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projeto aquarius

- Publicada em 27 de Junho de 2016 às 18:17

Parceria revoluciona o campo

Pulverizações mais precisas respondem por uma economia de 10% a 15%

Pulverizações mais precisas respondem por uma economia de 10% a 15%


COTRIJAL /DIVULGAÇÃO/JC
Há pouco mais de 15 anos, as pesquisas sobre agricultura de precisão (AP) eram escassas no Rio Grande do Sul. Um atraso para o Estado que se orgulha da força da sua produção agrícola. Enquanto isso, algumas experiências eram realizadas em São Paulo, pela USP, e no Centro-Oeste do Brasil, pela Embrapa. Em 2000, uma parceria entre indústrias de máquinas e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) mudaria o panorama. O Projeto Aquarius deu início a uma revolução no campo gaúcho ao utilizar e desenvolver tecnologia para mapeamento completo das lavouras.
Há pouco mais de 15 anos, as pesquisas sobre agricultura de precisão (AP) eram escassas no Rio Grande do Sul. Um atraso para o Estado que se orgulha da força da sua produção agrícola. Enquanto isso, algumas experiências eram realizadas em São Paulo, pela USP, e no Centro-Oeste do Brasil, pela Embrapa. Em 2000, uma parceria entre indústrias de máquinas e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) mudaria o panorama. O Projeto Aquarius deu início a uma revolução no campo gaúcho ao utilizar e desenvolver tecnologia para mapeamento completo das lavouras.
As amostragens revelaram, em um primeiro momento, a variação dos atributos de fertilidade e acidez do solo. Ou seja, os principais nutrientes, como o calcário, o fósforo e o potássio, eram encontrados em quantidades diferentes conforme a área analisada. Para corrigir tal situação, entrou em campo um dos mecanismos mais conhecidos da agricultura de precisão: a aplicação de insumos a taxa variada. Trata-se de administrar as doses exatas somente nos locais necessitados, uniformizando os atributos de toda a plantação.
Enquanto a aplicação a taxa fixa apresentava 33% de acerto na dosagem, a variada garantiu quase 100% de eficiência. Com a importação de um sensor da Alemanha, foi possível realizar a mesma metodologia com o nitrogênio. Os resultados dessa primeira intervenção não decepcionaram: houve um incremento entre 5% e 10% na produtividade, comprovando a viabilidade técnica do processo. Entretanto, mesmo com a área corrigida, o rendimento não era equilibrado, pois algumas regiões da plantação produziam mais do que outras.
Posto esse segundo desafio aos pesquisadores, percebeu-se que as baixas produtividades estavam localizadas em pontos de trânsito intenso de maquinário, em cabeceiras e locais de abastecimento. O problema gerado pelo movimento das máquinas é a compactação das camadas do solo, o que impede o desenvolvimento radicular da planta e a infiltração da água
em 20% da área total. Isso significa que as raízes não ficam profundas o suficiente para buscar a umidade acumulada mais abaixo, assim como as precipitações ficam depositadas excessivamente na superfície.
O controle da compactação implica, portanto, em um uso mais eficiente da água, segundo explica o professor da UFSM e coordenador do projeto Aquarius, Telmo José Amado. "Sofremos frequentemente com secas de curta duração durante o verão, o que pode reduzir a produtividade pela metade. Nessa etapa, queremos criar condições para o aprofundamento do sistema radicular, visando buscar água armazenada no subsolo", explica. Por isso, o gerenciamento do tráfego controlado e a correção de camadas subsuperficiais são, atualmente, as questões mais importantes nas pesquisas.
Os estudos passaram por 14 municípios, especialmente no Noroeste do Estado. Paralelamente, duas áreas de referência, uma de 124 e outra de 132 hectares, onde o ciclo completo da AP é realizado, são mantidas na cidade de Não-Me-Toque. As experiências envolvem mais de 40 profissionais da academia e da indústria, além dos agricultores. Forçando a ocorrência de seca nas áreas de referência, a equipe já conseguiu reduzir pela metade os prejuízos causados por deficiência hídrica. "Trabalhamos com uma camada de 40 a 50 centímetros de solo corrigido e livre de compactação", completa Amado.

