Presidente cancela gesto de descer rampa do Planalto

A presidente Dilma Rousseff (PT) pediu a auxiliares que suspendam a cerimônia de descida da rampa do Palácio do Planalto caso o Senado aprove o impeachment contra ela. A votação está marcada para hoje, e ela própria avalia que seu afastamento por até 180 dias é irreversível.

A avaliação do governo é de que a imagem de descer a rampa pode ser interpretada como "capitulação" e "entrega" do governo para o vice Michel Temer (PMDB). Dilma, ao contrário, quer passar a ideia de que a gestão Temer é ilegítima e que estará fora apenas por um período.

Uma reunião ministerial foi marcada para hoje, quando Dilma vai agradecer a todos os auxiliares e dizer que resistirá ao "golpe". "Jamais a renúncia passou pela minha cabeça", afirmou ela ontem, ao participar de uma solenidade com mulheres, que pode ser seu último evento público como presidente.

Diante da plateia formada por militantes, ela repetiu que continuará a lutar em defesa de seu mandato. "Não estou cansada de lutar, estou cansada dos desleais e dos traidores. Mas esse cansaço impulsiona a mim a lutar ainda mais", disse Dilma, ao abrir a 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) agora quer que o PT e a presidente montem uma espécie de governo paralelo, com núcleos temáticos, para fiscalizar a gestão Temer, nos moldes dos que os ingleses chamam de "shadow cabinet". O plano é aproveitar o conhecimento da máquina pública obtido nestes 14 anos de governo do PT, e a permanência de quadros partidários na estrutura do Estado, para fazer uma "devassa" no governo Temer.

Ainda ontem, Dilma também limpou suas gavetas no gabinete. Despachou livros, fotos da filha Paula e dos netos, lembranças e as três imagens de Nossa Senhora que mantinha sobre sua mesa.