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Jornal da Lei

- Publicada em 04 de Julho de 2016 às 15:44

Repórter preso em 1987 atribui repressão ao momento político

Repórter do JC foi preso durante manifestação nos anos 1980

Repórter do JC foi preso durante manifestação nos anos 1980


REPRODUÇÃO/JC
Suzy Scarton
No dia 7 de dezembro de 1987, o repórter de Política do Jornal do Comércio Alfredo Daudt deixou a redação rumo à Praça da Matriz para cobrir uma manifestação de servidores e professores que ocorria em frente à Assembleia Legislativa do Estado.
No dia 7 de dezembro de 1987, o repórter de Política do Jornal do Comércio Alfredo Daudt deixou a redação rumo à Praça da Matriz para cobrir uma manifestação de servidores e professores que ocorria em frente à Assembleia Legislativa do Estado.
Na época, atos nas imediações do Palácio Piratini estavam proibidos, e o tumulto se transformou em uma situação de conflito. Assim, cerca de 500 policiais tentaram conter os ânimos.
Ávido por informações, Daudt estava na linha de frente, acompanhando o tratamento dos policiais dispensado aos professores que lá se encontravam. Embora tenha tentado se identificar, Daudt foi imobilizado e preso pela Brigada Militar. Ficou horas dentro de um camburão e chegou a ser levado para a delegacia, mas foi solto depois da intervenção dos editores do JC. Na época, não houve indiciamento. O caso foi resolvido pelo então governador Pedro Simon (PMDB), que chamou Daudt ao gabinete e pediu desculpas pessoalmente.
Agora, 29 anos depois, o Jornal da Lei conversou com o antigo repórter da casa. Atualmente colunista do jornal Mais Garopaba, da cidade homônima em Santa Catarina, Daudt se mostrou surpreso com a atitude do governador José Ivo Sartori (PMDB), que se limitou a justificar e dar razão à atitude da Brigada Militar ao prender Matheus Chaparini, jornalista do Jornal JÁ, de Porto Alegre, durante o exercício da profissão, em meados de junho deste ano.
Jornal da Lei - O senhor foi preso enquanto cobria um protesto de professores. Como isso ocorreu?
Alfredo Daudt - Fui o primeiro jornalista a ser preso depois da ditadura militar e, na época, o sistema de repressão ainda estava armado. Nessa ocasião, fui cobrir um ato dos grevistas do magistério, e a situação evoluiu para um conflito. Para se proteger da Brigada Militar, o pessoal tentou entrar na Assembleia. Eu fiquei na linha de frente, observando como os policiais estavam tratando os manifestantes, era isso que eu queria ver. Foi quando oito policiais me imobilizaram. Não conseguia me mexer e não deixaram que eu me identificasse. Tentei fazê-lo muitas vezes, mas não adiantou, e me jogaram dentro do camburão. Estava muito calor, e eu tenho mais de 1,80 metro, foi bem desconfortável. Depois de um bom tempo, levaram-me ao Hospital de Pronto Socorro para fazer o exame de corpo de delito. Lá, encontrei um conhecido, um chargista famoso na época, o Sampaulo, e ele avisou o Homero Guerreiro, o Euclides Lisboa (na época, o editor-diretor e o secretário de Redação do JC, respectivamente) e a Verinha (Spolidoro, então presidente do Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Estado) que eu tinha sido preso. Quando eles chegaram na delegacia, eu já estava em uma cela. Eles pressionaram os policiais, e acabaram me soltando. É um fato que acontece: às vezes, o jornalista vira notícia.
JL - A partir daí, como o senhor foi tratado pelo Estado? Houve alguma retaliação?
Daudt - Na semana seguinte, o governador Pedro Simon (PMDB) me chamou. Fui até o gabinete dele, no Piratini, e ele me pediu desculpas. A partir daí, ele tomou medidas enérgicas na Brigada Militar para desfazer aquele ranço que o autoritarismo tinha deixado, uma vez que não tratavam ninguém com respeito à dignidade humana durante a ditadura. Simon foi o primeiro governador de oposição a ser eleito, ele entrou e começou essa mudança, algo gradativo. Recebi convites para entrar na Justiça, para criar uma situação conflitante. Mas resolvi aceitar as desculpas do governador. Ele concordou que foi uma ação descabida, desproporcional, e tomou medidas na minha frente. Eu aceitei as desculpas e achei melhor trabalharmos juntos para desfazer esse legado de autoritarismo.
JL - Quando da prisão do repórter Matheus Chaparini, a reação do atual governador do Estado, José Ivo Sartori, foi bem diferente. O senhor acha que algo mudou nesses quase 30 anos?
Daudt - Quando soube desse fato, eu estranhei. Mas acho que esse recrudescimento voltou em decorrência desse golpe (o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, PT) que deram agora. O pessoal da direita se achou no direito de radicalizar. Essa violência foi incentivada pelo golpe, não tenho dúvidas, porque não havia problemas com a polícia. A direita está recolhida, mas quando se vê incentivada, volta com força total. O governador Sartori tentou justificar o injustificável. É profundamente lamentável, mas o que se pode fazer? Eu me decepcionei muito com o PMDB, foi um partido que, ao nascer, aglutinou várias pessoas que resistiram à ditadura, e foi tomado por interesses pessoais. A prova disso é exatamente essa diferença de atitude entre Simon e Sartori, ambos do PMDB.

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