Pesquisas asseguram nacionalização da tecnologia e agilidade nos processos

Pulverizações mais precisas respondem por uma economia de 10% a 15%

Pulverizações mais precisas respondem por uma economia de 10% a 15%


COTRIJAL /DIVULGAÇÃO/JC
A medida que as pesquisas do Projeto Aquarius avançavam, o desenvolvimento de maquinário foi essencial para superar os novos problemas colocados pela prática de campo. A história da Stara na agricultura de precisão está intimamente ligada à parceria com a UFSM. Provocada pela demanda de diminuir a compactação do solo, a empresa investiu no Escarificador Fox. O equipamento, que serve para remover o terreno duro, permite a intervenção localizada e possui hastes mais estreitas, mantendo em torno de 70% da palhada na superfície, conforme os preceitos do plantio direto.
Além disso, o conceito da aplicação de nutrientes a taxa variada foi adaptado para plantadeiras pela empresa de Não-Me-Toque, tornando possível largar mais sementes em áreas da lavoura com maior potencial de produtividade e menos nas áreas menos produtivas. O aperfeiçoamento dos equipamento levou ainda a substituição de distribuidores centrífugos, que dependem da condição climática, por distribuidores por gravidade. Essa troca, como explica o coordenador de marketing de produto da Stara, William Wagner, permitiu ao agricultor trabalhar diariamente, por exemplo, na correção do calcário.
No caso da semeadura a taxa variável, não é apenas a quantidade de sementes aplicadas que muda. Com a participação da DuPont Pioneer, desde 2012, no Projeto Aquarius, passou a se plantar também variedades diferentes em cada área. "Recomendamos híbridos e populações por zonas de manejo", explica o líder de Agronomia da DuPont Pioneer, Itavor Nummer. Para Nummer, de nada adianta a tecnologia da agricultura de precisão sem sementes de qualidade. "A genética é o veículo da tecnologia mais importante em uma lavoura", afirma.
A pulverização mais precisa, completa o professor da UFSM, Telmo José Amado, é responsável por uma economia de entre 10% a 15% na quantidade de produto administrado. O resultado é alcançado graças a duas tecnologias: o GPS e o desligamento de sessão. O primeiro informa à máquina se ela está transitando por um local onde já houve aplicação. O segundo permite ao operador desativar apenas a parte da barra pulverizadora que está andando sobre essa área. "Isso é importante para o produtor, que não gasta agroquímicos desnecessariamente, e para o meio ambiente", afirma Amado.
A verdadeira revolução, entretanto, chegaria em 2011, quando a Stara lançou o primeiro controlador de agricultura de precisão 100% nacional. Antes, toda a parte eletrônica dos equipamentos era importada. Depois, tornou-se possível adequar o software às funcionalidades da máquina sem depender de empresas estrangeiras. "Uma alteração que precisava de três anos para ser realizada, passou a ser feita em dois dias dentro da Stara", resume Wagner. Vantagem também para os operadores, pois saíram cinco telas importadas cada uma em uma língua, como russo, alemão ou inglês, e entrou uma tela em português para todas as ferramentas.
A tendência é a continuidade da inovação tecnológica, principalmente com acurácia cada vez maior do GPS e dos dispositivos de telemetria. Os sensores de solo e vegetação e o consequente incremento do detalhamento das condições e atributos da lavoura abrem novas perspectivas. Conhecedor da fertilidade, da condutividade elétrica, da biomassa e mapeando a colheita, o agricultor está apto a tomar decisões ágeis e corretas. "Começamos a entender que fazer fertilização a taxa variada fosse talvez 10% da agricultura de precisão. Caminhamos para a Big Data do campo, quando vamos jogar todas essas informações para a nuvem e tomar decisões em tempo real", projeta Wagner.

