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Cinema

- Publicada em 12 de Junho de 2016 às 18:49

Um novo herói

O diálogo proposto por Thomas Salvador, o diretor e principal intérprete de Tudo sobre Vincent, com as narrativas sobre figuras heroicas e dotadas de superpoderes, não se limita a citações e referências. O filme, que é o primeiro longa-metragem na carreira do cineasta, também se articula sobre uma proposta que, ao mesmo tempo que compartilha elementos originais daquelas coloca na tela um tipo diferente de justiceiro, ao mesmo tempo em que focaliza suas ações sem utilizar o artificialismo repetitivo dos efeitos especiais. A brincadeira que é feita no trailer do filme não é apenas uma chamada promocional. Realmente, eis um filme cujo realizador pode se orgulhar por não transformar seu personagem em uma figura de jogo eletrônico. É verdade que em alguns momentos certos recursos são empregados, mas nada que se transforme em elemento que apenas exerce o papel de transformar um filme em espetáculo primário de ilusionismo. Os avanços tecnológicos permitiram ao cinema nas últimas décadas uma aproximação com figuras que antes sofriam na tela grande com as limitações ainda não superadas. O Superman dirigido por Richard Donner, o díptico sobre Batman assinado por Tim Burton e a trilogia sobre a mesma figura realizada por Christopher Nolan são trabalhos bem acima da média, mas poucos foram os que, depois, não escaparam das facilidades e do artificialismo. Salvador tem o mérito de procurar algo diferente e transformar o tema do heroísmo em resposta não apenas a um cinema dominado pela mediocridade. Seu filme também se destaca por outros motivos.
O diálogo proposto por Thomas Salvador, o diretor e principal intérprete de Tudo sobre Vincent, com as narrativas sobre figuras heroicas e dotadas de superpoderes, não se limita a citações e referências. O filme, que é o primeiro longa-metragem na carreira do cineasta, também se articula sobre uma proposta que, ao mesmo tempo que compartilha elementos originais daquelas coloca na tela um tipo diferente de justiceiro, ao mesmo tempo em que focaliza suas ações sem utilizar o artificialismo repetitivo dos efeitos especiais. A brincadeira que é feita no trailer do filme não é apenas uma chamada promocional. Realmente, eis um filme cujo realizador pode se orgulhar por não transformar seu personagem em uma figura de jogo eletrônico. É verdade que em alguns momentos certos recursos são empregados, mas nada que se transforme em elemento que apenas exerce o papel de transformar um filme em espetáculo primário de ilusionismo. Os avanços tecnológicos permitiram ao cinema nas últimas décadas uma aproximação com figuras que antes sofriam na tela grande com as limitações ainda não superadas. O Superman dirigido por Richard Donner, o díptico sobre Batman assinado por Tim Burton e a trilogia sobre a mesma figura realizada por Christopher Nolan são trabalhos bem acima da média, mas poucos foram os que, depois, não escaparam das facilidades e do artificialismo. Salvador tem o mérito de procurar algo diferente e transformar o tema do heroísmo em resposta não apenas a um cinema dominado pela mediocridade. Seu filme também se destaca por outros motivos.
O cinema francês sempre se destacou pelo fascínio diante da palavra. Sem produzir o que críticos de outra época chamavam de cinema literário, os maiores cineastas da França sempre viram no diálogo ou na narrativa uma forma de exaltar a palavra. Mestres como Renoir, revolucionários como Resnais e provocadores como Godard, todos eles sempre deixaram claro que a palavra era o ponto de partida. Resnais chegava a dizer a seus roteiristas que não se preocupassem com cinema e escrevessem como se estivessem elaborando um romance. O surgimento de um cineasta como Jacques Tati foi, portanto, algo surpreendente. Salvador, sem qualquer dúvida, paga tributo a este gênio da comédia. Seu filme praticamente não tem diálogos. Define o absurdo do mundo através de situações contempladas ou vivenciadas por seu protagonista, um homem tímido, que perambula por um mundo dominado pelo tédio e também pela brutalidade. Além de Tati, outra referência são as comédias silenciosas americanas, pois aqueles policiais que perseguem o herói descendem diretamente dos agentes da lei vistos nos filmes da Keystone. E como se o realizador estivesse constatando que, no mundo de hoje, a figura heroica é dispensável, os créditos finais são acompanhados pelas imagens da floresta, cenário no qual o personagem se refugia.
Outra novidade em Tudo sobre Vincent é que a origem dos superpoderes se encontra em um elemento que faz parte da vida de todos. Na verdade, algo indispensável: a água. Como se um nascimento acontecesse cada vez que o protagonista é por ela tocado, um indivíduo pacato e tímido se transforma numa figura heroica, capaz de desafiar a lei da gravidade e portadora de uma força que o torna um Hércules moderno. O protagonista não necessita de palavras mágicas nem de componentes estranhos à nossa vida: é a água que o transforma e o impulsiona. O herói sempre será um produto dos sonhos humanos. O cinema tem o poder de concretizar o desejo de ver a injustiça ser desfeita pela ação de figuras cujos poderes as transformam em agentes destinados a impor ao mundo os verdadeiros valores. A contribuição de Thomas Salvador a tal tema resulta numa variação que se aproxima, pela simplicidade, à essência de tal fantasia. Um homem descobre que sua relação com a água não se limita a banhos em lagos e piscinas, sendo a fonte de sua energia. E nos créditos finais, depois de atravessar um oceano, ele volta a um cenário distante dos males e das deformações, outra aproximação original com as narrativas tradicionais de um gênero que aqui é contemplado com uma incontestável originalidade. 
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