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Cinema

- Publicada em 30 de Junho de 2016 às 22:26

Comédia involuntária

Hélio Nascimento
Uma visita, depois de algum tempo, ao terreno onde pontificam as grandes produções norte-americanas da atualidade, ao cenário no qual obras voltadas a narrativas de ação tomam conta de parcela expressiva das salas exibidoras, permite a constatação de que o nível diminuiu ainda mais. O processo de infantilização do cinema - o que não significa dizer que filmes que tenham por objetivo fascinar as crianças sejam obras sem importância - parece estar cada vez mais acentuado. Não é apenas o cinema a ter parte de sua produção marcada pela diluição de temas graves, pela superficialidade com que dramas são abordados. Se a arte das imagens em movimento necessita, para economicamente sobreviver, procurar uma forma de expressão na qual conflitos e ameaças se concretizam na tela da maneira simplória para que um número grande de espectadores consiga acompanhar determinadas narrativas, então é sinal de que algo grave está se formando. Um filme como Independence Day: o ressurgimento é bastante revelador não apenas de uma tendência de parte da produção cinematográfica atual. Ele é mais do que isso, ao evidenciar a ausência de qualquer tentativa de enriquecer um gênero e revelar em quase todas as suas cenas uma total falta de criatividade e inteligência. A prova disso é que o filme não é um prolongamento do primeiro. Trata-se de uma volta a praticamente tudo que já havia sido filmado antes.
Uma visita, depois de algum tempo, ao terreno onde pontificam as grandes produções norte-americanas da atualidade, ao cenário no qual obras voltadas a narrativas de ação tomam conta de parcela expressiva das salas exibidoras, permite a constatação de que o nível diminuiu ainda mais. O processo de infantilização do cinema - o que não significa dizer que filmes que tenham por objetivo fascinar as crianças sejam obras sem importância - parece estar cada vez mais acentuado. Não é apenas o cinema a ter parte de sua produção marcada pela diluição de temas graves, pela superficialidade com que dramas são abordados. Se a arte das imagens em movimento necessita, para economicamente sobreviver, procurar uma forma de expressão na qual conflitos e ameaças se concretizam na tela da maneira simplória para que um número grande de espectadores consiga acompanhar determinadas narrativas, então é sinal de que algo grave está se formando. Um filme como Independence Day: o ressurgimento é bastante revelador não apenas de uma tendência de parte da produção cinematográfica atual. Ele é mais do que isso, ao evidenciar a ausência de qualquer tentativa de enriquecer um gênero e revelar em quase todas as suas cenas uma total falta de criatividade e inteligência. A prova disso é que o filme não é um prolongamento do primeiro. Trata-se de uma volta a praticamente tudo que já havia sido filmado antes.
O cinema destinado a grandes plateias tem seu passado glorioso. Não é questão de saudosismo, pois alguns deles foram recentemente produzidos. Ninguém poderá negar, por exemplo, méritos nas três primeiras partes filmadas - na verdade os capítulos 4, 5 e 6 - da série Guerra nas estrelas. E não é possível retirar E.T.- O extraterrestre do espaço ocupado pelas obras mais significativas sobre a imaginação infantil e seus nem sempre harmônicos encontros com o mundo adulto. E a trilogia sobre Batman realizada por Christopher Nolan só não é um ensaio sobre temas de nossa época - entre eles a corrupção - para os que não reconhecem no desenrolar de imagens numa tela uma forma de expressão tão poderosa como as de outras artes. Porém, o que se tem visto na maioria dos chamados blockbusters é uma utilização exagerada de efeitos especiais, que por vezes transformam os personagens em riscos na tela, acompanhados de explosões sonoras que são utilizadas para esconder a pobreza dos roteiros e da encenação. Mais grave ainda é a submissão de alguns, que tratam tais filmes com a seriedade que eles certamente não merecem. Seria melhor que tais propostas fossem vistas como instrumentos destinados a impor uma visão de mundo maniqueísta e simplória.
O diretor Roland Emmerich vem contribuindo para tal tipo de cinema e quando, há vinte anos, realizou o primeiro Independence Day conseguiu alguma repercussão com uma espécie de variação sobre A guerra dos mundos. Mas é só ver o filme que Steven Spielberg realizou a partir de livro de H.G. Wells para que seja percebida a diferença entre um cineasta e um simples manipulador de imagens, um criador de comédias involuntárias, tal o ridículo de algumas situações. Para que o tempo não seja inteiramente perdido é interessante verificar como certos interesses se transformaram. No mundo focalizado neste novo relato sobre a resistência diante de invasores vindo de mundos distantes, os chineses se transformaram em aliados dos Estados Unidos e até um romance acontece para que tal fato seja devidamente ressaltado. O filme chega mesmo a prever a vitória de Hillary Clinton, enquanto traz de volta a figura do herói presidente visto no primeiro filme. O discurso do relato anterior é repetido e não apenas na sequência inicial, pois o ouvimos novamente, agora pronunciado pelo novo presidente no epílogo. Não se trata apenas de um determinado país, pois o filme repete a técnica de colocar cenas espalhadas pelo mundo. Mas esta guerra contra uma ameaça aparentemente invencível será liderada pelo país que antes já havia salvado a humanidade. E ainda somos ameaçados por um novo filme, este a ter como cenário o universo. E os que tiverem paciência terão de ouvir outra vez piadas sem graça e situações que não ultrapassam o nível de caricaturas esboçadas por mãos e cérebros sem talento.
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