Vislumbrando a importância que Rio Pardo já teve na logística do Estado e o espaço que pode retomar no futuro, o prefeito da cidade, Fernando Henrique Schwanke, espera contribuir para a correção de defasagens históricas que minimizaram a mobilidade da região. Durante o 4º Fórum Internacional de Infraestrutura e Logística, realizado em Porto Alegre, ele demonstrou que há muito a explorar na região, com vantagens que vão muito além do município.
Localizada a 140 quilômetros da Capital, a cidade conta com dois rios que podem fazer a ligação hidroviária com o porto de Rio Grande - um acesso que viabiliza o transporte a menor custo da produção agropecuária. "Rio Pardo foi um porto importante até a década de 1950, e também tinha ferrovia", lembra. "Depois, nos anos 1960 e 1970, por políticas públicas, as hidrovias foram abandonadas."
Tendo como um dos principais produtos locais o tabaco, que em sua maioria é exportado, a cidade também poderia viabilizar a logística dos produtores de outros itens voltados à exportação, como a soja, que vem da Metade Norte do Estado. Schwanke lembra que 85% do tabaco produzido no Brasil é vendido no mercado internacional. "O equívoco da política pública do País foi deixar as ferrovias e as hidrovias para focar tudo nas rodovias", diz. "Isso fez com que cidades como Rio Pardo fossem deixadas de lado."
O que o prefeito deseja para a cidade é que ela se torne um parque industrial hidroviário, onde seria possível escoar 16 milhões de toneladas de soja por meio de um complexo logístico moderno, pelo qual se movimentaria R$ 20 bilhões por ano. Segundo o presidente do Instituto dos Advogados do Mercosul, Marco Antônio Miranda Guimarães, esse seria um investimento capaz de incrementar o PIB estadual em 18%, além de refletir em mais opções de transporte de cargas no Estado.
A proposta que vem sendo debatida entre o setor público e privado contempla a ideia do que Guimarães classifica como um "porto do futuro". Rio Pardo seria sede de um hub logístico multimodal, contemplando o transporte hidroviário, ferroviário e rodoviário. "Se estudou todas as situações para fechar as questões, levando em conta um cenário em que todos ganham", frisa.
O vice-presidente da Federação Nacional das Empresas de Navegação (Fenavega), Fernando Becker, diz que modernizar os portos do Estado, como o de Rio Pardo, aumenta a competitividade gaúcha não só com relação ao mercado internacional mas também dentro do mercado nacional. "O Rio Grande do Sul é o único estado brasileiro que tem ligação hidroviária com seu porto exportador", argumenta, reforçando que a modal hidroviário é o mais seguro, econômico e ecológico para transporte de elevadas cargas.
Apesar dessas vantagens, aprimorar os modelos logísticos, com foco na navegação, depende não só de investimentos em estruturas que estão defasadas, como a melhoria dos equipamentos de carga e descarga, mas de reflexão sobre as cobranças burocráticas.
Becker exemplifica dizendo que a interferência de autoridades na área marinha é ampla, abrangendo inúmeros ministérios controladores de atividades, como o da Defesa (que coordena a Marinha brasileira), Saúde, Fazenda, Transportes, Meio Ambiente e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Outra necessidade é adequar as comportas do Estado para fazer a integração entre as áreas navegáveis. Com boas perspectivas e muito por fazer, o Estado precisará somar esforços para vencer a pesada correnteza que ao longo do tempo relegou as hidrovias.