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Porto Alegre, domingo, 12 de junho de 2016. Atualizado �s 19h51.

Jornal do Com�rcio

Panorama

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CINEMA

Not�cia da edi��o impressa de 13/06/2016. Alterada em 12/06 �s 18h56min

Trago comigo, de Tata Amaral, ganha pr�-estreia em Porto Alegre

Filme Trago comigo, de Tata Amaral, reproduz montagem teatral

Filme Trago comigo, de Tata Amaral, reproduz montagem teatral


JACOB SOLITRENICK/DIVULGA��O/JC
Caroline da Silva
A cineasta brasileira Tata Amaral vem a Porto Alegre amanhã para uma sessão de pré-estreia especial do seu longa Trago comigo, protagonizado por Carlos Alberto Riccelli. Ele faz um diretor de teatro que monta uma peça baseada em suas memórias de militante durante a ditadura militar. Este é um exercício para reconstruir seu próprio passado.
O ator que interpreta o papel de Jaime (nome de guerra de Riccelli) no espetáculo é Felipe Rocha. Ele também participa do evento no CineBancários (General Câmara, 424) na noite desta terça-feira, às 19h. Após a exibição, Tata e Rocha terão um bate-papo com o público sobre o filme premiado. A bilheteria irá abrir às 18h30min para retirada de ingressos. O título entrará na programação fixa da sala a partir de quinta-feira, nas sessões das 15h e 19h, dividindo a sala com Uma noite em Sampa, de Ugo Giorgetti, que será exibido às 17h.
Trago comigo é um exercício duplo de metalinguagem. Além da produção retratar o fazer cênico da montagem teatral, há um "filme dentro do filme". A narrativa começa com Telmo (Riccelli) dando um depoimento para o documentário Olhar para trás, que busca resgatar a história dos desaparecidos do regime, alegando que "o Brasil é um país que não preserva a memória".
O entrevistador pergunta ao protagonista sobre uma mulher da época, Lia, que seria sua companheira. Ele tem um bloqueio na lembrança, e este é o estopim para revisitar sua trajetória via dramaturgia, abordando luta armada e clandestinidade pós-AI-5.
O filme é decorrente do projeto Direções, uma parceria da TV Cultura com o SescTV, de 2009. Tata Amaral conta que se deparou com o tema por uma razão pessoal: "Estava lidando com um trauma relacionado à perda de meu primeiro marido, quando tinha 19 anos". Segundo ela, esta perda nada teve a ver com o período da ditadura civil-militar, já que "era muito pequena nesta época" e sua família não tinha engajamento político.
"Quando comecei a lidar com este trauma, e o esquecimento que a dor havia provocado em mim, percebi o óbvio: enfrentá-los era o primeiro passo para a cura. Assim, quando recebi o convite por parte da TV Cultura para participar do Direções com uma minissérie, decidi que queria trabalhar sobre trauma, esquecimento e necessidade de enfrentamento." A diretora narra que foi o produtor Mathias Mariani que lhe ofereceu a história: "Telmo, um diretor de teatro, percebe, numa entrevista, que se esqueceu de uma parte de seu passado. Resolve fazer uma peça para reinaugurar um teatro, mas também para se lembrar. Telmo, através de fiapos de memória, provoca improvisações dos atores. Estas improvisações, por sua vez, servem de gatilhos para sua memória". O que o dramaturgo lembra aparece no longa em forma da peça já montada. "O passado se transforma no futuro", avalia a cineasta.
Tata diz que, para dar maior consistência à narrativa, resolveu incorporar depoimentos verdadeiros: "No início, se confundem com o depoimento ficcional que Telmo, mas, aos poucos, vão nos contando que aquela memória tem fundamento na realidade e que existem vítimas da tortura e do regime militar que ainda estão vivas para contar a história". Para a realizadora, não se trata apenas de uma obra de ficção: "Fatos aconteceram e não estão tão longe no tempo. Aliás, a reflexão que o filme provoca, infelizmente, está cada vez mais atual".
Conforme a diretora, um aspecto relevante em suas decisões criativas é que ela buscava encontrar uma expressão dramática para expressar a relação problemática que os brasileiros têm com o passado. "Nós colocamos nossos problemas debaixo do tapete, não os enfrentamos. A tortura, que é um crime de lesa humanidade, foi cometida no Brasil desde tempos imemoriais. Durante o período da ditadura civil-militar, foi uma prática de Estado. Nós nunca nos proclamamos contra a tortura. Assim, ela é praticada até hoje. Nossa sociedade aceita a tortura pois nunca a enfrentamos", conclui.
A cineasta acredita também que toda manifestação artística é contaminada pelo seu tempo: "Trago comigo revela este gap, este buraco entre as gerações. O público jovem tem sido super sensível ao longa, tanto que ele ganhou o Prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo". Para Tata, os artistas, como antenas da sociedade, são sensíveis ao que acontece nela. "Acho que as pessoas podem ouvir o que temos a dizer e refletir sobre isso: 'O que os artistas estão vendo que eu não estou?' 'Por que se manifestam desta maneira?' Talvez fosse interessante buscar compreender e não descartar com tanta facilidade", comenta a diretora quando indagada sobre a ampla manifestação dos artistas atualmente, em meio ao processo político brasileiro, em casos como o protesto da equipe do longa Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, ocorrido em Cannes no mês passado.
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