Cooperativas fazem ponte junto aos produtores

Pulverizações mais precisas respondem por uma economia de 10% a 15%

Pulverizações mais precisas respondem por uma economia de 10% a 15%


COTRIJAL /DIVULGAÇÃO/JC
Comprovada a eficácia da metodologia, o Projeto Aquarius tinha outra preocupação técnica e econômica: garantir sua viabilidade em propriedades dos mais diversos tamanhos. Nesse cenário, entra a atuação de diversas cooperativas. Após buscar conhecimento junto à academia e à indústria, a Cotrijal, de Não-Me-Toque, uma das maiores do Estado, assumiu o papel de fazer a ponte junto aos agricultores e lançou, em 2007, o Projeto Ciclos. Não à toa, em 2009, a cidade foi agraciada com o título de capital brasileira da agricultura de precisão.
Em 2010, o trabalho ganhou o status de programa, passando a ser considerado um serviço oficial oferecido a todos os associados, seja para pequenas, médias ou grandes plantações. A primeira aquisição foi um caminhão distribuidor para aplicação de calcário, fósforo e potássio a taxa variável. Seis anos depois, entre 380 e 400 produtores são atendidos em uma área de 35 mil hectares. Tudo com o apoio de sete caminhões próprios e outros sete terceirizados, dois quadriciclos próprios para amostragem de solo e mais oito terceirizados.
Segundo o analista de produção da Cotrijal, Leonardo Kerber, os associados que contratam o serviço possuem uma produtividade, em média, entre 9% e 10% maior. "A partir de 2013 a adesão tem aumentando e já contamos com 30% da área de cobertura da Cotrijal trabalhando com agricultura de precisão", conta. A taxa de precisão na aplicação de fertilizantes em relação à necessidade de cada área no projeto da cooperativa da região Noroeste gira entre 95% e 98%. "Beneficia desde o pequeno e médio produtor que não tem capacidade para adquirir o equipamento até o grande, que precisa do conhecimento", explica Kerber.
O incentivo do Projeto Aquarius garantiu que outras 13 cooperativas comprassem equipamentos e criassem seus próprios programas de agricultura de precisão. De acordo com o professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador do Projeto Aquarius, Telmo José Amado, a produtividade média de soja nessas associações é de 65 sacos de soja, contra 50 sacos de média do Rio Grande do Sul. "A produtividade de soja aumenta entre um e meio e dois sacos por ano, o que significa que essas cooperativas estão pelo menos sete anos na frente da média do Estado", destaca.
Quem está vendo esses resultados no dia a dia do campo é o agricultor Giordano Schiochet, de Não-Me-Toque. Por meio da Cotrijal, começou coletando amostras de solo em profundidades de até 10 centímetros, em uma área de 30 hectares, há sete anos, para realizar a uniformização dos nutrientes. Logo depois, o estudo passou a ser feito em camadas distantes 20 centímetros da superfície e, hoje, são 366 hectares de área plantada de soja e milho, no verão, e 20% de milho, trigo, cevada e aveia para cobertura de inverno se valendo de tecnologia.
Para Schiochet, devido ao custo do maquinário, a parceria entre associados e cooperativas garantiu a aplicação em qualquer tipo de propriedade. "No nosso caso, a Agricultura de Precisão permitiu realizar o uso racional dos insumos, gerando economia, e também proporcionando uma maior estabilidade de produção sob condições de estresse", explica. Além da Agricultura de Precisão, o produtor atribui o incremento de produtividade ao melhoramento genético dos cultivares, a adequação do manejo fitossanitário e o aperfeiçoamento da semeadura. "Aliado ao trabalho de agricultura de precisão, é importante destacar a preocupação com a conservação do solo", completa.