Em seu primeiro discurso à frente do Itamaraty, o ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), apresentou 10 novas diretrizes para o órgão e afirmou que o País deixará de guiar sua diplomacia por interesses "de um governo ou um partido" em favor das prioridades do "Estado e da nação". Serra afirmou que o Brasil passará a priorizar acordos bilaterais e fez uma menção específica à Argentina como parceiro preferencial na América Latina.
O ministro disse que o multilateralismo priorizado pelo País na última década fracassou e deixou o Brasil fora dos acordos bilaterais que alçaram economias de outras nações. No discurso, também procurou neutralizar os temores de que terá foco apenas no comércio exterior e disse que a pasta não abandonará as "tradições diplomáticas".
Num recado claro a países como a Venezuela, disse que o Itamaraty será vigilante a violações da "democracia, liberdades e direitos humanos em qualquer país". Ele ainda prometeu que atuará fortemente em fóruns de discussão sobre o meio ambiente e destacou que o Brasil deve liderar as decisões nessa área por ter em seu território a Amazônia e a maior reserva de água doce do mundo. Segundo ele, investimentos nessa área podem trazer recursos de instituições internacionais preocupadas com a questão.
O chanceler fez um forte aceno ao corpo diplomático e servidores do órgão ao prometer se esforçar para tirar o Itamaraty do estado de "penúria" no qual ele se encontra. Em sua fala, mencionou as dificuldades financeiras do órgão e brincou com o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), a quem reivindicou a destinação de mais de R$ 800 milhões para pagar contas atrasadas.
As 10 diretrizes
- Refletir de modo transparente os valores da sociedade brasileira e os interesses de sua economia.
- Defesa da democracia, das liberdades e dos direitos humanos em qualquer país, em qualquer regime político.
- Brasil assumirá a especial responsabilidade que lhe cabe em matéria ambiental, como detentor na Amazônia da maior floresta tropical do mundo.
- Atuar por uma ação construtiva em favor de soluções pacíficas e negociadas para os conflitos internacionais.
- Brasil não mais restringirá sua liberdade e latitude de iniciativa por uma adesão exclusiva e paralisadora aos esforços multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio.
- Dar início a processo de negociações comerciais, para abrir mercados para as nossas exportações.
- Foco na parceria com a Argentina e renovação e correção de rumos do Mercosul.
- Ampliar o intercâmbio com parceiros tradicionais, como a Europa, os Estados Unidos e o Japão. A troca de ofertas entre o Mercosul e a União Europeia será o ponto de partida.
- Será prioritária a relação com parceiros novos na Ásia, em particular a China e a Índia.
- Nas políticas de comércio exterior, o governo terá sempre presente a advertência que vem da boa análise econômica, apoiada em ampla e sólida consulta com os setores produtivos.