível deste autor que está entre os melhor do mundo em termos de sua geração, segundo muitos. O autor, com sua prosa densa, sutil, delicada e precisa, muito ao estilo da tradição nipônica, mas com sopro de renovação, revela o isolamento e a solidão que andam em meio às histórias de amor. Mal-entendidos, finais de relacionamento, amores não-correspondidos, fantasmas do passado e a paixão vivida como doença estão nas narrativas, assim como o homem que encontra uma mulher motorista para levá-lo a conhecer Tóquio; lembranças de um primeiro amor e um inseto que se transforma em Gregor Samsa no conto Samsa apaixonado.
Mas ao fim e ao cabo, como seria de se esperar, as verdadeiras protagonistas das histórias são as mulheres, que misteriosamente invadem as vidas dos homens e desaparecem, deixando aquelas marcas inesquecíveis que serão lembradas em meio a canções, cigarros, bebidas, saudades, amor e recordações, muitas recordações. "Um dia, de repente, você vai ser um homem sem mulheres", está escrito lá na contracapa.
Nas linhas finais do último conto do volume, estão as palavras: "Como um dos homens sem mulheres, eu rezo do fundo do coração. Parece que não há nada que eu possa fazer agora a não ser rezar. Por enquanto. Possivelmente".
Os leitores encontrarão referências a Kafka, Ernest Hemingway, às narrativas de Sherazade em As mil e uma noites e muitas referências musicais. Na apresentação, aliás, está dito que se este livro fosse um álbum de música, seria uma mistura de Sgt. Peppers (Beatles) e Pet Sounds (The Beach Boys).
Enfim, com sua habilidade de criar mundos próprios e com seu talento narrativo, nas sete narrativas, com olhares diversos, o autor variou com criatividade sobre o mesmo tema, o amor, o tema de sempre, o maior tema.

Feminismos

Em meio a tantos sons, palavras, imagens, "faces", "books", vídeos, pessoas falando de tudo, toda hora, em todo lugar, por todos os meios possíveis e muitas vezes ao mesmo tempo, num domingo à tarde, na hora da sobremesa, ganhei um docinho da Globonews. Não assisto muito a programas de TV, com exceção do Manhattan Connection, noticiários, reportagens, filmes e uns outros que não me lembro.
Leila Sterenberg entrevistava Madame Nathalie Loiseau no programa Milênio, no Rio de Janeiro, onde ela veio palestrar no Dia da Mulher. Nathalie foi diplomata durante 26 anos com atuação como porta-voz da Embaixada da França para os Estados Unidos durante a guerra do Iraque. Foi diretora-geral no machista Ministérios da Relações Exteriores da França e, em 2011, foi indicada para ser diretora da lendária Escola Nacional de Administração (ENA), escola que já teve como alunos vários presidentes da república da França.
Autora do livro Choisissez Tout (Escolha tudo), Nathalie fala em feminismos ao invés de feminismo, propõe que as mulheres possam fazer e escolher o que quiserem e lembra que cada mulher é diferente, tem sua vida, seu caminho e seu direito à liberdade de escolha.
Nathalie falou de mulheres em cargos públicos e privados e na política, falou nos estupros, na violência nas ruas e doméstica contra as mulheres em vários lugares do mundo, no Brasil e especialmente na França (onde a cada três dias uma mulher morre nas mãos do companheiro). Nathalie condena, claro, a violência aterradora e os problemas em países como a Índia e propõe novos olhares, nova educação, lembrando que machistas têm mães.
Aos 52 anos, quatro filhos, longa experiência, cabelo, maquiagem e vestido discretos, Madame Nathalie falou com voz suave, mas segura e firme, sobre questões mundiais relevantes. Feminismos em vez de feminismo, propõe, dando ênfase à criatividade, à liberdade, à individualidade e ao direito de escolha das pessoas. O título de seu livro, Escolha tudo (acho que ainda não traduzido no Brasil), aliás, remete, certamente não por acaso, à obra de Santa Teresinha de Lisieux, que disse que escolhia tudo e que não queria ser santa pela metade.
Nathalie admitiu, com humildade e franqueza, dificuldades para conciliar o antigo caos de sua casa com o trabalho e a educação dos quatro filhos. Disse que fez tudo errado, mas com muito entusiasmo. Ela acha que a independência financeira é o fator mais importante para a liberdade das mulheres.
Num mundo com tanta violência, tantas vozes, gritos altos e dissonantes, tantas divergências e tanta falta de lideranças, referências e rumos, a presença de Madame Nathalie é auspiciosa e aponta para novos e bons caminhos para as pessoas e seus relacionamentos. Não é pouco. Ou as pessoas e os países se entendem melhor, ou as coisas vão ficar piores do que já estão. Não é fácil, nunca foi, o ser humano é o que é. Mas mesmo assim, melhor pensar que dá para melhorar.
 

lançamentos

  • A ponta do silêncio (Besouro Box, 88 páginas), da consagrada e premiada escritora e professora Valesca de Assis, autora dos romances A colheita dos dias e A valsa da medusa, entre outros, traz uma trama do passado da pequena cidade de Cruzeiro, com personagens e cenários que poderiam estar em qualquer metrópole, como escreve Jane Tutikian na apresentação.
  • Heidegger - ou as vicisssitudes da destruição (AGE, 198 páginas) do escritor, psicanalista e professor Roberto B. Graña, apresentado por Donaldo Schüller, trata dos problemas da crítica heideggeriana da psicanálise. Martin Heidegger (1889-1976) é considerado o filósofo mais importante do século XX e influenciou toda a filosofia que lhe sucedeu.
  • Noutras esferas (Vidráguas, 112 páginas) do médico, poeta e escritor porto-alegrense Anthero Sarmento Ferreira, apresenta em torno de 100 poemas de ruas, silêncio, amor, almas, vida, loucura, sonhos, ilusões e outros temas eternos. Luiz de Miranda, na apresentação, diz: "abram espaço para este poeta que veio para ficar nos encarnados de nosso peito".

a propósito...

Acho que é fundamental pesquisar as causas e as motivações de tantos estupros, tanta violência nas ruas e nas casas, tanta loucura e tanto terror. Leis severas, policiamento, Ministério Público, justiça, punição, cadeia, prestação de serviços à comunidade, tudo isso é mais do que nunca necessário. Violência, tortura e maus tratos são inadmissíveis e com isso todo mundo (ou quase) concorda. Atacar as causas dos problemões e prevenir os danos é mais eficaz e melhor. Mais diálogo, educação, prevenção e ouvir todos os envolvidos (inclusive os agressores) e saber tudo, para pessoas e mundo mais pacíficos. Tomara que isso não seja sonho de uma noite de verão. Tomara que, conversando, as pessoas se entendam. (Jaime Cimenti)