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Agronegócios

- Publicada em 26 de Junho de 2016 às 21:41

Rio Grande do Sul deve colher mais cevada

Segundo a Conab, perspectiva é de uma colheita de 148,4 mil toneladas do grão, em 51,8 mil hectares

Segundo a Conab, perspectiva é de uma colheita de 148,4 mil toneladas do grão, em 51,8 mil hectares


EMBRAPA TRIGO/DIVULGAÇÃO/JC
O frio, sumido nos últimos dois anos e que, neste ano, já deu as caras ainda no outono, deve ajudar a segunda fase da safra gaúcha. Uma das culturas de inverno que mais devem se beneficiar com o clima é a cevada. Em algumas projeções, como a da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção do cereal no Estado pode até dobrar em relação a 2015. A aposta da companhia é de uma colheita de 148,4 mil toneladas, contra 74,3 mil toneladas da última temporada.
O frio, sumido nos últimos dois anos e que, neste ano, já deu as caras ainda no outono, deve ajudar a segunda fase da safra gaúcha. Uma das culturas de inverno que mais devem se beneficiar com o clima é a cevada. Em algumas projeções, como a da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção do cereal no Estado pode até dobrar em relação a 2015. A aposta da companhia é de uma colheita de 148,4 mil toneladas, contra 74,3 mil toneladas da última temporada.
O grande crescimento, porém, não virá de expansão territorial, que deve se manter relativamente estável - a Conab projeta uma elevação de 4,6%, para 51,8 mil hectares, enquanto a Emater prevê uma área de 41 mil ha. Como a semeadura se estende até o fim do mês, a fronteira da cevada gaúcha nessa safra ainda pode mudar, e o valor do cereal está sendo visto com bons olhos pelos agricultores. Em balcão, a saca, segundo a Emater, está cotada em R$ 40,00, equiparada ao trigo.
O que justifica a expectativa para a safra de cevada é, portanto, a produtividade. Ainda de acordo com as projeções da Conab, a colheita deve saltar de 1,5 tonelada por hectare para 2,8 toneladas por hectare. "Todo o cenário é favorável, tem os efeitos do La Niña, o preço é bom, mas como vem de duas safras com dificuldade, o produtor fica precavido", argumenta o engenheiro agrônomo da Emater-RS Alencar Paulo Rugeri, que lembra que, sem os reveses, a safra poderia ser muito maior. Como a perspectiva não era boa, até mesmo achar sementes das culturas de inverno teria ficado mais difícil.
Essa situação, no caso da cevada, é menos relevante. O motivo é que praticamente toda a cevada brasileira é comprada diretamente pelas quatro maltarias instaladas no Brasil, que, até pela escassez estrutural do produto, atuam também como fomentadoras da cadeia, garantindo os insumos. Outra garantia, talvez até mais importante, é a certeza de compra da produção, por preços geralmente pré-definidos.
"Temos um pacote que envolve financiamento de sementes, fertilizantes e a garantia de colocação para a safra sempre que o agricultor produz e a cevada tenha qualidade para a indústria cervejeira", conta o diretor agroindustrial da Ambev, Marcelo Otto. A empresa opera duas das maltarias do País, ambas no Rio Grande do Sul - a Navegantes, em Porto Alegre, e, mais recentemente, a Passo Fundo, no município do Planalto Médio, inaugurada em 2012.
Para abastecê-las, a gigante cervejeira utiliza a cevada produzida no Rio Grande do Sul, além de cereal importado de Uruguai e Argentina. Dependendo da viabilidade dos custos logísticos, em alguns anos, também são trazidas para cá as sacas produzidas em Santa Catarina. Nos outros anos, a produção catarinense é desviada para o Paraná, onde está localizada outra maltaria brasileira, a da cooperativa Agrária, em Guarapuava, que mantém acordo comercial com a Ambev. A quarta maltaria brasileira é controlada hoje pela francesa Soufflet, em Taubaté (SP), e há uma quinta em construção em Araucária (PR), que será operada pelo Grupo Petrópolis.
Otto afirma que, apesar das quebras nos últimos anos, a previsão da empresa é de que cresça em algum nível a área plantada com cevada em relação a 2015. A expectativa de uma primavera seca, com menos risco de complicações na colheita, ajuda nas boas previsões para a produção.
A cevada que não pode ser utilizada para a fabricação de cerveja, por conta da qualidade, geralmente tem como destino a ração animal. A quantidade descartada pelas maltarias, segundo o pesquisador da Embrapa Trigo Euclydes Minella, varia de 5% a 60% da produção, com média em torno de 20%.

Pesquisa compartilhada é um dos caminhos para a autossuficiência na produção do cereal

A relação próxima entre produtores de cevada e maltarias traz uma particularidade ao cereal: a pesquisa é diretamente ligada ao mercado comprador. A indústria do malte atua tanto no desenvolvimento próprio de novas variedades quanto no apoio técnico e financeiro à criação de cultivares pela Embrapa.
Embora já tenham sido utilizadas 15 cultivares desenvolvidas no País, segundo o pesquisador da Embrapa Trigo, Euclydes Minella, argumenta que poucas são cultivadas simultaneamente a cada safra, e a substituição é constante. O motivo é que não há mistura de variedades no processo de malteação. Há hoje três novas cultivares (BRS Itanema, BRS Korbel e BRS Quaranta), que estão em processo de substituição das então dominantes.
O objetivo das empresas é atingir a autossuficiência da cevada no País, algo ainda distante por conta da expansão da capacidade industrial de malteação. "É possível, mas passa por ter o produtor correto, nas regiões corretas, com as variedades adequadas", defende o diretor agroindustrial da Ambev, Marcelo Otto.
Para Minella, a autossuficiência passa pela expansão da fronteira da cevada, hoje restrita à Região Sul e a São Paulo. "Principalmente no Brasil Central, onde a cevada pode ser cultivada com irrigação e menor risco de perdas por excesso de umidade", argumenta. O desafio é a competição interna com o trigo e externa com o cereal do Mercosul. A produtividade potencial do Brasil, acima de 3 mil quilos por hectare, seria menor apenas do que a dos grandes produtores europeus, que cultivam apenas lavouras de inverno.